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VOA News: África

terça-feira, 3 de julho de 2012

Governo tenta desculpar-se da indiferença e irresponsabilidade ["GOVERNO DISTRAÍDO E MESQUINHO]

 Caso de estudantes moçambicanos no Sudão  

Salomão Muchanga, presidente do Parlamento Juvenil, diz que estamos perante um Governo distraído e esquisito – numa clara indirecta a Armando Guebuza

Maputo (Canalmoz)  - O Governo está ser acusado de irresponsável pela forma como está a tratar do caso dos 45 estudantes moçambicanos na Universidade Internacional de África, no Sudão. Agora está finalmente a tentar fazer algo mas já não se livra da má fama. Os jovens não acreditam já nos seus bons ofícios.
Desde o primeiro trimestre do ano que os estudantes em Cartum clamam por socorro que lhes permita sair do “inferno” em que vivem no Sudão, mas pura e simplesmente o governo veio ignorando o caso. Os estudantes moçambicanos naquele país continuam a passar por uma tormenta terrível. Enviaram inúmeras cartas a pedir socorro. Várias foram publicadas pela Imprensa nacional e internacional a reportar a situação em que se encontram no Sudão, mas o Governo nada fez até que um primeiro sub-grupo de 5 estudantes  regressou a Maputo na última quinta-feira. Mas nem mesmo já em Maputo o governo lhes deu alguma atenção. Foi preciso que o Parlamento Juvenil alertasse o Governo para que este resolvesse começar a mexer-se.
Os cinco estudantes que regressarem ao país como expulsos, na quinta-feira passada, permaneceram no Aeroporto Internacional de Maputo desde a hora em que chegaram (13 horas), até às 21 horas. Ninguém do governo lhe deu apoio. São de províncias do centro e norte do país e não tinham como irem para as suas províncias de origem, nem dinheiro para se alimentarem.
A salvação dos cinco estudantes que o governo de Cartum mandou regressar compulsivamente ao país, foi o Parlamento Juvenil, uma organização da juventude moçambicana independente, liderada por Salomão Muchanga.
Só depois deste vexame é que o Governo decidiu enviar uma equipa a Cartum para tratar dos quarenta estudantes que ainda lá estão a sofrer. Os emissários partiram no domingo, três dias depois da chegada dos cinco estudantes expulsos.
Ontem, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação convidou a Imprensa para anunciar o envio da referida equipa composta por funcionários deste ministério, do Ministério da Educação e um diplomata moçambicano afecto à embaixada de Cairo, no Egipto, mas também acreditado no Sudão. Como era de esperar, o Governo negou que tenha ficado insensível à situação dos estudantes, procurando provar que houve antes intervenções. Alegou que ninguém viu o que estavam fazendo mas estavam a trabalhar. Os estudantes é que não os deixam mentir. Dizem que o Governo não quis saber deles.
Segundo os estudantes o governo não só não tem dado qualquer atenção aos estudantes no Sudão como também nem quis saber se os que já se encontravam em Maputo precisavam de apoio. Ignorou tudo como tem vindo a fazer desde que os estudantes pediram socorro.
Em Maputo os estudantes estiveram sem alojamento e sem alimentação. Aguardando por algum apoio para poderem regressar às províncias, o governo continuou a nada fazer. Esta é a versão dos estudantes.
Mas o governo tem outra conversa. “O Governo de Moçambique não esteve de todo alheio, tomou as medidas que se impunham. As nossas embaixadas em Addis Abeba e no Cairo estiveram a monitorar os desenvolvimentos desde o primeiro momento em que sinais de preocupação começaram a surgir. Foram informando os dois ministérios dos acontecimentos. Suas Excelências os Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Educação, com o conhecimento prévio do Governo sudanês, enviaram a Cartum uma delegação constituída por quadros superiores dos dois ministérios. A delegação integra ainda um diplomata da nossa Embaixada no Cairo, que é acreditada em Cartum”, disse o Embaixador Geraldo Chirinza, Director para os Assuntos Jurídicos e Consulares, mas depois não conseguiu dizer o que a tal delegação enviada previamente fez no Sudão.
É que não houve resultados. Os 45 estudantes continuaram lá numa situação de total abandono e votados à indiferença das autoridades governamentais moçambicanas, até que cinco deles regressaram a Moçambique na quinta-feira, como expulsos. Uma vez aqui, testemunharam que em Cartum não tiveram qualquer apoio do Governo.

Os cinco regressados vieram expulsos

Os 5 dos 45 estudantes moçambicanos que estiveram a fazer cursos de licenciatura na Universidade Internacional de África, no Sudão, e chegaram quinta-feira ao país, vieram com carimbos de expulsão estampados nos seus passaportes. Trata-se de Magaia, João Albino, Yussufo Fábula, Luís Tembo e Adamo.
À chegada a Maputo, os cinco estudantes acusaram o Governo de falta de solidariedade. Afirmaram que o executivo se recusou a prestar assistência mesmo depois do pedido de apoio lançado pelos estudantes.
Os demais estudantes ficaram lá. São 40 os que ficaram. Mesmo reconhecendo que a sua ida ao Sudão foi sem conhecimento das autoridades governamentais moçambicanas, os jovens lamentam a atitude do Governo. Alegam que o Governo se recusou a prestar auxílio para o seu repatriamento que só foi possível graças à solidariedade de singulares que pagaram as passagens de regresso.

Abandonados no Sudão e humilhados em Moçambique

Uma vez chegados a Maputo, os estudantes deveriam partir para as respectivas zonas de origem, que são as províncias de Nampula, no norte do País, e Zambézia no Centro. O Governo não esteve lá para ajudá-los. Permaneceram no aeroporto até às 21 horas. Chegaram às 13 horas. Valeu-lhes a solidariedade do Parlamento Juvenil, que na pessoa do seu presidente, Salomão Muchanga, e de outros quadros daquela agremiação foi buscá-los ao aeroporto de Maputo, solidarizou-se com eles, deu-lhes alimentação e alojamento até o dia seguinte e conseguiu resolver o problema do regresso dos estudantes às suas províncias.

Governo distraído e mesquinho

Salomão Muchanga disse ao Canalmoz ontem que depois de acolher os estudantes, solicitou encontro com o Governo que se fez presente através do Director do Instituto Nacional de Bolsas e quadros do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação. Os representantes do Governo reuniram-se com o Parlamento Juvenil e os estudantes. Estes reafirmaram na presença de uma das pessoas que os recrutou para o Sudão, que estavam naquele país como traficados e não como estudantes.
Muchanga disse que esse responsável pela ida dos estudantes ao Sudão que estava presente no encontro se encarregou de pagar a passagem dos jovens para as suas províncias de origem.
Quando questionado pelo envio de uma equipa do Governo para Cartum, este domingo, Muchanga disse que “vale mais tarde do que nunca”, mas não poupou críticas ao Governo.
“Estes dois ministérios, dos Negócios Estrangeiros e da Educação, são distraídos e esquisitos”, concluiu Muchanga usando as palavras que o presidente da Republica, Armando Guebuza, usara no dia das celebrações do aniversário da independência nacional para descrever os críticos do seu Governo.
Muchanga diz que “um Estado que se preze deve proteger seus cidadãos, mas neste caso dos estudantes moçambicanos no Sudão, o Governo nunca se aproximou destes jovens”. (Redacção)

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