Sensivelmente sete meses depois das explosões do paiol militar de Malhazine ocorridas a 22 de Março do corrente ano, que fizeram com que obuses atingissem vários arredores da Cidade de Maputo, uma família no Bairro das Mahotas, Quarteirão 10, Casa n.º 178 continua a partilhar o quintal da casa com um desses engenhos de guerra "que se precipitou a tão grande velocidade para dentro da terra" que ainda lá está. Paula João, dona da casa e residente do bairro das Mahotas contactou o «Canal de Moçambique» há dias e disse: "actualmente partilho a minha casa com um obus". "Tenho quatro filhos menores que estão privados de brincar à vontade por causa desse engenho". "O Ministério da Defesa está a negligenciar o facto", disse. Ainda segundo suas declarações ao «Canal» a moradora da casa tem que dar a conhecer as autoridades a evolução da situação. A indignação de Paula João é grande. "Se acontecer alguma coisa com o obus na calada da noite a quem devo recorrer? Se for durante o fim-de-semana quando não há patrulhas das forças militares o que fazemos?" "No passado dia 22 de Março eu e a minha família estivemos agitados como consequência dos obuses que sobrevoavam o bairro". "Num pestanejar vimos um obus enorme a entrar e perfurar a terra do nosso quintal fazendo toda casa estremecer", disse constrangida Paula João. Agora está lá ninguém vem tirar. Se explodir como é? Ela mostrou à reportagem do «Canal» o local por onde terá entrado o engenho. Ao mesmo tempo mostra as rachas criadas pela violência do embate do obus no solo. Há quase 7 meses atrás isto aconteceu. Até hoje ninguém tira. "Nesse dia não dormimos aqui em casa. Estávamos em pânico sem saber a que hora podia detonar o obus", disse novamente Paula João. Ainda de acordo com a fonte nos dias subsequentes uma equipe de militares integrada nos trabalhos de recolha dos obuses obsoletos visitou a sua casa com o propósito de cavar a terra e retirar o projéctil. No entanto diz a nossa interlocutora "nada foi feito senão colocar o sinal de perigo no local por onde o obus entrou na superfície", revelou. "Ainda está lá". Paula João frisa que depois daquele dia a vida daquele agregado familiar mudou tragicamente. "A apreensão no nosso quotidiano é grande. É que não sabemos de que lado está essa mina. Está ali por onde entrou com a sua velocidade. Foi-se esconder por debaixo da casa. A qualquer momento pode detonar". Questionado se o Ministério da Defesa teria conhecimento da real situação da sua família, Paula João foi peremptória: "Eles têm conhecimento da situação. Há três meses atrás vieram cavar um pouco no local por onde entrou o obus. Mas essa visita foi improdutiva, na medida em que disseram que não estavam a encontrar". A fonte diz que "esta situação está aliada à incompetência exagerada de alguns militares". É que segundo ela "os militares alegaram falta de tempo e aconselharam a contactar algumas pessoas para fazerem o trabalho e que caso encontrassem o obus podíamos entrar em contacto com o Ministério da Defesa". A fonte sublinha entretanto que depois dessa recomendação assinalaram o local com um sinal de perigo e foram-se embora. "Dinheiro para pagar as pessoas que irão fazer esse trabalho eu não tenho, por isso o obus que eu na companhia da família vimos a entrar continua debaixo da terra", garante cheia de medo e sem que as autoridades lhe dêem ouvidos. Dentre várias recomendações deixadas pelos militares incumbidos da recolha do material militar que as explosões mortíferas de Mahlazine espalharam por Maputo, esta família diz, em pânico, que a recomendação mais caricata é que eles que não encontraram o engenho aconselharam veementemente a família a evitar fazer lume em volta do quintal. "Disseram que não podia fazer lume aqui no quintal sob risco de no local onde isso acontecer por ventura debaixo estar o obus escondido e sentindo o aquecimento do lume detonar!", disse Paula João. "Esta situação tem importunado o nosso modo de vida, na medida em que sendo membro de uma família com poucas posses vejo-me obrigada a cozinhar no interior da casa com carvão ou lenha, o que não fazia antes por questões de higiene", sublinha a senhora. Durante a presença do «Canal» naquela residência foi possível notar no olhar dos petizes um desconforto total pelo facto de saberem que o projéctil que entrou naquela tarde em sua casa continua no subsolo do logro da casa. Entretanto o «Canal de Moçambique» contactou Joaquim Mataruca, porta-voz do Ministério da Defesa Nacional, para saber o que teria a dizer sobre este caso. Ele que tem sido uma pessoa bastante aberta para com a Comunicação Social, depois de tomar conhecimento do problema, alegou "falta de tempo e agenda carregada". Sugeriu um outro contacto nos próximos dias para falar deste assunto bem como do processo de recolha do armamento obsoleto que se instalou nas redondezas do paiol militar de Malhazine e que até hoje está a deixar em pânico muitas famílias. Perante o facto das forças armadas estarem claramente a descurar a segurança das pessoas que se não fosse a manifesta incúria naquela fatídica tarde de 22 de Março no Paiol de Mahlazine continuariam na sua paz que tudo aquilo interrompeu, insistiremos na tentativa de saber o que se passa que possa justificar que não se dê assistência às pessoas ainda em pânico. (Jorge Matavel)
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