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VOA News: África

terça-feira, 22 de junho de 2010

A-propósito ainda sobre História da FRELIMO (1)

SR. DIRECTOR!

Estive ausente do país por motivos de serviço. Ao regresso, um amigo apresentou-me a resposta do amigo Benedito Marrime, publicado no "ZAMBEZE" de 17 de Março de 2010, sobre o qual tenho a honra de lhe esclarecer em definitivo os factos reais, sem no entanto precisar de recorrer a Enciclopédias, dado que os factos foram por mim vividos.

Maputo, Sábado, 19 de Junho de 2010:: Notícias 

Se se lembra, o amigo Benedito Marrime dizia, no seu artigo publicado no "ZAMBEZE" no dia 10 de Março de 2010, que o camarada Coronel Sérgio Vieira teria adiado ou omitido contar a história da FRELIMO no seu recente livro "Participei, por isso testemunho", e, eu dizia que o camarada Coronel Sérgio Vieira não podia omitir factos da história da Frelimo, por não poder fazê-lo.

Dizia também que devido à sua raça mestiça não era fácil estar acima de todos os factos, uma vez que a FRELIMO tinha quatro frentes ao mesmo tenho, nomeadamente: frente da luta armada; frente da luta política no interior e no exterior; frente da educação e frente de produção.

Parece-me que o meu interlocutor não percebeu quando dei exemplo do Departamento de Defesa (DD), pelo facto de o seu chefe reportar os factos directamente ao presidente e receber instruções.

Em nenhum momento eu disse que o camarada Filipe Samuel Magaia fora o único que ocupara a categoria de DD durante a luta de libertação nacional.

Queria eu dizer que os factos na FRELIMO eram classificados em políticos, militares, educativos e produtivos.

Ora, o camarada Coronel Sérgio Vieira, durante largo tempo da luta armada, esteve na frente política externa. Daí que de 1964 a 1967, tenha representado a FRELIMO em Argel e, de 1967 a 1969, tenha representado a FRELIMO no Cairo, Egipto.

Agora, diga-me:

Como é que ele saberia todos os factos ocorridos na frente armada (dentro de Moçambique), e nas outras frentes (política, educativa e produtiva) em Nachingweya, em Dar-Es-Salaam, em Dodoma e em Songueya? E se tivermos em conta que a comunicação não era totalmente efectiva como hoje?

CONTINÊNCIA DE OFICIAL - De facto não há continência que se faz de barriga para baixo ou na posição horizontal do corpo. Mas, continência de oficial é aquela que se dá do fundo do coração, não pelo respeito das divisas, mas sim pelo reconhecimento de coragem serena e destemida da pessoa a que se destina a continência. Isso só saberá se um dia, por acaso, presenciar a coragem serena e destemida de um Homem.

MULTIPARTIDARISMO muito interessante perceber que pessoas confundem DEMOCRACIA com FANTOCHADA. Sr. Benedito enumera uma série de partidos da década sessenta e a isso chama de multipartidarismo, ou seja democracia.

Será que o Sr. Marrime sabe concretamente o que é isso de múltiplos partidos?

- Diga-me se é que houve multipartidarismo na África do Sul, no Lesotho, na Namíbia, na Suazilândia, em Angola e no Botswana? Qual foi o ano em que se fez o sufrágio universal desses povos, em que escolheram os seus dirigentes? Diga-me também os nomes dos respectivos presidentes que saíram desses sufrágios universais?

- Acha que John Voster, Sobuza Dlamini, Ian Smith, Mwalimu Julius Kambarage Nyerere, Seretse Khama, Kenneth David Kaunda, foram presidentes por que foram eleitos por sufrágio universal?

Falou da ZANU e da ZAPU na Rodésia do Sul. Acha que as fantochadas de Ndabaningi Sithole e do bispo Abel Tendekayi Muzorewa, entre 1978 e 1979, eram multipartidarismo?

Se na África do Sul havia democracia, como explica a presença de Nelson Rolihlahla Mandela na Ilha de Robben?

GUIAS DE MARCHA - Disse que as guias de marcha começaram antes de Dezembro de 1975. Então, explique-me o que é que se tratou na reunião da praia de Tofo, em Inhambane, e na reunião de Mocuba, na Zambézia, ambas antes do mês de Dezembro de 1975?

Diz ter sido vasculhada a sua bagagem em Novembro de 1974, pela primeira vez, quando viajava para Inhambane, por camaradas da FRELIMO.

- Eh! Marrime! Isto é ridículo e falso. Eu que lhe escrevo cheguei a actual Lourenço Marques no dia 28 de Março de 1975, às 21:00 horas, e, juntamente com os meus camaradas, fomos colocados no quartel CICA, em frente ao actual Instituto do Coração, onde fomos recebidos por soldados portugueses, que passaram a fazer patrulhamento connosco.

Como é que em Novembro de 1974, um mês e meio depois da assinatura do Acordo de Lusaka, a FRELIMO mandaria efectivos de camaradas da Tanzânia a Lourenço Marques com missão prioritária de vasculhar e revistar o seu próprio povo nas ruas?

Afinal para que era a luta de libertação nacional?

  • M. Mukhoviwa

A-propósito ainda sobre História da FRELIMO (Concl.)

SR. DIRECTOR!

LUTA NÃO CHEGOU À PROVÍNCIA DE NAMPULA - Senhor Benedito, não escreva aquilo que não tem certeza. Porque os dossiers da FRELIMO ainda estão encerrados.

Maputo, Terça-Feira, 22 de Junho de 2010:: Notícias

 

Então, se a luta de libertação não chegou à província de Nampula, o que é que faziam nas matas de Lalaua e Malema aqueles camaradas que infelizmente foram cercados pelos membros da PIDE, OPVS, soldados caçadores, sipaios usando redes de caça, tendo-os capturado, manietado e assassinado, entre 1966 e 1969?

Que dizer dos camaradas que foram cercados e assaltados na base de Namarrói, que depois de capturados foram metidos numa gruta, na montanha e, regados com petróleo, posteriormente ateados com fogo, dos anos a 1966 e 1968?

COMENTÁRIO DESNECESSÁRIO - Dilacerou muito ao falar de Yacob Sibinde e de Miguel Mabote.

A pergunta é:

- Onde entram estas ilustres personalidades da política nacional neste debate sobre a crítica ao livro do camarada Coronel Sérgio Vieira?

- Por que tanta maldade contra pessoas que fazem o que acham que devem fazer, no exercício da sua cidadania?

DIRIGENTES NÃO POSSUEM A VERDADE DE INFORMAÇÃO - No livro do camarada Coronel Sérgio Vieira há uma passagem onde ele diz que na História da República de Moçambique só houve um tumulto ou arruaça protagonizado por camaradas no Quartel de Boane e que havia pessoas que, em vez de interrogar os camaradas, torturavam-nos.

O acontecimento não foi do jeito como está no livro e não foi em Boane. Desde a Luta de Libertação Nacional, no Governo de Transição, até Dezembro de 1975, os Camaradas da FRELIMO não recebiam salário. No Governo de Transição as necessidades primárias dos camaradas eram satisfeitas com a distribuição de sabão, sabonetes, cigarros, cobertores e fardamento, feita quinzenalmente no caso de cigarros e sabão. Depois da Independência, porque certos camaradas eram casados, as necessidades primárias das famílias começaram a aumentar e certos camaradas começaram a contrair dívidas quer nos hotéis, onde hospedavam as suas famílias, quer nas mercearias e no meio disto havia camaradas oportunistas que simplesmente hospedavam-se nos hotéis e contraíam despesas e diziam no fim:  

"Mandem as contas das despesas para a Ponta Vermelha, que o Camarada Presidente Samora Moisés Machel pagará". E algumas vezes aconteciam escaramuças por os gestores recusarem acatar, exigindo o pagamento imediato das contas, o que originava que se chamasse a Polícia, que era Corpo da Polícia de Moçambique, composta por antigos polícias do regime colonial e alguns camaradas seleccionados. Só que os camaradas não respeitavam essa Polícia, o que fez com que entre o dia 1 e dia 13 de Dezembro de 1975 houvesse uma reunião em Boane, na qual estavam todos os comandantes dos quartéis do então Lourenço Marques, actual Maputo, e alguns comandantes do Corpo da Polícia de Moçambique, onde o Camarada Presidente Samora Machel criticou o comportamento dos camaradas, tendo dito que aquela forma de agir era de um javali, porque o javali não visualiza o futuro, mas sim o presente, o que está à sua frente. A crítica foi severa de modo que certos camaradas não entenderam. Daí que no dia 17 de Dezembro de 1975, numa visita ao Batalhão Mac-Mahon, cujo quartel era a B.O., o camarada General Sebastião Marcos Mabote, na altura Chefe do Estado-Maior General das FPLM, os camaradas insurgiram-se contra o não pagamento dos salários, contra tudo, até ao ponto de perderem respeito ao general, tendo este sido acudido pela sua segurança e escolta.

Foi a partir desta insurreição neste quartel que as revoltas se alastraram às outras unidades tais como Manutenção Militar, Unidade de Protecção à SONEFE, etc.

Dada a gravidade da situação, o chefe do Estado-Maior General deu ordens ao quartel de Boane, onde estavam todos os quadros do país num curso de formação para oficiais, denominado 25 de Setembro, para que interviessem e repusessem a ordem na cidade de Lourenço Marques.

Foi imediatamente destacada a 1ª e a 2ª Companhias de oficiais de 25 de Setembro, comandadas pelos majores Artur Joaquim Laquimane e Nampulula, os quais detiveram no dia 18 do mesmo mês 90 porcento do efectivo do batalhão revoltoso e levaram-nos para Boane, onde foram entregues à direcção do Centro e os restantes revoltosos foram neutralizados nos dias posteriores pela 3ª e 4ª companhias, comandadas pelos Majores Mário Chaomba e Cara Alegre.

Como pode ver, o camarada Coronel Sérgio Vieira, uma vez dirigente do Governo, pode não ter tido a informação exacta do que teria acontecido; daí que no seu livro diga que a arruaça aconteceu em Boane.

Não é minha intenção continuar a falar sobre este tema, porém só desta vez fi-lo pura e simplesmente para lhe esclarecer e ficar a saber que nem tudo o que se escreve é verdade.

Mais não disse.

  • M. Mukhoviwa
--
(MiradourOnline)

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