Há cerca de duas horas de voo de Maputo, capital de Moçambique, encontra-se a cidade de Tete, às margens do rio Zambeze, infestado de crocodilos. Uma ponte suspensa constitui o único ponto de passagem das principais rotas comerciais que ligam o litoral a Zimbabwe, Malawi e Zâmbia. Até a uns dois anos atrás, Tete não era mais do que um corredor de passagem. Agora, graças ao maciço investimento estrangeiro nos seus campo de carvão, um dos maiores e inexplorados do Mundo, está a tornar-se uma cidade em crescimento, já ostentando de três bancos, três empresas de aluguer de carros, meia dúzia de hotéis decentes, uma escola internacional e um novo aeroporto com vôos duas vezes ao dia para Maputo.
Com economias emergentes como as da China e índia que "choram" para opter mais carvão, a bacia de Tete desempenha um papel importante no desenvolvimento da economia de Moçambique.
Depois de uma guerra civil de 17 anos, que destruiu grande parte da infra-estrutura do País, a logistica permanece pobre. Mas em Fevereiro o transporte ferroviário de longo percurso entre Tete e o porto da Beira, foi reaberto após a remodelação do Porto e uma nova ponte está a ser construída, que deve aliviar a ponte Samora Machel do tráfego intenso. Por outro lado o rio Zambeze fornece uma abundante fonte de água fresca para operações mineiras, bem como uma fonte de energia hidroeléctrica.
Porém Moçambique já tem uma poderosa barragem hidroeléctrica, a empresa estatal de energia HCB, situada no Songo, a cerca de 200 km a noroeste de Tete. Esta hidroeléctrica pode gerar mais de 2.000MW por hora, na maioria a ser exportada diariamente para a vizinha África do Sul, enquanto que as aldeias ao redor de Songo aínda estão mergulhadas na escuridão durante a noite, apenas o brilho das chamas das fogueiras indica a presença de humanos naquela região.
Os chineses, segundo maior investidor em Moçambique depois da África do Sul, estão a considerar construir uma segunda barragem hidroeléctrica a 70km da barragem de Cahora Bassa, e as duas grandes empresas mineiras, Riversdale da Austrália e Vale do Brasil, estão a planear contruir as suas fábricas perto de Tete.
No final da guerra civil em 1992, Moçambique era um dos países mais pobres do Mundo. Os seus sistemas de transporte, educação e saúde estavam em ruínas. Muitos moçambicanos com habilidades para o comércio tinham deixado o país. Mas agora a sua economia é uma das que mais cresce no Mundo, nos últimos 15 anos, tem aumentado a uma média de 8% ao ano, mergulhando ligeiramente para 6% durante a crise mundial do ano passado, e com quase 7% previsto para este ano, bem acima dos 4% da previsão do Banco Mundial para o sul de África.
O governo moçambicano é democraticamente eleito e estável, a sua política é macroeconómica, a imprensa é razoávelmente livre. Muitas vezes o país tem sido citado como um dos melhores exemplos de recuperação pós-conflito em África, tornando-se querido pelos doadores. Em 2009 a ajuda internacionar foi de cerca de US $ 1,6 bilhões, valor de mais de metade do orçamento geral do Estado. O investimento estrangeiro está a ser largamente "injectado" em Moçambique.
Mas o país ainda tem um longo caminho a percorrer. Em vários rankings internacionais, ainda tem um dos piores desempenhos do mundo : 129 lugar (de 133 paises) em termos de competitividade global no índice do World Economic Forum; 172 lugar (de 182) no índice de desenvolvimento humano da ONU e ainda nos lugares de baixo em outros rankings que levam em referência o PIB anual, que se situa a menos de US $ 1.000 em paridade de poder de compra, de acordo com o FMI.
Apesar do decréscimo da taxa de pobreza de 69% em 1997 para 54% em 2003, o número de moçambicanos que vivem abaixo do limiar da pobreza absoluta ronda os 11,7 milhões numa população de pouco mais de 20 milhões de habitantes. Porém para o último inquérito nacional, realizado em Agosto de 2009, espera-se uma melhoria. Mas as desigualdadea tem vindo a crescer.
Graças aos as eleições livres e pacíficas que Moçambique tem realizado o país foi retirado da lista de "democracias eleitorais" produzido pela Freedom House, um cão de guarda dos Estados Unidos da América, por causa das dúvidas que pairaram em torno das eleições de Outubro passado, quando presidente Armando Guebuza e sua Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) ficaram com três quartos dos votos.
O poder do partido do governo é penetrante, a corrupção tem vindo a crescer assim como o crime organizado, algumas vezes, aparentemente, com apoio político. Há poucos meses Mohamed Bashir Suleman, membro do partido da FRELIMO e um empresário importante no país, foi colocado na lista oficial dos Estados Unidos da América como barão da droga.
Os doadores internacionais, que apontam Moçambique como um caso raro de sucesso em Àfrica ficaram preocupados. No início deste ano, um grupo de 19 paises ocidentais fizeram uma "greve de ajuda" até que o país melhorasse os seus actos. Só depois do governo moçambicano haver aceite humildemente implementar 35 reformas propostas pelos G19 a ajuda recomeçou a chegar.
Longe de falar com algum ressentimento o primeiro-ministro de Moçambique, Aires Aly, disse que a greve dos doadores foi "De certa forma boa para nós, porque fez-nos perceber que algumas questões do nosso programa de governo precisam de ser revistas."
Mas sem ajuda internacional ele sabe que o seu país não teria um desempenho tão bom como tem tido.The Econimist/@verdade
(MiradourOnline)
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