Luta pelas minas de Naburi e Moebase
Maputo
(Canalmoz) – A disputa de licenças de exploração de minas de areias
pesadas de Naburi e Naburi e Moebase, está ao rubro entre a “Pathfinder
Minerals Plc”, de Londres e uma empresa com o mesmo nome de que é
administrador Jacinto Veloso, general da reserva, ex-ministro de vários
governos de Moçambique e ex-membro do Bureaux Político do Partido
Frelimo. Depois de dois comunicados contundentes, divulgados pelas duas
empresas em disputa, fazendo acusações mútuas, agora chegou-nos um
terceiro comunicado da “Pathfinder Mineral Plc”, a opor-se à Pathfinder
Moçambique SA”, que revela com detalhe as estratégias usadas pelo
general Jacinto Veloso, administrador desta última para entrar na
disputa pelas licenças da Pathfinder Minerals Plc.
O
mais recente comunicado da “Pathfinder Mineral Plc”, britânica – emitido
em Londres e enviado à Redacção do Canalmoz/Canal de Moçambique pela
Ferro & Ferro – que passamos a transcrever na íntegra, ajuda a
melhor se compreender o nível de fricção a que já chegou o
braço-de-ferro entre as partes. Neste comunicado a empresa britânica
desmonta as estratégias de Jacinto Veloso:
Comunicado
“As licenças de exploração da Pathfinder Minerals foram transferidas para uma empresa controlada pela JV Consultores.
A Pathfinder faz um relato rigoroso sobre as circunstâncias
Têm
surgido relatos na imprensa moçambicana sobre uma disputa entre a
Pathfinder Minerals e o Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco,
envolvendo licenças de concessão de exploração mineira atribuídas pelo
Ministério dos Recursos Minerais de Moçambique relativamente às zonas
conhecidas como Naburi e Moebase (adiante designadas “Licenças”), na
Província de Zambézia.
A
disputa diz respeito a medidas tomadas pelo Sr. General Veloso e Sr.
Diogo Cavaco no sentido da transferência das Licenças da Companhia
Mineira de Naburi (“CMDN”), uma empresa da qual eram Administradores,
para uma empresa recém-criada, a Pathfinder Moçambique, da qual são
proprietários.
É
curioso que o Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco tenham utilizado
uma empresa com um nome semelhante ao da Pathfinder Minerals como
destinatária da transferência das Licenças.
A
disputa diz também respeito às tentativas de Sr. General Veloso e o Sr.
Diogo Cavaco de negarem que a Pathfinder Minerals (através da sua
subsidiária IMM cujo capital aquela detém na totalidade) detém 99,99%
das acções da CMDN.
As Licenças
A
Pathfinder Minerals é uma empresa cotada na Bolsa de Valores de Londres.
O Sr. General Veloso foi seu administrador até Novembro de 2011, data
em que se demitiu e declarou que a subsidiária da Pathfinder Minerals, a
CMDN, já não era titular das Licenças.
Os
administradores e os advogados da Pathfinder Minerals procuraram
imediatamente obter uma clarificação urgente relativamente à situação
das Licenças. Não foi apresentada qualquer clarificação. Só mais de
quatro meses mais tarde é que o Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco
deram a conhecer, pela primeira vez, a existência de um suposto contrato
de transferência da Licença de Naburi para a CMDN, contrato que,
segundo dizem, foi celebrado entre a empresa do Sr. General Veloso, a JV
Consultores, o Sr. Diogo Cavaco e a CMDN em 27 de Fevereiro de 2006.
Os
termos e as circunstâncias deste suposto contrato são, de facto,
bastante curiosos, e incluem uma disposição segundo a qual a sua
existência deve ser mantida em segredo relativamente ao Conselho de
Administração da CMDN, salvo se, e até o Sr. General Veloso ou o Sr.
Diogo Cavaco deixarem o cargo de administradores da CMDN.
Quando
a Pathfinder Minerals pediu para inspeccionar o original do suposto
contrato para que a sua autenticidade pudesse ser confirmada por peritos
forenses, os advogados do Sr. General Veloso e do Sr. Diogo Cavaco
alegaram que o original impresso tinha sido roubado, o original em
suporte electrónico tinha deixado de existir e a cópia electrónica
também tinha sido roubada.
O
Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco também revelaram em Fevereiro de
2012, e também aqui pela primeira vez, a existência de uma alegada
deliberação de uma assembleia geral de accionistas da CMDN supostamente
realizada em 11 de Maio de 2009, que aprovava a aquisição, por parte da
CMDN, de uma subsidiária da BHP Billiton que detinha a Licença de
Moebase na época. A Pathfinder não compreende:
A. O motivo da exigência de os documentos serem mantidos em segredo relativamente à CMDN;
B. O
motivo pelo qual o Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco não
divulgaram previamente a existência dos mesmos, tendo em vez disso
declarado expressamente em 30 de Dezembro de 2010 que a CMDN não era
parte em nenhum contrato importante cuja existência não tivesse sido
divulgada; e
C.
De que modo a existência de tais contratos se coadunava com as
obrigações do Sr. General Veloso e e do Sr. Cavaco enquanto
administradores da CMDN e, no caso do Sr. General Veloso, da Pathfinder
Minerals.
As Acções da CMDN
Depois
de terem tomado medidas destinadas a colocar as Licenças fora do
alcance da Pathfinder, o Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco
procuram seguidamente colocar as acções da CMDN fora do alcance da
Pathfinder Minerals, contestando a posse de acções da CMDN por parte da
IMM.
A
IMM, subsidiária da Pathfinder, cujo capital pertence na íntegra a esta
última, adquiriu 399.998 de 400.000 acções da CMDN ao abrigo de quatro
contratos celebrados com o Sr. General Veloso (ou a sua empresa) e/ou
Sr. Diogo Cavaco. Contudo, o Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco
alegam que estes contratos foram anulados, rescindidos ou deixaram de
vigorar, e que a IMM nunca deteve quaisquer acções na CMDN.
Isto apesar de:
A. A
IMM ter financiado a aquisição da licença de Moebase à BHP Billiton e
garantido as obrigações da CMDN de pagamento dos USD 10 milhões
relativos ao preço de compra à BHP Billiton;
B. O
Sr. General Veloso ter escrito ao Sr. Director Nacional das Minas e a
Sua Excelência Ministra dos Recursos Minerais em 1 de Outubro e
confirmado que a IMM era detentora de 75% do capital da CMDN;
C.
Em 14 de Outubro de 2009, o Sr. Diogo Cavaco ter alterado uma
apresentação destinada ao Ministério para mostrar que a IMM era
detentora de 75% das acções na CMDN;
D. O
Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco terem participado em reuniões
dos accionistas da CMDN em 2009 e 2010 e autorizado a transferência de
300.000 e, subsequentemente, de 99.998 das acções emitidas da CMDN para a
IMM;
E.
O Sr. Diogo Cavaco ter colaborado estreitamente com a Pathfinder e os
advogados da Pathfinder para verificar a posse da CMDN por parte da IMM
(com o objectivo de informar os accionistas da Pathfinder desta
situação) quando as acções da Pathfinder foram admitidas à cotação na
Bolsa de Valores de Londres em Fevereiro de 2011;
F.
O Sr. Diogo Cavaco ter assinado, em 22 de Outubro de 2010, as
Demonstrações Financeiras da CMDN para o semestre terminado em 31 de
Dezembro de 2009, que mostravam que a IMM detinha 75% do capital da
CMDN;
G.
Em Dezembro de 2010, o Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco terem
feito com que a CMDN emitisse um certificado de acções (que assinaram
pessoalmente) indicando que a IMM era detentora de 399.998 acções da
CMDN;
H. O
Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco terem adquirido as suas
participações actuais na Pathfinder que, no seu conjunto, representam
19,12% do capital social da Pathfinder, procedendo à troca de 24,99% das
acções na CMDN por acções na IMM e, seguidamente, na Pathfinder;
A
Pathfinder e os seus administradores têm o maior respeito pelos
tribunais de Moçambique, tendo inclusivamente instaurado determinados
processos para serem julgados nos tribunais de Maputo. No entanto, os
contratos, através dos quais a IMM adquiriu as suas acções na CMDN,
regem-se pela lei inglesa e atribuem a jurisdição sobre eventuais
disputas aos tribunais ingleses. Assim sendo, é correcto que qualquer
disputa relativamente à validade, verdadeiro significado e efeito desses
contratos seja decidida pelos tribunais ingleses.
A
Pathfinder e a IMM apresentaram assim uma queixa nos tribunais ingleses
para determinar os direitos das partes ao abrigo dos contratos. O Sr.
General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco concordaram na jurisdição do
tribunal inglês, participaram nestes procedimentos, tendo assumido
alguns compromissos para com o tribunal inglês.
No
entanto, o Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco declararam
entretanto que não tencionam participar mais em procedimentos em
Inglaterra, não tendo cumprido as ordens do tribunal inglês. Procuraram
também obter ordens dos tribunais de Moçambique para impedir a
continuação dos procedimentos em Inglaterra.
Foi
concedida uma ordem provisória sem que a IMM fosse informada ou ouvida
mas, numa audiência no tribunal do Maputo, a Meritíssima Juíza confirmou
que não tinha sido informada da existência dos procedimentos em
Inglaterra quando emitiu inicialmente essa ordem, e que esta não seria
aplicável aos procedimentos que estivessem já a decorrer em Inglaterra.
O
tribunal inglês deu ordens para que o Sr. General Veloso e o Sr. Diogo
Cavaco retirassem e abandonassem quaisquer procedimentos em Moçambique
que tenham por objectivo impedir o decurso dos processos judiciais nos
tribunais ingleses. O tribunal inglês ordenou igualmente ao Sr. General
Veloso e ao Sr. Diogo Cavaco que pagassem as custas do pedido dado que
(de acordo com as palavras do Sr. Juiz Teare em 30 de Maio de 2012):
“Os factos deste caso mostram um caso invulgarmente claro de violação e de conduta desonesta”.
O Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco têm violado as ordens do tribunal inglês de forma deliberada e persistente.
Contibutos importantes da Pathfinder e da IMM para o projecto
O
Sr. General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco têm tentado dizer que a IMM não
pode ter comprado quaisquer acções da CMDN porque não as pagou. Contudo,
isto ignora completamente o investimento significativo que a IMM já fez
até à data e teria continuado a fazer se não fossem as acções do Sr.
General Veloso e o Sr. Diogo Cavaco.
A
IMM já pagou os USD 100.000 devidos ao abrigo do contrato através do
qual adquiriu 70% das acções da CMDN, e reconheceu uma responsabilidade
de pagamento dos restantes USD 9,9 milhões logo que tiverem sido
satisfeitas as condições relativas a esse pagamento. Este tipo de
contrato não é invulgar na indústria de exploração mineira. Note-se que a
BHP Billiton, a maior empresa mundial no sector das minas, concordou em
vender a sua subsidiária, a Genbique, que detinha a Licença de Moebase,
de acordo com praticamente os mesmos termos, nomeadamente um preço
total de compra de USD 10 milhões, e um pequeno montante (neste caso,
USD 500.000) inicialmente, sendo o restante pago após a concretização de
determinados acontecimentos relacionados com a construção e as
exportações da mina.
Foi
a IMM que negociou a aquisição da Genbique (titular da Licença de
Moebase) à BHP Billiton em 26 de Maio de 2009. Foi a IMM que financiou a
aquisição da Licença que agora foi retirada. Foram os dados
substanciais sobre a Moebase adquiridos à BHP Billiton nesta transacção
financiada pela IMM que permitiram à Pathfinder atrair importantes
investidores institucionais para o projecto na Província de Zambézia,
incluindo a JP Morgan Asset Management, bem como a obtenção do
financiamento para o Estudo Definitivo de Viabilidade.
Longe
de ter abandonado o projecto, e tendo obtido o financiamento para o
Estudo Definitivo de Viabilidade em Julho de 2011, a Pathfinder procedeu
à contratação de vários fornecedores (incluindo a Jacobs Matasis) para a
elaboração do Estudo, com base no qual a Pathfinder poderia ter
angariado os cerca de USD 500 milhões necessários ao arranque da
construção da mina e ao seu funcionamento, dando emprego a centenas de
moçambicanos.
Contudo,
devido às acções do Sr. General Veloso e do Sr. Diogo Cavaco, ao
fazerem com que as Licenças fossem retiradas à CMDN, quaisquer avanços
tiveram de ser interrompidos em detrimento de todos os interessados”.
O comunicado que acabamos de reproduzir tem a data de Londres, 28 de Junho de 2012. (Redacção)
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