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quinta-feira, 24 de junho de 2010

"Embora as empresas sejam muitas, na prática os proprietários são relativamente poucos. E agrupados em muito poucas famílias (dessas de pai, mãe e filhos)"

Marco do Correio

Por Machado da Graça

Olá Judite

Espero que esta carta te encontre de boa saúde, minha amiga. Do meu lado tudo bem.

Escrevo-te hoje para te falar de alguns aspectos interessantes sobre a vida e a economia desta nossa cidade de Maputo.

Porque, na capital, estamos a assistir a fenómenos que parecem contraditórios, embora talvez não o sejam.

Eu explico:

Por um lado toda a gente fala de uma grande crise económica. Pequenas e médias empresas estão a ir à falência todos os dias, toda a gente deve a toda a gente e ninguém sabe se e quando vai poder pagar.

Por outro lado, na baixa da cidade crescem prédios de um tamanho enorme, iguais ou mais altos que o famoso "33 andares", que foi o nosso recorde por muitos anos. E não há um palmo de terreno disponível, e as novas empresas nascem e crescem como cogumelos, muitas delas ostentando nomes em inglês para parecerem mais sofisticadas.

Há poucos dias estive a ler uma lista de novas empresas ligadas ao sector da exploração mineral e dos seus donos. Embora as empresas sejam muitas, na prática os proprietários são relativamente poucos. E agrupados em muito poucas famílias (dessas de pai, mãe e filhos). Os que não cabem nestas poucas famílias cabem todos, sem excepção, na grande família FRELIMO.

Vais-me dizer que não nos devemos admirar. Que são pessoas com espírito empreendedor e, portanto, que avançam logo para as áreas onde o seu empreendedorismo pode dar frutos.

Mas a mim parece é que são pessoas com informação privilegiada sobre o que se está a passar na economia nacional e que, portanto, se adiantam aos outros sectores da população que ignoram ainda as possibilidades que se estão a abrir no mercado.

E o resultado é que, quando ouvimos falar de um novo grande projecto no país e ficamos a saber quem são os seus proprietários, descobrimos que há os grandes investidores estrangeiros, que foi quem colocou lá o seu dinheiro, e, depois, aparecem essas pequenas empresas que lá estão por obra e graça do Espírito Santo. E é até melhor não investigarmos melhor as razões do tal Espírito Santo, para não irmos descobrir coisas que ninguém gosta de saber.

Num país em que a burguesia praticamente não existia, nós estamos a criar a nossa a partir do controlo do Estado. Quem controla o Estado é quem dá autorizações, concede benefícios e contratos e permite que outros prosperem. Em troco, é claro, de uma fatia dessa prosperidade.

Quem controla o Estado controla também as empresas públicas, lá colocando a mamar na teta os seus filhos, afilhados e amigos, por pouco ou nada que eles percebam da actividade das tais empresas.

E, é claro, todos esses benefícios acabam por ficar fechados no círculo íntimo da mesma família política.

O resultado é que a burguesia que está a nascer no país não deriva de factores económicos mas sim de factores políticos. Não se chega a burguês devido ao trabalho aturado e às capacidades de produzir e vender.

Chega-se devido à capacidade de votar como o chefe manda, de não fazer ondas, de dar lustro ao sapato do chefe, de aplaudir entusiasticamente.

Isto para não falarmos dos que enriquecem, do dia para a noite, através de meios claramente criminosos, mais ou menos ligados a pós, comprimidos e fumos. Também esses discretamente tolerados pelo Poder, que mostra enormes dificuldades para ver o que se está a passar.

Está agora muito na moda falarmos de gerações. A minha esperança é que a geração dos filhos destes novos burgueses de hoje passe a ganhar a vida de forma mais digna que a dos seus pais.

Mas não tenho grande esperança. Diz-se que "de pequenino é que se torce o pepino" e a sensação que tenho é que estes nossos "pepinos" estão a ser torcidos para o mau lado.

Esperemos que eu me engane.

Um abraço para ti do

Machado da Graça

CORREIO DA MANHÃ – 24.06.2010



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(MiradourOnline)

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