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VOA News: África

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

As pontes do subdesenvolvimento

Espinhos da Micaia
Por Fernando Lima
Na rádio que todas as manhãs me dá conta das notícias de primeira página do jornal oficioso sem mencionar a fonte, o correspondente diz entusiasmado que a ponte para a Catembe, a ponte sobre a baía de Maputo já tem documentos despachados para a sede do Banco Mundial.
Olho fechado, olho aberto imagino dezenas de Chamanculos crescendo desordenadamente sobre os pântanos salubres da Catembe, agora que está cada vez mais difícil progredir para Magoanine ou Guava, agora que o caos cria cogumelos de pobreza entrincheiradas entre ilhas de prosperidade no Polana Caniço, ostentando nomes apelativos como horizonte belo e rio à janela.
Que impropério digo eu quando um engenheiro de estruturas e betão me dirá, sem quaisquer rodeios, que pontes e estradas são desenvolvimento? Mesmo estremunhado, a meio do primeiro café da manhã, poderia disparar com a ponte para a Ilha de Moçambique, possivelmente um dos maiores disparates já feitos neste país, possivelmente uma das obras que está na base da degradação de uma das referências históricas do país e dos enormes problemas sociais que tem a Ilha. Vem-me aos pensamentos um estudo recente que diz que uma parte dos deputados municipais da Ilha eram (são) desempregados.
Estava eu nas minhas reflexões de pijama e o correspondente dispara mais um entusiasmo: uma ponte sobre a baía de Inhambane, ligando a Maxixe à capital provincial o que, na mesma opinião, "traria desenvolvimento a esta parcela da província". Para quem não conhece a cidade, a sua colocação marginal ao bulício da Estrada Nacional nº. 1, terá porventura poupado uma das poucas capitais de província do país ao vandalismo, desmazelo e destruição acelerada que é comum à maioria das urbes moçambicanas. O lixo e a criminalidade continuam sem serem grandes problemas, as agressões arquitectónicas continuam mínimas, à excepção da ofensiva troglodita de uma operadora telefónica que, com as cumplicidades boçais da edilidade, decidiram desfigurar as cores tradicionais das casas pintadas a ocre e a cal. Nada que uma pintura restauradora não repare quando as consciências crescerem.
Num país que vive de manchetes com crimes horrorosos, grades e cadeados, a ausência da bendita ponte sobre a baía de Inhambane continua a permitir que citadinos e turistas se passeiem à noite, que as portas de rede sem fechadura sejam o único intermediário à intimidade das casas nas noites húmidas de verão.
Numa sociedade que se quer felizmente com menos papéis, é possível reservar o tal "desenvolvimento" para a Maxixe e preservar Inhambane como "pérola turística" e que pode ir buscar o seu retorno à revelia de barracas, camionistas e mineiros em fim de contrato, em trânsito para Massinga e Mabote. O "desenvolvimento" e os seus entusiastas dizem que há outra ponte a ser construída nas margens do Rovuma, para abraçar politicamente Moçambique e a Tanzânia. Porque os estudos de viabilidade nunca foram famosos, e as pontes também precisam desses indicadores para serem decididas, o negócio teve de ser feito entre um empreiteiro mais ou menos politizado e uns "royalties" pagos em avanço sobre matérias primas a extrair do subsolo noutro canto do país. Os críticos imaginam hordas de aventureiros, encorajados pela ponte, ao assalto da fauna do Rovuma e da Reserva do Niassa, das pedras semi-preciosas e dos minérios dos rios fronteiriços. São custos adicionais da opção ponte.
Dois cafés depois, estou acordado, os neurónios estão funcionais. Definitivamente não tenho nada contra as pontes, nem contra os engenheiros que as fazem. Leio avidamente toda a informação disponível sobre os avanços e alguns infortúnios recentes na ponte sobre o Zambeze que representa o abraço definitivo entre o norte e o sul do país. Esta é claramente uma ponte para o desenvolvimento.
As pontes, como quaisquer outros projectos, devem merecer estudos e avaliações ponderadas sobre benefícios e custos, que não têm necessariamente de ser medidos em termos estritamente financeiros. Se o gaz e o petróleo se sobrepuserem aos corais e à fauna marítima do Bazaruto é uma opção. É sempre uma opção e dificilmente poderão coexistir ambas as opções.
Para rematar a ponte para a Catembe, sobre Delagoa Bay, é sempre possível urbanizar com responsabilidade e com critério. Fazer-se um plano director, como dizem os entendidos.
Na fase actual e vendo o que aconteceu aos terrenos até à Ponta do Ouro, vejo mais nítida a imagem de um bando de especuladores imobiliários sem escrúpulos, ansiosos por conseguirem um lugar na primeira fila. A partir da ponte.

Fonte: SAVANA 
 

 



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