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VOA News: África

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O monstro misterioso Ele faz lembrar “o homem do saco”, aquele de quem se diz que “ele vai te comer”.

Lide Lidima
Por Afonso dos Santos
Também pode fazer lembrar "o papão" ou "o bicho de sete cabeças". Ele é muito ameaçador e nunca faz nada de bom. É ele o causador de todos os males. Aparecem – ou são nomeadas – umas pessoas boazinhas, muito competentes, cheias de boas intenções, que querem resolver problemas da sociedade, mas o malvado não deixa. Quem é esse monstro misterioso? É o sistema!
É muito engraçado quando homens adultos, crescidos, de barba rija, vêm apresentar explicações sobre as causas dos fenómenos, que parecem mais apropriadas para aquelas histórias destinadas aos meninos à volta da fogueira. Vêm dizer que mudar pessoas não resolve os problemas, porque o culpado é o sistema. Mas nunca explicam o que é isso do "sistema", e que "sistema" é esse. Será que é algo que "o homem do saco" traz consigo? Será que o sistema é uma teia de aranha escondida no saco? Nesse caso, é muito importante saber se a aranha está lá dentro do saco, a ampliar e reforçar a sua teia, ou se é uma teia de aranha já abandonada. E, nesse caso, se ela não está lá, por onde será que anda a aranha?
É claro que, se as pessoas são trocadas por outras iguais às que lá estavam, nada poderá mudar. Há mudanças de pessoas que parecem simples rotação de peças dum lado para o outro, mas mantendo sempre todas as peças dentro do tabuleiro. Também há nomeações que parece que não servem para mais nada, senão para que o nomeado esteja lá um tempo no lugar, para adquirir propriedades e criar os seus negócios e empresas, e depois de já se ter locupletado, então dá lugar a outro, para o outro ir lá fazer o mesmo.
Depois há quem vem dizer que essas pessoas são muito competentes, mas o tal monstro misterioso – o sistema – é que não os deixou fazer nada. Este género de competência faz lembrar aquelas equipas de futebol que declaram sempre que jogaram melhor, após cada sucessiva derrota diante do adversário. E é mais ou menos como a competência desses analistas credenciados e desses académicos encartados: seria de esperar que se apresentassem sendo portadores duma quantidade de leitura, uma amplitude de estudo e uma profundidade de reflexão que fosse mais além do que aquela que é possuída pelos cidadãos que vivem ocupados noutros afazeres, e que se juntam ao fim do dia para um bate-papo de café.. Mas, infelizmente, não é isso o que acontece; esses compatriotas cerebrais, com lugar reservado nas televisões e nos jornais, não conseguem ir além da explicação baseada no monstro misterioso. Nem explicam o que é o tal sistema, e, muito menos, como, e o que é necessário para fazê-lo mudar. E, como conclusão final, produzem uma descoberta sensacional: a de que é preciso fazer um análise mais profunda.
A primeira análise chega à conclusão de que a culpa é do sistema. E de que é necessária uma análise mais profunda. A segunda análise, mais profunda, chegará à conclusão de que a culpa é do processo do sistema. A terceira análise, mais aprofundada, chegará à conclusão de que a culpa é da estratégia do processo do sistema. A quarta análise, ainda mais aprofundada, chegará à conclusão de que a culpa é da axiomática da estratégia do processo do sistema.
Este alto nível de qualidade das conclusões destas análises é o resultado inevitável do que acontece quando as ciências são transformadas em servis e grosseiros instrumentos de publicidade dos chavões políticos que estão na moda, e que são ditados pelo Governo do dia. Assim, depois duma conferência sobre o "Papel Das Ciências No Combate À Pobreza Absoluta", é de esperar que se realize, a seguir, um seminário sobre o "Papel Das Ciências Nas Decisões Tomadas e Nas Decisões Cumpridas (mas nunca: "Nas Decisões Mal Tomadas e Nas Decisões Não Cumpridas). E a seguir, o "Papel Das Ciências
Nesta Pérola do Índico", para dar uma pincelada de poesia nas ciências. E a seguir, o "Papel Das Ciências Na Revolução Verde", neste caso para dar uma pincelada de cor nessas ciências endémicas anémicas. E, finalmente, um colóquio sobre o "Papel das Ciências Nos Sonhos Cor-De-Rosa Dos Balanços Infalivelmente Positivos". Antigamente, após o encerramento de eventos deste tipo, era usual oferecer aos participantes uma recepção ou um almoço ou um lanche ou um jantar ou um cocktail ou um beberete. Mas parece ter-se chegado à conclusão de que essas designações eram o reflexo de mazelas profundas da época do "deixa-andar", e então, realizou-se uma revolução – de que cor? – para instaurar a auto-estima dos moçambicanos e, como resultado dessa revolução, agora, o que acontece depois desses eventos são "sessões de gastronomia". Por isso, é de prever que, na senda do seguidismo canino de vários académicos, em relação ao poder político, e quando já nada restar que se assemelhe à ciência, será então lançado um ambicioso programa integrado, abrangente, holístico, paradigmático e axiomático, que será designado "PaGa_PAPA", que significa o "Papel da Gastronomia nas Posições Assumidas Pelos Académicos". Enfim, é o sistema... Mas qual sistema, afinal?! Bem!, neste caso é o sistema da aldrabice absoluta. E esse sistema só mudará quando todos os homens dos sacos forem colocados a pentear macacos.
Fonte:SAVANA 
 

 

 



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