"MOCAMBIQUE PARA TODOS,,

VOA News: África

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Precisamos de um Governo austero

Editorial

Maputo (Canalmoz) – Temos vindo a ouvir certos senhores indignarem-se contra as vozes da sociedade civil que os criticam pela opulência em que vivem à custa do Estado. Usam os mais incríveis argumentos ao tentarem justificar a sua arrogância, mas já não conseguem enganar mais os cidadãos que apenas esperam que o Estado e quem o gere – o Governo – cumpra com o que lhe compete. O que os cidadãos menos distraídos mais querem é que esses senhores, que vivem pendurados no Estado, se deixem de exibir riqueza à custa de quem paga impostos, em que se incluem os carenciados. Basta de “show-off”.

Na direcção do Estado tem de estar quem está para servir o País, não quem se quer servir do País.
Já lá vai o tempo em que as pessoas se rendiam e se calavam quando lhes diziam: “o povo gosta de ver os seus dirigentes bem vestidos”. Agora estamos no tempo em que o colonialismo já lá vai e por isso o que acontece já não pode ser justificado como obra de exploração colonial. Agora há vítimas dos abusos de quem está no Governo.
Quem quer viver acima das suas possibilidades à custa do Estado que é sustentado pelo esforço dos cidadãos que pagam impostos para verem o Estado fazer obras e não para alimentarem o ego dos seus funcionários superiores e governantes, só deve é retirar-se e ir à procura dessas condições fora do Estado.
É um direito de cada cidadão procurar para si as melhores condições de vida honestamente. Todos têm o direito de viver no mais alto conforto, mas à sua própria custa. Todos têm o direito de serem ricos, mas só se percebe que alguém enriqueça no Estado se for corrupto.
O Estado não pode continuar a ser a mina de um conjunto de senhores que se julgam com privilégios especiais só porque “lutaram” contra o colonialismo.
Há muitos combatentes anti-coloniais que vivem na miséria absoluta. Que direitos têm uns mais do que os outros?
E porque terão os combatentes que ter mais direitos que os demais cidadãos? Querem que se crie a ideia de que quem luta fica com o País? Não será isso um convite a que os cidadãos se armem contra o Governo para depois também ficarem com tudo a pretexto de que lutaram contra os que estavam a roubar o Estado?
A “ostentação de riqueza dos governantes moçambicanos” não é tolerável.
Os doadores do nosso Orçamento do Estado já não escondem que não gostam de ver dinheiro da ajuda dos seus países a Moçambique, ser derretido em carros de luxo e em grandes mansões pelos funcionários superiores do Estado, sobretudo pelos membros do Governo.
A embaixadora do Reino da Suécia, Ulla Andrém, numa entrevista que concedeu ao jornalista José Belmiro e publicada no “O País”, na edição de sexta-feira, 29 de Junho, não escondeu que não gosta que um País que recebe ajuda externa suporte uma classe governante que vive faustosamente.
Quem anda pelo mundo a pedir ajuda não pode fazer o que os funcionários superiores do nosso Estado andam a fazer. Gastam rios de dinheiro sem se preocuparem em cuidar dos cidadãos com menos condições de vida e até sem condições de sobrevivência mas para o que é importante o Estado fazer nunca há dinheiro.
Por causa dos abusadores do erário público o Estado deixa muito por fazer.
Não há dinheiro para fomento de agricultura, não há dinheiro para se comprar um tractor num determinado ponto do País, mas há sempre dinheiro para Mercedes, sirenes e fortunas em combustíveis.
A ajuda internacional obedece ao pressuposto de que com o dinheiro dado o Governo vá criar condições para que os moçambicanos deixem de viver na miséria quase indigente que continua persistente como o provam os números, os factos.
Os pobres, em nome de quem se justifica a ajuda internacional, continuam a viver na miséria mais ofensiva à consciência de quem acha que só depois de uma distribuição de riqueza pública que dignifique os cidadãos no geral se pode admitir que os mais altos dignitários do Estado usufruam de certos privilégios que agora se acham no direito de ter.
O dinheiro do Estado tem de ser melhor gasto.
Moçambique ainda não tem um nível de desenvolvimento que justifique que quem está em funções no Estado usufrua de regalias excepcionais.
Os governantes não podem continuar a ignorar a miséria que nos rodeia.
Os governantes têm de se convencer que não são donos de Moçambique. O Estado não lhes pertence.
O Estado pertence a todos os cidadãos e existe para cuidar do bem comum. O Governo existe para gerir o Estado. O Governo não é para um conjunto de cidadãos se apoderarem do Estado e fazerem dele a sua machamba colectiva.
Um Estado que não consegue garantir o que a Constituição estabelece que deve ser assegurado aos cidadãos do País, não pode ter um Governo que atribui aos seus próprios membros regalias exorbitantes antes de serem melhoradas as condições dos que ainda não conseguiram ter o essencial para viver com dignidade.
Num País onde água não falta mas em que o Estado ainda não conseguiu assegurar água potável a todos, sendo este um objectivo essencial, não é admissível que quem está no Governo ou em funções em instituições desse mesmo Estado usufrua de regalias supérfluas.
Num Estado em que a esmagadora maioria morre por falta de assistência médica e medicamentosa quem governa tem de se deixar de gastar dinheiro em carros de grandes marcas e modelos, tem de se deixar de querer viver em grandes mansões à custa do Estado. Os cargos que exercem podem ser dignificados sem o que estamos a ver.
Antes de quererem mais do que a sua dignidade exige, os senhores do Governo e outros dignitários do Estado têm de compreender que há milhões de moçambicanos à procura do mínimo de dignidade que ainda não têm.
Não criticamos a dignidade, criticamos a opulência. Criticamos os excessos, os exageros.
O Governo também não pode continuar a usar as forças de defesa e segurança para impedir o Povo de mostrar a sua indignação contra os abusos que se praticam com fundos do Estado.
A esmagadora maioria dos moçambicanos ainda não tem uma casa para se abrigar das intempéries e entre esses há até muitos familiares de agentes de defesa e segurança.
Pode-se admitir que uns quantos gastem milhões de dólares do erário público em mansões, viagens de luxo, estadias em hotéis caríssimos, enquanto os seus compatriotas não têm o mínimo de dignidade?
De que moçambicanidade nos falam quando usam e abusam dos fundos do Estado?
Todos pagamos impostos directos e indirectos para o Estado à espera que o Estado faça o que lhe compete. Quando vemos os senhores investidos de autoridade no Estado gastarem os nossos impostos a ofenderem a vista dos cidadãos com a opulência de que se rodeiam e a dizerem-nos que não há dinheiro para outras coisas fundamentais?
Os que sofrem não são pessoas?
Um carro condigno tem de ser o último modelo da marca mais sofisticada?
Uma casa condigna não se pode conseguir por menos de um milhão de dólares?
Antes de se pagarem salários mais dignos aos funcionários públicos subalternos, em que se incluem os polícias, de que dignidade podem falar os que andam a exibir um fausto intolerável à custa dos impostos de todos os contribuintes?
Antes de se dar escola gratuita a todas as crianças, algum membro do Governo pode justificar que precisa de mais regalias para ter dignidade?
Isto que está a acontecer, a riqueza que alguns exibem sendo funcionários do Estado, não se conhecendo salários faustosos, são fortunas feitas como? Não será a tal “corrupção, um problema muito grande e visível em Moçambique” como observa a embaixadora sueca?
Resta-nos propor que se reflicta nisto. Não acreditados que a paz social se mantenha por muito tempo se nada se fizer. A paciência das pessoas está-se a esgotar. Precisamos de um Estado mais austero e solidário. (Canalmoz / Canal de Moçambique)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Angola24Horas

Últimas da blogosfera

World news: Mozambique | guardian.co.uk

Frase motivacionais

Ronda noticiosa

Cotonete Records

Cotonete Records
Maputo-based group

Livros e manuais

http://www.scribd.com/doc/39479843/Schaum-Descriptive-Geometry