por Egídio Vaz, historiador
Maputo
(Canalmoz) – O historiador moçambicano, Egídio Vaz, publicou na sua
página do facebook um texto muito curioso, onde ironiza a imagem de um
Moçambique “cor de rosa” promovida pelo regime no poder em Moçambique e
numa das passagens diz que para dar mérito a Eduardo Mondlane,
reconhecido como o “arquitecto da Unidade Nacional” aceita que o Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi fundado nos EUA, onde vivia
Eduardo Mondlane aquando da fundação deste Movimento de Libertação.
O Canalmoz publica na integra o texto do jovem historiador, com a devida vénia:
“Pai, eu te confesso!
Eu
sou um frustrado. Tudo o que escrevo aqui resulta da minha íntima
frustração, de desespero e tem como objectivo fundamental despertar
atenção aos que mais gostaria que estivessem no meu círculo. Tentei, sem
sucesso, reconciliar-me contigo pai, recorrendo a alguns dos teus
amigos e mais chegados acólitos. Debalde. Eles conhecem a minha vida
inteira; têm documentado o meu trajecto, de tal sorte que sempre que os
peço reintegração, eles ponderam indefinitivamente. Pai, hoje venho
pedir-te perdão por tudo o que escrevi sobre ti, a começar pela Historia
de Moçambique.
Eu
devo tudo a ti pai; até a minha vida. Tu me educaste; tu me dás de
comer; tu me vestes, enfim, só pode ser por minha ingratidão que hoje
não reconheço as tuas obras. Mas mais que isso, queria hoje desmentir
publicamente algumas coisas que insistentemente andei a escrever:
1. A
Frelimo foi fundada nos Estados Unidos da América: pai, muitas vezes
disse que a Frelimo foi fundada em Dar-es-Salaam, mesmo que haja
documentos concretos que dizem que o pacto e o nome FRELIMO foram
concebidos em Accra, onde membros da UDENAMO e MANU estiveram presentes
no “All Freedom fighters Conference” e que no dia 02 de Junho de 1962
chegou-se a assinatura do pacto da unidade entre estes dois movimentos.
No mesmo ano, o MANU se juntou a FRELIMO já em Tanzania. Apesar de
Dar-es-Salaam tenha sido instituído para efeitos oficiais como tendo
sido o local da fundação do movimento de libertação, isto só para
inscrever Eduardo Mondlane nas páginas douradas da História de
Moçambique (e com todo o mérito), eu prefiro, e para que dúvidas não
haja mais, dizer que quem fundou a FRELIMO foi Eduardo Mondlane nos
Estados Unidos da América. Desculpa pai por todas as mentiras que andei a
profanar.
2.
Kaulza de Arriaga (comandante da Operação Nó-Górdio) foi derrotado
pelos comandos da IV Região Militar da FRELIMO. Pai, durante muito tempo
lancei impropérios dizendo que a IV região militar da FRELIMO nunca
existiu. Na verdade mentia perdidamente. Hoje quero dizer e reconhecer
que afinal, foi ela quem derrotou o Nó-Górdio de Kaulza. Nadaram da Baia
de Maputo até a Cabo Delgado para de lá rechaçarem as tropas
portuguesas.
3.
A vida melhorou muito desde 2004 aos nossos dias: movido pelo meu
espírito de frustrado, tenho vindo a dizer sozinho que a pobreza não
está a reduzir em Moçambique. Tenho dito sozinho que as políticas
adoptadas estão a concentrar a riqueza em determinadas mãos apenas. Os
dados do INE, do Ministério da Agricultura, do Banco Mundial, do IESE e
de outros órgãos de pesquisa que uso na verdade, não são credíveis,
confesso. A vida meu pai, mudou para melhor para todos moçambicanos.
Agora podemos ver as melhorias no sistema de transportes; agora já
podemos escolher a companhia aérea que queremos para voar para qualquer
canto do país; agora podemos subir machimbombo e circular na cidade. Ah!
sim, a indústria extractiva está a trazer maravilhas. Obrigado pai por
trazer os sete milhões para o Distrito. Só eu não consigo ver as
maravilhas do desenvolvimento. Sim, Cahora Bassa é nossa e por esta
razão a qualidade da energia melhorou; os preços baixaram e TODOS os
distritos têm energia. O povo já produz o suficiente para si e está a
vender. A fome está mesmo vencida. SIM, eu tenho feito muita confusão:
Na verdade, CRESCIMENTO ECONÓMICO E O MESMO QUE DESENVOLVIMENTO SOCIAL.
Só
para terminar, queria dizer que todas as coisas mas que estão acontecer
são fruto do azar dos meus avos. Por causa deles, há corrupção em
Moçambique. São eles que roubam no INSS; foram meus avós que roubaram em
Tete, são meus maus espíritos que estão a trazer tumultos em Kateme.
Falo em vão da corrupção, da má governação, do saque a fundos públicos,
da promiscuidade institucionalizada, enfim, tudo por maldade. Isto não
está a acontecer. Por isso, pai, peco desculpas.
Prometo mudar.
Maputo, aos 20 de Julho de 2012 (Egídio Vaz)
(*) Título da responsabilidade do Canalmoz. Com a devida vénia
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