Maputo (Canalmoz) - A política de informática e sua respectiva estratégia de implementação foram elaboradas pelo Governo, ao nível dos gabinetes e não tomaram em consideração a realidade do país. Este facto fez com que houvesse excesso de expectativa que acabou sendo frustrada pelos resultados negativos patentes no terreno. Esta é uma das conclusões de um estudo apresentado ontem, em Maputo, levado a cabo pelo Centro de Informática da Universidade Eduardo Mondlane (CIUEM). O estudo é parte de um projecto designado Fórum Regional de Discussão das TIC's, financiado pela embaixada da Finlândia e outros parceiros. O estudo refere que, apesar das "conquistas", oito anos após a sua aprovação, a política das Tecnologias de Informação e Comunicação, Moçambique está muito longe de conseguir uma utilização generalizada e eficaz das TIC's. Admite-se que a falta de infra-estruturas está a influenciar negativamente o processo de generalização do uso das tecnologias de informação e comunicação. De acordo com o estudo, houve excesso de optimismo na política e estratégia de implementação das TIC's, incluindo uma subestimação do tempo necessário para planear, organizar, mobilizar e formar pessoas antes e durante a implementação dos planos. A unidade de implementação criada para gerir a estratégia centrou-se nos grandes projectos e tinha poucos recursos para se dedicar à coordenação. Como resultado, a estratégia global não foi bem integrada com áreas sócio económicas individuais, refere o estudo. Recorde-se que nos planos do Governo, estava previsto em 2002 um Fórum Consultivo Nacional sobre as TIC's. Este fórum nunca foi implementado. Por causa disso, refere o documento, houve uma consulta limitada às comunidades, e muitas decisões que afectam a vida das pessoas foram tomadas por um número reduzido de funcionários que trabalhou nos planos.
Os financiamentos
No tocante aos financiamentos externos, o estudo da CIUEM refere que os mesmos não têm acompanhado as esperanças e metas da política da estratégia. Além disso, algumas iniciativas têm sido mal orientadas para as necessidades. Cursos superiores de TIC, por exemplo – diz o estudo – têm sido muito teóricos, não se concentrando suficientemente naquilo que o sector de negócios de facto necessita. E mais – acrescenta o documento – tem sido difícil ajustar a estratégia desenvolvida em 2002 para explorar mercados de telecomunicações em constante mudança, ou oportunidades oferecidas por novas tecnologias e serviços melhores.
Infra-estruturas As infra-estruturas, de acordo com o estudo, por si só, não são suficientes para trazer desenvolvimento. As pessoas precisam de ter acesso para que possam fazer o uso das TIC's, e o acesso é muito mais do que simples redes e cabos. O estudo indica o acesso em três vertentes. A primeira tem a ver com o acesso às infra-estruturas físicas, incluindo melhores condições de transportes e energia eléctrica. A segunda vertente tem a ver com a capacidade de fazer uso delas – as habilidades, experiência e confiança dos usuários. A terceira vertente cinge-se à capacidade financeira de pagar a utilização, pois melhores infra-estruturas e competência não terão grande significado se as pessoas não tiverem acesso por falta de fundos. De acordo com estudo, a inclusão digital que Moçambique precisa, é muito mais do que alfabetizar as pessoas em TIC's ou garantir que elas tenham acesso a preços acessíveis, redes, serviços e dispositivos das TIC's. Assim, para que as TIC's contribuam para o desenvolvimento devem ser vistas não apenas como veículo de boa governação, mas como bens que a serem apropriados pelos indivíduos e as comunidades que as utilizam para satisfazer as suas necessidades. O estudo prevê que o uso mais intensivo destas tecnologias contribuiria para reduzir as divisões acentuadas entre o meio rural e urbano. (Matias Guente) |
Sem comentários:
Enviar um comentário