Maputo (Canalmoz / Canal de Moçambique) - As recentes declarações do ministro do Interior, segundo as quais "no banco de dados da Interpol não existe nada com relação" ao caso MBS, foram interpretadas de várias formas. Uns respiraram de alívio, imaginando que isso é suficiente para ilibar Bachir. Vá-se lá saber porquê!? Mas não passou despercebida a incredulidade e perplexidade com que determinados outros sectores receberam as declarações de José Pacheco. Houve até quem dissesse que se tratou de uma tentativa do Governo de Armando Guebuza "sacudir a água do capote", numa espécie de "fuga para a frente".
Em vez de se esclarecer a refrega verbal entre os apaniguados do Senhor Mahomed Sulemane Bachir e os que o têm como um perigo à solta, o facto de a INTERPOL não falar claro, ajudou a que, o tom dos debates se tenha acentuado. Ao mesmo tempo a credibilidade das autoridades junto da opinião pública não foi recuperada, quando seria de esperar que isso acontecesse, depois das afirmações do ministro do Interior.
A evasiva do Secretário-Geral da INTERPOL, na sua passagem por Maputo, deixou aos cidadãos moçambicanos a árdua e difícil tarefa de terem de ler nas entrelinhas o significado da sua visita.
Ficou sujeito aos mais díspares comentários o real propósito do secretário-geral da INTERPOL, Sr. Ronald Noble, ter visitado Moçambique nesta altura, não antes, nem depois de definitivamente esclarecida a polémica suscitada pela notícia de 1 de Junho último, segundo a qual um cidadão moçambicano, intimamente ligado à formação política detentora do poder em Moçambique – o partido Frelimo – consta de uma lista de narcotraficantes divulgada pelo governo dos Estados Unidos, com a particularidade de vir assinada pelo chefe de Estado norte-americano, Barack Obama.
A dúvida que de imediato se levantou aquando da visita do SG da INTERPOL a Maputo, foi se o ministro Pacheco falava em função daquilo que teria sido revelado por Ronald Noble no decurso da visita, ou se o SG da INTERPOL terá dito que na base de dados da organização que dirige nada consta em relação a Mahomed Sulemane Bachir pela simples razão de que o Governo de Moçambique, país de onde é natural o indivíduo que passou a constar da principal lista americana de "narcotraficantes", não ter até agora fornecido quaisquer dados à sede da organização policial internacional.
Sucede que ainda se admite como hipótese, o SG da Interpol ter dito que há nomes de moçambicanos fichados pela Interpol mas não sabia dizer se um deles era Mahomed Sulemane Bachir e desde logo algum grau de conveniência ter levado a que se pensasse que Ronald Noble disse, taxativamente, que sobre o Senhor MBS, na Interpol nada consta.
Mas se o SG tiver mesmo dito por engano que o Sr. MBS não está catalogado pela INTERPOL, este não seria o primeiro caso em que a Interpol desconhece o que se passa no seu próprio seio. Já antes teve de enfrentar situações embaraçosas de não saber exactamente o que se passava nos países membros dessa organização.
Mesmo aqui ao lado de Moçambique, na vizinha África do Sul, verificou-se o caricato caso de um ex-presidente da Interpol, que acumulava as funções de chefe máximo da polícia sul-africana, estar implicado em crimes vários, incluindo o de envolvimento pessoal com redes de narcotraficantes, precisamente quando se encontrava a desempenhar tais altas funções. Referimo-nos, concretamente, ao caso de Jackie Selebi, que há pouco mais de uma semana foi considerado culpado desses e de outros crimes por um juiz do Tribunal de Primeira Instância de Gauteng.
Numa altura em que a imprensa independente sul-africana denunciava, de forma persistente, o envolvimento do Comissário da Polícia Sul-Africana, Jackie Selebi, com o crime organizado, o Senhor Ronald Noble declarava publicamente o seu apreço pelo papel desempenhado por Selebi, quer como chefe máximo da polícia do país vizinho, quer como presidente da Interpol. Efectivamente, ao discursar perante a 14.ª Reunião Anual do Conselho de Comandantes da Polícia da SARPCCO em Joanesburgo, a 2 de Setembro de 2009, Ronald K. Noble, dirigindo-se ao novo comandante da polícia do país anfitrião, afirmava o seu "empenho pessoal e o de toda a Organização da Interpol em trabalhar estreitamente, tal como o havíamos feito com o seu antecessor e ex-presidente da INTERPOL, Jackie Selebi".
E acrescentou Ronald Noble: "Na INTERPOL nós nunca nos esquecemos daqueles que nos antecedem".
Torna-se evidente que o Sr. Ronald K. Noble, por incompetência, desleixo ou seja o que for, desconhecia que já em Maio de 2006, portanto mais de três anos antes do discurso por si proferido em Joanesburgo, Jackie Selebi era apontado nas páginas dos jornais sul-africanos como mantendo estreitas relações com a Máfia na pessoa de Glenn Agliotti, incluindo encobrimento de crimes em que este estava implicado. E em Janeiro de 2008, portanto, mais de um ano antes do discurso do Sr. Noble em Joanesburgo, o Ministério Público da África Sul decidira constituir Jackie Selebi arguido por ter sido subornado por um narcotraficante para que protegesse, como chefe da polícia, carregamentos de narcóticos através do território sul-africano.
Receamos que o ministro José Pacheco acabe envergonhando a nação moçambicana se tiver de vir um dia a ter de engolir o que disse.
Ao insistir em afirmar que uma pessoa acusada de narcotráfico pelo mais alto magistrado de um país estrangeiro tem a ficha limpa, não obstante o facto do causídico que representa essa pessoa ter reconhecido já à imprensa que o seu constituinte havia estado detido numa prisão em Nacala, e que tivera alguns problemas idênticos na Swazilândia, pensamos que não é atitude que um político que dirige um sector governamental tão sensível deveria tomar de ânimo leve.
Em relação aos problemas que o Sr. MBS teve já na Swazilândia, fonte ligada à SARPCCO assegurou que estivera detido numa cadeia swázi em 1988 por decisão tomada ao mais alto nível pela polícia do reino vizinho.
Ao que parece, estes factos não suscitaram apreensão entre os membros do governo moçambicano, a quem, aliás, não causou espécie alguma receber das mãos do indivíduo que o Governo americano riscou e passou a classificar como pessoa não grata, avultadas somas para olear a máquina partidária, em particular durante os sempre controversos períodos eleitorais, maquia essa alegadamente proveniente dos fabulosos lucros obtidos com a venda de "ninharias" como capulanas, electrodomésticos e bugigangas, que para além de dar para «preparar e organizar a vitória» do partido no poder, dá e sobra para comprar carros topo de gama que só um punhado de multimilionários deste planeta possui.
Os bancos que se retiraram do Shopping de Maputo, não o terão feito de ânimo leve. E os que deixaram de querer ter o Sr. MBS no seu role de clientes, também certamente não terão tomado tal decisão irreflectidamente. Será que o ministro do Interior está seguro do que anda a dizer?
Será que o ministro José Pacheco está seguro do que estava dentro da pasta entregue pelo Sr. Ronald K. Noble ao Presidente da República Armando Emílio Guebuza aquando da audiência a que se refere a foto que se vê publicada na primeira página do jornal Notícias?
Não estará dentro daquela pasta "misteriosa" o que ainda poderá vir a surpreender José Pacheco?
Está tudo ainda em aberto.
O que nos reserva a cartola? é uma das perguntas chave neste momento. E a outra é: Não teria o SG da Interpol vindo cá para sorrateiramente entregar ao chefe de Estado a 'chave do baú'?
Enfim…maneiras de fazer que só os polícias sabem como?
Dúvidas atrás de dúvidas neste mundo global cada vez mais complicado. (Canal de Moçambique)
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