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VOA News: África

terça-feira, 11 de junho de 2013

E agora Sr. presidente!?

A explosiva e contundente carta assinada por Pascoal Mocumbi, médico ginecologista e antigo Primeiro Ministro, e subscrita por outros 83 médicos especialistas, maioritariamente fundadores do SNS (Serviço Nacional de Saúde) encerra completamente o pseudo debate em torno da legitimidade ou não das reivindicações dos médicos filiados à AMM (Associação Médica de Moçambique). Além da questão que tem a ver com legitimidade, pensamos nós que a carta vem dar um ponto final no também pseudo debate que tentavase levantar em torno do apoio dos profissionais de saúde mais renomados deste país (os chamados mais velhos) em termos de apoio à causa que levou os jovens médicos a dar a cara e dizer basta àquilo que consideram degradação acentuada das condições de trabalho e de vida a que estão sujeitos.

Portanto, está claro que os kotasmédicos estão plena e completamente de acordo com a postura que tem estado a ser demonstrada pelos jovens médicos, sob liderança do actual presidente da AMM, Jorge Arroz. Fica também claro que os médicos mais antigos estão sim nos hospitais a trabalhar, apenas porque tem a consciência de que se juntando a jovens médicos na greve efectiva e prática, a realidade nas unidades sanitárias seria simplesmente um horror, pior que o que actualmente se assiste. Fica também claro que os “mais velhos” estão nas unidades sanitárias a trabalhar porque assumindo, maior parte deles, funções de chefia, devem por imperativos legais continuar a trabalhar. Portanto, a carta deixa claro que os médicos mais velhos estão sim em greve, mas pela experiência que tem, estão conscientes que devem continuar de bata branca a trabalhar. Mais, a carta vem deixar claro que as acusações que tem estado a ser feitas por alguns governantes e dirigentes do MISAU (Ministério da Saúde) contra os jovens médicos não tem o menor sentido na medida em que os serviços mínimos estão a ser sim assegurados em todas as unidades sanitárias.
Na carta, directamente, os “mais velhos”, dão total culpa e responsabilidade ao governo deste país pelo actual estado de coisas no sector da saúde. Dizem que o Presidente da República e seu governo abandonaram completamente um sector, ao mesmo tempo que dizem não perceber como é que se abandona um sector que deve andar a par e passo com o combate a pobreza, actual cavalo de batalha deste governo. Dizem que não compreendem como é que o governo deste país reduziu nos últimos 7 anos, em cerca de 50 por cento, o orçamento para o sector da saúde, mas em contrapartida, aumentou cerca de 10 vezes (1000 por cento), o orçamento para outros sectores tidos como menos relevantes. Dizem que a “maka” tem barbas brancas mas sempre que os profissionais do sector tentaram dialogar, a resposta governamental foi sempre o silêncio. Dizem que a actual situação representa um total desespero dos profissionais do sector, cujas responsabilidades devem ser imputadas única e exclusivamente para quem tem estado a fazer ouvidos de mercador neste tempo todo: o governo.
Lamentam aquilo que consideram onda de desinformação dos órgãos públicos de comunicação e voltam a chamar atenção para o perigo do uso dos médicos estagiários sem acompanhamento dos médicos. De tanta coisa que dizem, os “mais velhos” apelam ao presidente da República para agir, abandonando a prática de multiplicar apelos e críticas a quem luta por causa justa e legítima.
Por tudo isto, pensamos que nada mais resta ao PR, senão efectivamente ouvir os “mais velhos” e iniciar um diálogo frutuoso e honesto. Um diálogo despido de quaisquer preconceitos, sem bodes expiatórios, sem perseguição e sem “mão externa”. Acreditamos que o pouco que senhor presidente viu no Hospital Central de Maputo, na última sexta-feira, vai persuadi-lo a agir o mais urgente possível.
Não é todos os dias que este grupo de médicos critica severamente Sua Excia, Sr. Presidente da República.
A carta dirigida ao Presidente da República é também uma demonstração que os “mais velhos” caminham (também) para pontos de saturação, daí que os apelos nela contidas, devem ser considerados urgentemente, sob o risco de decretarmos falência do SNS. Aí o Sr. Presidente e seus próximos embarcam em direcção as melhores clínicas de París mas o povo morre...e morre mesmo.
PS-Dissemos, em editorial recente neste jornal, que para continuar a alimentar a contra informação, o Presidente Armando Guebuza não iria  visitar os hospitais exactamente porque sabia de antemão que nos hospitais irá assistir a choros e lamúrias apenas.
Felizmente, o Presidente, com uma curta visita a algumas enfermarias do HCM, na última sexta-feira, deu um primeiro passo no sentido de provar aos moçambicanos que ainda ama o seu povo.
Em termos da real dimensão, não foi possível ver efectivamente o que está a acontecer no sector, mas foi um primeiro passo com valor simbólico bastante significativo. Portanto, está de parabéns senhor presidente por ter-nos ouvido e se aproximado ao seu povo neste momento de sofrimento. Mas, falta muito para efectivamente estar a par do que está a acontecer nas unidades sanitárias.
MEDIAFAX – 10.06.2013

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