A explosiva e contundente
carta assinada por Pascoal Mocumbi, médico ginecologista e antigo Primeiro
Ministro, e subscrita por outros 83 médicos especialistas, maioritariamente fundadores
do SNS (Serviço Nacional de Saúde) encerra completamente o pseudo debate em
torno da legitimidade ou não das reivindicações dos médicos filiados à AMM
(Associação Médica de Moçambique). Além da questão que tem a ver com
legitimidade, pensamos nós que a carta vem dar um ponto final no também pseudo
debate que tentavase levantar em torno do apoio dos profissionais de saúde mais
renomados deste país (os chamados mais velhos) em termos de apoio à causa que
levou os jovens médicos a dar a cara e dizer basta àquilo que consideram
degradação acentuada das condições de trabalho e de vida a que estão sujeitos.
Portanto, está claro que os kotasmédicos estão plena e completamente de acordo
com a postura que tem estado a ser demonstrada pelos jovens médicos, sob liderança
do actual presidente da AMM, Jorge Arroz. Fica também claro que os médicos mais
antigos estão sim nos hospitais a trabalhar, apenas porque tem a consciência de
que se juntando a jovens médicos na greve efectiva e prática, a realidade nas
unidades sanitárias seria simplesmente um horror, pior que o que actualmente se
assiste. Fica também claro que os “mais velhos” estão nas unidades sanitárias a
trabalhar porque assumindo, maior parte deles, funções de chefia, devem por
imperativos legais continuar a trabalhar. Portanto, a carta deixa claro que os
médicos mais velhos estão sim em greve, mas pela experiência que tem, estão
conscientes que devem continuar de bata branca a trabalhar. Mais, a carta vem
deixar claro que as acusações que tem estado a ser feitas por alguns
governantes e dirigentes do MISAU (Ministério da Saúde) contra os jovens
médicos não tem o menor sentido na medida em que os serviços mínimos estão a
ser sim assegurados em todas as unidades sanitárias.
Na carta, directamente, os
“mais velhos”, dão total culpa e responsabilidade ao governo deste país pelo
actual estado de coisas no sector da saúde. Dizem que o Presidente da República
e seu governo abandonaram completamente um sector, ao mesmo tempo que dizem não
perceber como é que se abandona um sector que deve andar a par e passo com o
combate a pobreza, actual cavalo de batalha deste governo. Dizem que não
compreendem como é que o governo deste país reduziu nos últimos 7 anos, em
cerca de 50 por cento, o orçamento para o sector da saúde, mas em
contrapartida, aumentou cerca de 10 vezes (1000 por cento), o orçamento para
outros sectores tidos como menos relevantes. Dizem que a “maka” tem barbas brancas
mas sempre que os profissionais do sector tentaram dialogar, a resposta governamental
foi sempre o silêncio. Dizem que a actual situação representa um total desespero
dos profissionais do sector, cujas responsabilidades devem ser imputadas única
e exclusivamente para quem tem estado a fazer ouvidos de mercador neste tempo
todo: o governo.
Lamentam aquilo que
consideram onda de desinformação dos órgãos públicos de comunicação e voltam a chamar
atenção para o perigo do uso dos médicos estagiários sem acompanhamento dos
médicos. De tanta coisa que dizem, os “mais velhos” apelam ao presidente da República
para agir, abandonando a prática de multiplicar apelos e críticas a quem luta por
causa justa e legítima.
Por tudo isto, pensamos que
nada mais resta ao PR, senão efectivamente ouvir os “mais velhos” e iniciar um
diálogo frutuoso e honesto. Um diálogo despido de quaisquer preconceitos, sem
bodes expiatórios, sem perseguição e sem “mão externa”. Acreditamos que o pouco
que senhor presidente viu no Hospital Central de Maputo, na última sexta-feira,
vai persuadi-lo a agir o mais urgente possível.
Não é todos os dias que este
grupo de médicos critica severamente Sua Excia, Sr. Presidente da República.
A carta dirigida ao
Presidente da República é também uma demonstração que os “mais velhos” caminham
(também) para pontos de saturação, daí que os apelos nela contidas, devem ser
considerados urgentemente, sob o risco de decretarmos falência do SNS. Aí o Sr.
Presidente e seus próximos embarcam em direcção as melhores clínicas de París
mas o povo morre...e morre mesmo.
PS-Dissemos, em editorial
recente neste jornal, que para continuar a alimentar a contra informação, o Presidente
Armando Guebuza não iria visitar os
hospitais exactamente porque sabia de antemão que nos hospitais irá assistir a
choros e lamúrias apenas.
Felizmente, o Presidente,
com uma curta visita a algumas enfermarias do HCM, na última sexta-feira, deu
um primeiro passo no sentido de provar aos moçambicanos que ainda ama o seu
povo.
Em termos da real dimensão,
não foi possível ver efectivamente o que está a acontecer no sector, mas foi um
primeiro passo com valor simbólico bastante significativo. Portanto, está de
parabéns senhor presidente por ter-nos ouvido e se aproximado ao seu povo neste
momento de sofrimento. Mas, falta muito para efectivamente estar a par do que
está a acontecer nas unidades sanitárias.
MEDIAFAX – 10.06.2013
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