"MOCAMBIQUE PARA TODOS,,

VOA News: África

sábado, 19 de junho de 2010

Geração e história

Por João Mendes*

Em cada dia nasce um certo número de indivíduos: será que constituem uma geração? Ou o que a determina é um dado período de tempo (década, século, milénio)? E na base de quê se fixa ou classifica uma geração?

Seja qual for o critério que sirva de base à classificação, este é sempre afixado a um grupo de seres humanos que integram a Humanidade (ou parte dela), não podendo apresentar-se a geração como elemento fundamental, determinante do processo de evolução histórica. 

É que a evolução da Humanidade é demarcada por marcos que indicam a passagem de uma fase a outra qua­litativamente superior. E isto verifica-se tanto a nível biológico, em que o ser humano vem do "homo erectus" até ao "homo sapiens", como a nível do pensamento em que vai imprimindo, pelas descobertas científicas, novas formas de vida económica, gerando novas e superiores manifestações culturais. E a História, marco superior do nível intelectual do ser humano, explica-nos e demonstra-nos hoje a interdependência e a mútua influência entre o ser humano e a Natureza e deste conjunto no lado do Universo.

De facto, cada passagem de um dado grau de civilização para outro superior, só se verifica quando se conjugam os níveis dos vários ramos da Vida.

É assim que a História da Humanidade cataloga, cientificamente, as várias fases da evolução e os marcos que gravam a passagem de uma a outra época.

Geração é, pois, um núcleo de seres humanos classificado pela data de nas­cimento e que nunca se confunde nem se subs­titui a marcos, quer da evolução da Humanidade, quer de âmbito geogra­ficamente localizado.

Considerando como verdade o que aca­bamos de apontar, entremos na análise do que tem constituído, nos últimos dias, a polémica sobre a cognominada "geração da viragem" que, na realidade, é parte da triologia lançada publicamente: geração do 25 de Setembro, geração do 8 de Março (há que lembrar aqui toda a geração de médicos, engenheiros, agrónomos. veterinários, jornalistas, técnicos de várias especialidades que, a partir de 25 de Junho de 1975, souberam aguentar o país) e a geração da viragem - consubstanciada no dístico: 3 gerações, um só Povo, uma só Nação - como sendo a linha da evolução do nosso país e do nosso povo.

Pelo direito universal vigente na altura em que foi consagrado o direito à autode­terminação e independência dos povos colonizados, como resultado da vitória das forças progressistas de todo o mundo sobre a barbárie do fascismo e do nazismo, após a II Guerra Mundial, o nosso país recebeu o estatuto de país ocupado e só em 25 de Junho de 1975, com a proclamação da independência nacional, legitimada pela autoridade política da Frelimo e pelo reco­nhecimento da ONU, foi "de facto" e "de jure" considerado universalmente como País, Nação e Estado.

Mas na realidade histórica, o nosso país existe a partir do momento em que foi constituído colónia e reconhecido pela legalidade universal de então a legalidade do poder imperialista dominante, na base do célebre Acordo de Berlin de 1875, em que o continente africano foi partilhado pelas potências coloniais.

Durante todo este período, o nosso povo sofreu todo o tipo de exploração e humilhação do regime colonial, mas não se submeteu; pelo contrário, foi criando, tendo em conta as condições objectivas de cada momento, as formas de luta que gerariam o momento histórico da libertação nacional do jugo estrangeiro, sob o lema: libertar a terra e os homens, luta que ainda se mantém.

De facto, esta Pátria de um só Povo, uma só Nação é obra de uma longa pleiade de compatriotas, desde Maguiguana com o seu repto desesperado, mas heróico e simbólico, ao já ocupante colonialista, passando pelas acções cada vez mais incisivas, do simples aldeão contra o xibalo e as culturas obrigatória, do operariado na estiva, na construção civil e na ferrovia até à intelectualidade com os primeiros panfletos e os primeiros capítulos de literatura e aos que produziram e difundiram as primeiras mensagens da nossa Arte; desde os que sofreram nas cadeias e na tortura, aos que ofereceram a vida no massacre de Mueda como mensagem para uma nova forma de luta, aos que lutaram de armas na mão e àqueles que nos inspiraram os princípios da Constituição e os versos do Hino Nacional..

Não é, pois, histórica, política e cul­turalmente correcto, considerar-se que a luta do povo moçambicano começa em 25 de Junho de 1962. Aliás, neste marco encontram-se muitos membros de várias gerações (por exemplo: Eduardo Mondlane é de 1920, Marcelino dos Santos é de 1930). A criação da Frelimo é resultado das condições criadas ao longo da luta de várias gerações e de condições objectivas a nível regional e internacional. Situa-se neste quadro o combate a nível internacional de dirigentes e militantes (Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Noémia de Sousa, Lúcio Lara, Mário de Andrade, Eduardo Mondlane, entre outros) dos movimentos de libertação nacional das "colónias por­tuguesas" que, na década de 50, dentro e fora do quadro da Conferência da organização dos Nacio­nalistas das Colónias Portuguesas (C.O.N.C.P) foram  desmascarando e denunciando, a nível mundial, o colonialismo português, contribuição fundamental para que a passagem à forma de luta armada obtivesse o indispensável apoio material e político internacional, tão vital para o processo que levou à independência nacional.

É nesta realidade histórica que o nosso povo se inscreveu como autor da luta contra a opressão e a humilhação do colonialismo, pela libertação nacional. É no marco desta fase da História Universal que estamos inscritos e que nos orgulhamos de aí estar.

É, pois, obrigação orientar a fase actual da luta com base na nossa realidade histórica actual. As formas de luta que foram sendo adoptadas em função das condições objectivas de cada momento e que levaram à mobilização geral para a batalha vitoriosa pela libertação definitiva da dominação colonial impõem, como tudo indica, que se adoptem, hoje, aquelas que levem, de novo, à mobilização geral de todas as forças vivas nacionalistas progressistas, o que implica identificar os problemas fundamentais actualmente existentes no nosso Povo e na nossa Nação.

E não parece haver dúvida de que não é dividindo-nos em gerações, mais heróicas umas do que outras, ou como sendo exemplo único, que obteremos a Unidade Nacional tão vital para completarmos a vitória do lema "libertar a terra e os homens".

Saibamos respeitar e tirar lições de cada fase da nossa História.

*Combatente pela independência (NdR)

SAVANA – 18.06.2010

--
(MiradourOnline)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Angola24Horas

Últimas da blogosfera

World news: Mozambique | guardian.co.uk

Frase motivacionais

Ronda noticiosa

Cotonete Records

Cotonete Records
Maputo-based group

Livros e manuais

http://www.scribd.com/doc/39479843/Schaum-Descriptive-Geometry