"Há «xiconhocas» na FRELIMO"

JORGE REBELO, CLÁSSICO "DISCÍPLO" DE SAMORA E "FRELIMISTA DA PRIMEIRA LINHA", PARTE LOUÇA

O MIRADOUR(O)NLINE pode revelar que o autor do poema que apelou pureza e justiça dentro dos combatentes da Luta de Libertação Nacional, hoje diz que os xiconhocas - cujo comportamento quis combater com caricatura que ele estima - já são a maioria e questiona se vale a pena continuar a combatê-los. Rebelo, num discurso claro e directo, indica que actualmente há poucos "samorianos clássicos" e tem certeza que muitos militam na FRELIMO só para ter vida fácil e critica a apatia crescente da actual OJM que já não consegue mobilizar massas como dantes...
AT Cachuada Antigo combatente e um dos últimos "dedo duro" e clássicos da FRELIMO, Jorge Rebelo disse, esta sexta-feira em Maputo, estar preocupado com o elevado índice de corrupção e apatia da juventude no país o que contraria os ideais de Samora e do partido que, ao pegar na arma, quis libertar a terra para que o homem (no caso o povo] tivesse acesso ao bem-estar. Ele acredita que isso não está a acontecer.
"Há medo em confrontar chefes corruptos", afirmou Rebelo, sublinhando que fica escandalizado quando vê chefes que enriquecem." Onde eles arranjam dinheiro?", questionou, auto-respondendo que" não sei, não me perguntem".
Jorge Rebelo sabe que existem, no país, pessoas que dizem não existir corrupção. Para essas pessoas, segundo o orador, o que há em Moçambique não passa de "insuficiência, incompetência, roubos, erros de aplicação de fundos".
Seja o que for, uma coisa o membro sénior da FRELIMO acredita: os corruptos, sejam eles escondidos sob a capa de maus gestores, desviadores de fundos e ineficientes, já são a maioria.

DIABOS DE HOJE FORAM SANTOS DE ONTEM
Essa ironia não é vã: Rebelo explica que criou a caricatura do senhor "xicohnoca" para ajudar a denunciar a corruptela preguiça, boato, candonga que caracterizou o período pós-independência. Trinta e dois anos, eis que esses "xicos" se reproduziram, se multiplicaram e encheram todo o Moçambique. " Há muitos "nhocas"juniores", filhos de "xico".
Visivelmente amargurado, o membro do comité central da FRELIMO questionou se valia a pena lutar contra eles." Não, já não vale a pena", disse, justificando que eles já são a maioria no seio do Partido-Governo. Ainda, deu "TPC" à juventude para responder a tamanha preocupação nacional, que recorrendo a recortes da imprensa daqui e dali, o membro sénior do Comité Central da FRELIMO concluiu ser grave. "Cristo só tinha doze apóstolos", disse Rebelo, quem elegeu os cerca de 30 jovens para serem os seus discípulos e espalhar a sua palavra de purificação.
Aquele modo de evangelizar era duro. Era como se o "camarada Rebelo estivesse a ensinar pai-nosso ao diabo," afirmou, peremptoriamente um jovem ligado à OJM, consciente da em incutir na camada juvenil a necessidade de dar continuidade aos ensinamentos da FRELIMO de Samora.
Ainda nas matas da guerra, visando purificar as fileiras, Rebelo escreveu: " Não basta que seja pura e justa a nossa causa. É preciso que a pureza e justiça exista dentro de nós". O evangelho de ontem pode ser usado para assuntos de hoje? "Eu não sei," responderam jovens ouvidos pelo" Pátria", que alegaram que "se o camarada sénior duvida, quem somos nós para o afirmar".
Houve festa pela Morte de Samora
Não são todos os dias que se tem a oportunidade de dialogar com frelimistas convictos como Rebelo. Por isso, muitos jovens quiseram saber as causas da morte trágica do "mestre" Samora. " Não sei", respondeu. E devolveu a pergunta: "porquê não procura saber quem mandou matar Samora, Carlos Cardoso, Siba-Siba?" Pediu para que não fosse inquirido sobre os [co)mandantes dessas mortes."
Mas uma coisa disse ter certeza: " o Apartheid é autor material da morte de Machel". Como o é também o Anibalizinho. "O resto, não sei. Não me perguntem". Para ele, seria bom que esses mandantes fossem revelados para evitar especulações.
Porém, Rebelo disse que, no dia que Samora morreu, há gente graúda ligada à FRELIMO que festejou. "Não me perguntem porquê, porque eu não sei".

Origem da camaradagem

Se é que os corruptos se tornaram a maioria, vale a pena continuar a lutar com eles?" Não, não vale a pena", diz aquele que hoje é o ícone dos poucos - e últimos verdadeiros "apóstolos" de Samora.
O antigo combatente da Luta de Libertação Nacional teve que recuar no tempo e no espaço para explicar génese desses "xicos". Disse que, tendo se notado haver no seio da FRELIMO "judas", não houve outra alternativa senão separá-los dos verdadeiros combatentes.
E a segunda Conferência Nacional de quadro da Frelimo, realizada em Nachingueia, Tanzânia, terá sido, de acordo com Rebelo, o primeiro palco para separar joio do trigo que já se notava dentro da FRELIMO. Assim seriam chamados camaradas aqueles combatentes que tinham pureza e justeza dentro de si. Aos outros " passamos a chamá-los simplemesmente reaccionários".
Transcorrido esse longo tempo, hoje Rebelo diz ter dificuldades em chamar "camarada" seja a quem for. "Mesmo vocês que estão aqui , será que posso vos chamar camaradas?",Ele disse que " Não, acho que não".
Explicou que o termo camarada generalizou-se de tal forma que no seio do Partido FRELIMO militam indivíduos que se escondem nesse termo para ter vida fácil.
Fonte: PÁTRIA / M I R A D O U R (O)NLINE - CANAL NOTICIOSO - MOÇAMBIQUE - MMVII