Editorial
Maputo
(Canalmoz) – Temos vindo a ouvir certos senhores indignarem-se contra
as vozes da sociedade civil que os criticam pela opulência em que vivem à
custa do Estado. Usam os mais incríveis argumentos ao tentarem
justificar a sua arrogância, mas já não conseguem enganar mais os
cidadãos que apenas esperam que o Estado e quem o gere – o Governo –
cumpra com o que lhe compete. O que os cidadãos menos distraídos mais
querem é que esses senhores, que vivem pendurados no Estado, se deixem
de exibir riqueza à custa de quem paga impostos, em que se incluem os
carenciados. Basta de “show-off”.
Na direcção do Estado tem de estar quem está para servir o País, não quem se quer servir do País.
Já
lá vai o tempo em que as pessoas se rendiam e se calavam quando lhes
diziam: “o povo gosta de ver os seus dirigentes bem vestidos”. Agora
estamos no tempo em que o colonialismo já lá vai e por isso o que
acontece já não pode ser justificado como obra de exploração colonial.
Agora há vítimas dos abusos de quem está no Governo.
Quem
quer viver acima das suas possibilidades à custa do Estado que é
sustentado pelo esforço dos cidadãos que pagam impostos para verem o
Estado fazer obras e não para alimentarem o ego dos seus funcionários
superiores e governantes, só deve é retirar-se e ir à procura dessas
condições fora do Estado.
É
um direito de cada cidadão procurar para si as melhores condições de
vida honestamente. Todos têm o direito de viver no mais alto conforto,
mas à sua própria custa. Todos têm o direito de serem ricos, mas só se
percebe que alguém enriqueça no Estado se for corrupto.
O
Estado não pode continuar a ser a mina de um conjunto de senhores que se
julgam com privilégios especiais só porque “lutaram” contra o
colonialismo.
Há muitos combatentes anti-coloniais que vivem na miséria absoluta. Que direitos têm uns mais do que os outros?
E
porque terão os combatentes que ter mais direitos que os demais
cidadãos? Querem que se crie a ideia de que quem luta fica com o País?
Não será isso um convite a que os cidadãos se armem contra o Governo
para depois também ficarem com tudo a pretexto de que lutaram contra os
que estavam a roubar o Estado?
A “ostentação de riqueza dos governantes moçambicanos” não é tolerável.
Os
doadores do nosso Orçamento do Estado já não escondem que não gostam de
ver dinheiro da ajuda dos seus países a Moçambique, ser derretido em
carros de luxo e em grandes mansões pelos funcionários superiores do
Estado, sobretudo pelos membros do Governo.
A
embaixadora do Reino da Suécia, Ulla Andrém, numa entrevista que
concedeu ao jornalista José Belmiro e publicada no “O País”, na edição
de sexta-feira, 29 de Junho, não escondeu que não gosta que um País que
recebe ajuda externa suporte uma classe governante que vive
faustosamente.
Quem
anda pelo mundo a pedir ajuda não pode fazer o que os funcionários
superiores do nosso Estado andam a fazer. Gastam rios de dinheiro sem se
preocuparem em cuidar dos cidadãos com menos condições de vida e até
sem condições de sobrevivência mas para o que é importante o Estado
fazer nunca há dinheiro.
Por causa dos abusadores do erário público o Estado deixa muito por fazer.
Não
há dinheiro para fomento de agricultura, não há dinheiro para se
comprar um tractor num determinado ponto do País, mas há sempre dinheiro
para Mercedes, sirenes e fortunas em combustíveis.
A
ajuda internacional obedece ao pressuposto de que com o dinheiro dado o
Governo vá criar condições para que os moçambicanos deixem de viver na
miséria quase indigente que continua persistente como o provam os
números, os factos.
Os
pobres, em nome de quem se justifica a ajuda internacional, continuam a
viver na miséria mais ofensiva à consciência de quem acha que só depois
de uma distribuição de riqueza pública que dignifique os cidadãos no
geral se pode admitir que os mais altos dignitários do Estado usufruam
de certos privilégios que agora se acham no direito de ter.
O dinheiro do Estado tem de ser melhor gasto.
Moçambique
ainda não tem um nível de desenvolvimento que justifique que quem está
em funções no Estado usufrua de regalias excepcionais.
Os governantes não podem continuar a ignorar a miséria que nos rodeia.
Os governantes têm de se convencer que não são donos de Moçambique. O Estado não lhes pertence.
O
Estado pertence a todos os cidadãos e existe para cuidar do bem comum. O
Governo existe para gerir o Estado. O Governo não é para um conjunto de
cidadãos se apoderarem do Estado e fazerem dele a sua machamba
colectiva.
Um
Estado que não consegue garantir o que a Constituição estabelece que
deve ser assegurado aos cidadãos do País, não pode ter um Governo que
atribui aos seus próprios membros regalias exorbitantes antes de serem
melhoradas as condições dos que ainda não conseguiram ter o essencial
para viver com dignidade.
Num
País onde água não falta mas em que o Estado ainda não conseguiu
assegurar água potável a todos, sendo este um objectivo essencial, não é
admissível que quem está no Governo ou em funções em instituições desse
mesmo Estado usufrua de regalias supérfluas.
Num
Estado em que a esmagadora maioria morre por falta de assistência
médica e medicamentosa quem governa tem de se deixar de gastar dinheiro
em carros de grandes marcas e modelos, tem de se deixar de querer viver
em grandes mansões à custa do Estado. Os cargos que exercem podem ser
dignificados sem o que estamos a ver.
Antes
de quererem mais do que a sua dignidade exige, os senhores do Governo e
outros dignitários do Estado têm de compreender que há milhões de
moçambicanos à procura do mínimo de dignidade que ainda não têm.
Não criticamos a dignidade, criticamos a opulência. Criticamos os excessos, os exageros.
O
Governo também não pode continuar a usar as forças de defesa e segurança
para impedir o Povo de mostrar a sua indignação contra os abusos que se
praticam com fundos do Estado.
A
esmagadora maioria dos moçambicanos ainda não tem uma casa para se
abrigar das intempéries e entre esses há até muitos familiares de
agentes de defesa e segurança.
Pode-se
admitir que uns quantos gastem milhões de dólares do erário público em
mansões, viagens de luxo, estadias em hotéis caríssimos, enquanto os
seus compatriotas não têm o mínimo de dignidade?
De que moçambicanidade nos falam quando usam e abusam dos fundos do Estado?
Todos
pagamos impostos directos e indirectos para o Estado à espera que o
Estado faça o que lhe compete. Quando vemos os senhores investidos de
autoridade no Estado gastarem os nossos impostos a ofenderem a vista dos
cidadãos com a opulência de que se rodeiam e a dizerem-nos que não há
dinheiro para outras coisas fundamentais?
Os que sofrem não são pessoas?
Um carro condigno tem de ser o último modelo da marca mais sofisticada?
Uma casa condigna não se pode conseguir por menos de um milhão de dólares?
Antes
de se pagarem salários mais dignos aos funcionários públicos
subalternos, em que se incluem os polícias, de que dignidade podem falar
os que andam a exibir um fausto intolerável à custa dos impostos de
todos os contribuintes?
Antes
de se dar escola gratuita a todas as crianças, algum membro do Governo
pode justificar que precisa de mais regalias para ter dignidade?
Isto
que está a acontecer, a riqueza que alguns exibem sendo funcionários do
Estado, não se conhecendo salários faustosos, são fortunas feitas como?
Não será a tal “corrupção, um problema muito grande e visível em
Moçambique” como observa a embaixadora sueca?
Resta-nos
propor que se reflicta nisto. Não acreditados que a paz social se
mantenha por muito tempo se nada se fizer. A paciência das pessoas
está-se a esgotar. Precisamos de um Estado mais austero e solidário. (Canalmoz / Canal de Moçambique)
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