Nestes últimos dois mandatos temos vivido uma presença constante da
necessidade de superar os “records” estabelecidos pelo anterior PR. Não que
sejam “records” necessariamente de acções honráveis, mas grosso modo, mundanas,
evitáveis, despicáveis. Vimos isso em primeira mão com a renovação de toda a
frota de viaturas protocolares da Presidência, o despesismo exponencial do
Estado, o aluguer de helicópteros para deslocações da ordem de 20Km, a
atribuição do seu nome a infra-estruturas publicas, o seu empresariado de sucesso, de seus filhos e sequazes
associados, só para citar alguns exemplos. Penso que, apesar de alguns “prémios
comprados”, o que vai ser difícil de bater é o “Premio Mo Ibrahim”!!
Se estão lembrados, em 2004, Chissano “mandou” asfaltar a estrada para a
sua aldeia natal, num exercício financeiro que custou ao Estado Moçambicano
através de créditos do BADEA (Banco Árabe para o Desenvolvimento Económico de
África) a modesta quantia de 10 milhões de dólares. Mas Guebuza precisa de
superar esse “record” também!! Não com uma estrada, mas com uma mega-ponte para
sua aldeia natal, cuja construção esta avaliada em 735 milhões de dólares.(In Desenvolver Moçambique)
Este fenómeno dos incumbentes da presidência de uma republica se
preocuparem em construir estradas ou pontes para as suas aldeias durante a
vigência dos seus mandatos, só acontece em países governados por regimes
“marcadamente tribalistas”!! Regimes esses que não tem um plano nacional de desenvolvimento,
com uma sequencia de prioridades claramente definida que, independentemente do
partido no poder, vai sendo executado integralmente.
A construção de estrada ou uma ponte e regida por uma determinada lógica.
Essa lógica nunca esta dissociada da rapidez do retorno dos investimentos, na
forma de ganhos monetários cobrados por taxas como por exemplo portagens, mas
existem outras formas como a avaliação do “custo-beneficio”, que inclui
normalmente a redução de despesas que seriam incorridas pelos utentes da via,
como o custo de combustíveis, pneus, manutenção das viaturas, tempo dispendido
na jornada, etc. É com base nessa avaliação, que se decide na
execucao de um ou outro projecto. É com base nessa avaliação, aliada ao
volume de tráfego rodoviário existente, que se decide, por exemplo, se uma
estrada de terra-batida deve ser asfaltada ou não.
Conforme se sabe, a KaTembe tem uma população de cerca de 20 mil
habitantes. Desses, uma ínfima porção tem a necessidade de travessia diária
para exercer as suas actividades na cidade de Maputo. Dessa ínfima porção, uma
“microscópica franja” é que possui viaturas particulares, o que mostra
que o retorno destes investimentos não foi, em momento algum equacionado, no
processo decisório para a execução desta obra!! Podíamos dizer que, “por causa
do rápido escoamento do que ali é produzido, deveríamos avançar com a execução
da ponte”!! Mas a KaTembe, nem de hortícolas abastece a cidade de Maputo!! O
único registo de produção agrícola naquele local é de “batata de polpa
alaranjada” por uma unidade ociosa da F.A.D.M, que não esta a pensar em vender
o produto, mas suprir as suas próprias necessidades nutritivas!!
Vai-se atirar ao mar 735 milhões de dólares só para satisfazer os
interesses aldeia-comunais de um dirigente! Ele não vai pagar a obra com o seu
dinheiro!! A KaTembe não tem produção, nem tráfego para retornar esses
investimentos, 300 anos que passem!! Maputo não tem produção nem tráfego para
retornar esses investimentos, 100 anos que passem!!
Mas há outras alternativas racionais que podem ser exploradas!! Fique
atento ao próximo número!!
Sem comentários:
Enviar um comentário