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VOA News: África

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quando boas notícias não são suficientes para nos hipnotizar

EDITORIAL

Esta semana começou com boas notícias sobre um novo banco de investimentos, o BNI (Banco Nacional de Investimentos), que se anuncia como a alavanca de obras de engenharia de grande vulto em Moçambique. O país já estava a precisar de boas notícias depois do autêntico "terramoto" induzido pelo presidente americano Barack Hussein Obama e pelo Departamento do Tesouro da sua administração sobre o caso MBS, do qual ainda nos falta perceber que réplicas suscitará, embora tudo aponte para uma melhor distribuição de oportunidades e de receitas, quer para tantos outros comerciantes, como para o próprio Estado, e isso, naturalmente, dê alento a quem anda a necessitar dele.

Moçambique já estava a precisar de fôlego, depois dos processos de desesperança que se têm vindo a suceder desde as últimas eleições gerais, que o presidente português precipitadamente se apreçou a legitimar, numa atitude que, desde logo, pareceu a de quem está desesperado com os cenários da sua própria envolvente, no seu país, tal foi a contra-corrente a que tivemos oportunidade de assistir, empreendida pelos restantes membros do Grupo dos Dezanove – G19 (NB: Que subvenciona mais de 50% do nosso Orçamento do Estado).

Foi uma clara demonstração das conclusões sobre o processo eleitoral em si, incluindo obviamente as prévias manobras de exclusão de tantas candidaturas, com a inequívoca intenção de distorcer tendenciosamente os resultados, com a ideia já posta em negócios que, se por um lado trazem ao país grandes obras, por outro sugerem que, por detrás, a eles se associam práticas que não ajudam a que o país "venda" credibilidade.

Ao serem criadas as condições para que a construção da "espinha dorsal" do sistema de transporte de electricidade do Songo e de Mpanda N'kuwa se torne viável, em alternativa à linha da HCB (Hidroeléctrica de Cahora Bassa), que entra na África do Sul, via Pafúri, para a Subestação "Apollo", em Secunda, de onde só depois a nossa própria energia chega ao Sul de Moçambique, é sem dúvida uma extraordinária notícia. Sabermos que esta obra fará com que a nossa soberania cresça, é óptimo.

A construção da Central II da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, do lado Norte, é outra notícia estimulante, como é animadora a perspectiva de virmos a ter, nos próximos anos, uma ponte a ligar as duas margens da baía de Maputo, com extensão rodoviária para a África do Sul – Durban, via Dobela, Ponta do Ouro, mais um retoque na Estrada Nacional Número Um (N1).

As perspectivas de emprego que estes empreendimentos abrem são sobretudo reconfortantes.

Vermos a "Camargo Corrêa", que é um dos maiores grupos privados brasileiros e accionista da cimenteira Cimpor (Cimentos de Portugal), anunciar na última segunda-feira a aquisição do controlo de uma cimenteira em Moçambique, mais concretamente a CINAC, num investimento de cerca de 42 milhões de euros, é mais um dado estimulante.

A fábrica localiza-se em Nacala, no Norte do país, e tem uma capacidade de produção de 350 mil toneladas por ano. Sabermos que o grupo brasileiro adquiriu 51 por cento da fábrica ao grupo moçambicano Insitec, liderado pelo jovem empresário moçambicano Celso Correia, e conhecidas que são as suspeitas quanto à chamada parceria estratégica que ele tem com uma alta figura do Estado Moçambicano, não fora este facto, seria mais uma razão para nos alegrarmos.

Sabermos que a Insitec continuará a deter 49 por cento do negócio e, portanto, a manter uma confortável presença na operação, é "moçambicanamente" agradável, mas a engenharia financeira que começa a transparecer estar por detrás de todos estes empreendimentos, que empolgam sem dúvida a auto-estima dos mais sensíveis, está a começar a preocupar-nos.

É muita coisa a cruzar-se para que nos iludamos. São demasiadas as coincidências. É demasiado a ajudar a consolidar a ideia de promiscuidade. Não ajuda a que quem governa se livre pelo menos da fama de que anda a confundir o cargo com os seus negócios privados. Começa a não haver grande negócio do Estado em que não haja indícios de "mãozinha estranha". Estão claramente na moda os "dízimos" a quem manda.

As remodelações no Conselho de Administração dos CFM neste momento, ao lembrarmo-nos dos recentes comentários de Rui Fonseca a uma TV local (e logo qual!) sobre a necessidade de o Estado repensar o formato da gestão do Porto de Nacala, conhecida que é a participação da Insitec no Corredor do Norte, também não ajuda a que, de ânimo leve, tanto investimento nos hipnotize.

(Canal de Moçambique / Canalmoz) – 17.06.2010

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(MiradourOnline)

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