Em entrevista à rádio oficial britânica BBC, o presidente do Município da Beira, eng. Daviz Simango argumentou anteontem que "um líder precisa de quadros, e como quadros estamos lá" por isso "não é necessário tomar a liderança como tal". O Edil da segunda cidade mais importante do país respondia assim à questão que lhe fora colocada e de acordo com a qual a BBC pretendia saber qual o seu sentimento sobre a propalada ideia dele vir a candidatar-se à sucessão de Afonso Marceta Macacho Dhlakama na liderança do partido Renamo que emergiu do ex-movimento guerrilheiro que impôs por via das armas e durante 16 anos de Guerra Civil a institucionalização de um regime multipartidário e democrático em Moçambique. "Dhlakma é um irmão com quem dialogo", sustentou o presidente do Município da Beira e um dos políticos mais bem sucedidos do maior partido da oposição. Segundo a BBC o Edil referiu que não é sua ambição suceder a Afonso Dhlakama como presidente da Renamo. O filho do meio do único vice-presidente que a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) conheceu, Reverendo Uria Simango, entretanto executado com a esposa por alegada traição mas sem que tivesse havido julgamento por tribunal legalmente constituído o que conforma o acto como crime de Estado, revelou ainda à BBC que não é movido pelo rancor, apesar de toda a humilhação que o assassinato de seu pai tenha representado. De recordar que não foi apenas seu pai, Uria Simango, a ser eliminado no Niassa. Foi também sua mãe, Celina Muchanga, fundadora da ala guerrilheira feminina da frente que libertou Moçambique da governação colonial ao induzir que um movimento das Forças Armadas portuguesas pusesse termo, através de um golpe de Estado, a 25 de Abril de 1974, em Lisboa, ao regime que insistia em manter colónias em África recusando-se a reconhecer o seu legítimo e inalienável direito à autodeterminação e independência. Contrariando um incontido desejo do partido Frelimo criado ao mesmo tempo que se extinguiria a Frente de Libertação de Moçambique a 3 de Fevereiro de 1977, Daviz Simango, ao recusar-se, explicitamente agora, a confrontar Afonso Dhlakama para lhe retirar a liderança, revela estar a encarar de forma tranquila a situação também pelo facto de aparecer frequentemente em público junto do presidente da Renamo. Uma parelha entre Dhlakama e Daviz Simango tem estado a preocupar a liderança do partido no poder. Essa aliança, claramente, permite à Renamo, a Dhlakama e a Daviz Simango capitalizar a favor do maior partido de oposição em vez de trazer para o seu seio disputas vistas por certos quadros como inoportunas, sobretudo em vésperas de um ciclo eleitoral que começará com as primeiras eleições provinciais a 16 de Janeiro de 2008, incluirá as autárquicas no segundo semestre do ano que vem, e terminará com as gerais – presidenciais e legislativas em 2009. O presidente do Município da Beira foi este ano reconhecido internacionalmente como o melhor Edil do país ao mesmo tempo que a autarquia por si dirigida foi considerada a melhor gerida. Desse modo, a sua competência como gestor, tem vindo a granjear tantas simpatias quanto receios. As simpatias têm vindo a fazer com que cada vez mais alargados sectores da Renamo vejam Simango como potencial sucessor de Afonso Dhlakama na liderança da Renamo. E o partido Frelimo tem também desesperadamente alimentado a ideia de Daviz Simango estar a conspirar contra o presidente do seu partido por recear que uma aliança sólida entre ambos lhe possa causar sérios transtornos. Simango, com estas suas declarações à BBC deixa antever que compreendeu o jogo e está agora a capitalizar o duo temível que ele e Afonso Dhlakama podem representar para as futuras aspirações do partido liderado por Armando Guebuza, o que não seria o caso se a opção fosse de se precipitar numa corrida contra o líder da Renamo. Nascido a 7 de Fevereiro de 1964, filho de Uria Timóteo Simango e de Celina Obedias Muchanga, Daviz Simango licenciou-se em Engenharia Civil pela Universidade Eduardo Mondlane em Julho de 1989. Foi fundador do Partido de Convenção Nacional (PCN), e é hoje membro assumido do Partido Renamo. "O Presidente Dhlakama é um líder nato, deve ser respeitado e o que devemos fazer é capitalizar isso. As pessoas querem-nos colocar em choque por causa das boas relações que temos". "O presidente Dhlakma é um irmão com quem dialogo. E o que estamos a fazer na Beira é resultado disso", considerou. Alguns dos detractores de Daviz Simango no partido Frelimo falam de que ele tem uma agenda movida pela vingança, uma vez que, alegadamente, os seus pais foram mortos às mãos da Frelimo por alegada traição, anos depois de uma das maiores crises internas do então movimento de libertação. A recente inauguração de uma estátua em homenagem ao fundador da Renamo e antigo inimigo número um do partido no poder, André Matsangaice, por exemplo, é vista por certos sectores do partido Frelimo como um gesto de vingança, mas outros sectores moderados do mesmo partido vêem nele um gesto que propicia que paulatinamente os radicais do seu partido comecem a compreender que há outros heróis para muitos moçambicanos que não se vêem retratados no actual formato da Frelimo. "Os nossos pais foram à luta armada conscientes de que estavam numa situação de guerra, de que tinham de libertar o país e que isso tinha um preço", disse Daviz Simango à BBC. "Agora foi preciso que a Renamo fosse para as matas para forçar a Frelimo a aceitar a democracia e isto poderia ter sido evitado se as escrituras de Uria Simango fossem respeitadas", afirmou também. "Quando comecei um mandato diziam que ia-me vingar do Pai, isto e aquilo, mas penso que a prática tem demonstrado que afinal de contas somos moçambicanos e trabalhamos para Moçambique", rematou Daviz Simango, presidente do Município da Beira onde o seu partido tem também maioria na assembleia da autarquia que é também capital da província de Sofala. |
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