Caso de estudantes moçambicanos no Sudão
Salomão
Muchanga, presidente do Parlamento Juvenil, diz que estamos perante um
Governo distraído e esquisito – numa clara indirecta a Armando Guebuza
Maputo
(Canalmoz) - O Governo está ser acusado de irresponsável pela forma
como está a tratar do caso dos 45 estudantes moçambicanos na
Universidade Internacional de África, no Sudão. Agora está finalmente a
tentar fazer algo mas já não se livra da má fama. Os jovens não
acreditam já nos seus bons ofícios.
Desde
o primeiro trimestre do ano que os estudantes em Cartum clamam por
socorro que lhes permita sair do “inferno” em que vivem no Sudão, mas
pura e simplesmente o governo veio ignorando o caso. Os estudantes
moçambicanos naquele país continuam a passar por uma tormenta terrível.
Enviaram inúmeras cartas a pedir socorro. Várias foram publicadas pela
Imprensa nacional e internacional a reportar a situação em que se
encontram no Sudão, mas o Governo nada fez até que um primeiro sub-grupo
de 5 estudantes regressou a Maputo na última quinta-feira. Mas nem
mesmo já em Maputo o governo lhes deu alguma atenção. Foi preciso que o
Parlamento Juvenil alertasse o Governo para que este resolvesse começar a
mexer-se.
Os
cinco estudantes que regressarem ao país como expulsos, na quinta-feira
passada, permaneceram no Aeroporto Internacional de Maputo desde a hora
em que chegaram (13 horas), até às 21 horas. Ninguém do governo lhe deu
apoio. São de províncias do centro e norte do país e não tinham como
irem para as suas províncias de origem, nem dinheiro para se
alimentarem.
A
salvação dos cinco estudantes que o governo de Cartum mandou regressar
compulsivamente ao país, foi o Parlamento Juvenil, uma organização da
juventude moçambicana independente, liderada por Salomão Muchanga.
Só
depois deste vexame é que o Governo decidiu enviar uma equipa a Cartum
para tratar dos quarenta estudantes que ainda lá estão a sofrer. Os
emissários partiram no domingo, três dias depois da chegada dos cinco
estudantes expulsos.
Ontem,
o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação convidou a Imprensa
para anunciar o envio da referida equipa composta por funcionários
deste ministério, do Ministério da Educação e um diplomata moçambicano
afecto à embaixada de Cairo, no Egipto, mas também acreditado no Sudão.
Como era de esperar, o Governo negou que tenha ficado insensível à
situação dos estudantes, procurando provar que houve antes intervenções.
Alegou que ninguém viu o que estavam fazendo mas estavam a trabalhar.
Os estudantes é que não os deixam mentir. Dizem que o Governo não quis
saber deles.
Segundo
os estudantes o governo não só não tem dado qualquer atenção aos
estudantes no Sudão como também nem quis saber se os que já se
encontravam em Maputo precisavam de apoio. Ignorou tudo como tem vindo a
fazer desde que os estudantes pediram socorro.
Em
Maputo os estudantes estiveram sem alojamento e sem alimentação.
Aguardando por algum apoio para poderem regressar às províncias, o
governo continuou a nada fazer. Esta é a versão dos estudantes.
Mas
o governo tem outra conversa. “O Governo de Moçambique não esteve de
todo alheio, tomou as medidas que se impunham. As nossas embaixadas em
Addis Abeba e no Cairo estiveram a monitorar os desenvolvimentos desde o
primeiro momento em que sinais de preocupação começaram a surgir. Foram
informando os dois ministérios dos acontecimentos. Suas Excelências os
Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Educação, com o conhecimento
prévio do Governo sudanês, enviaram a Cartum uma delegação constituída
por quadros superiores dos dois ministérios. A delegação integra ainda
um diplomata da nossa Embaixada no Cairo, que é acreditada em Cartum”,
disse o Embaixador Geraldo Chirinza, Director para os Assuntos Jurídicos
e Consulares, mas depois não conseguiu dizer o que a tal delegação
enviada previamente fez no Sudão.
É
que não houve resultados. Os 45 estudantes continuaram lá numa situação
de total abandono e votados à indiferença das autoridades governamentais
moçambicanas, até que cinco deles regressaram a Moçambique na
quinta-feira, como expulsos. Uma vez aqui, testemunharam que em Cartum
não tiveram qualquer apoio do Governo.
Os cinco regressados vieram expulsos
Os
5 dos 45 estudantes moçambicanos que estiveram a fazer cursos de
licenciatura na Universidade Internacional de África, no Sudão, e
chegaram quinta-feira ao país, vieram com carimbos de expulsão
estampados nos seus passaportes. Trata-se de Magaia, João Albino,
Yussufo Fábula, Luís Tembo e Adamo.
À
chegada a Maputo, os cinco estudantes acusaram o Governo de falta de
solidariedade. Afirmaram que o executivo se recusou a prestar
assistência mesmo depois do pedido de apoio lançado pelos estudantes.
Os
demais estudantes ficaram lá. São 40 os que ficaram. Mesmo reconhecendo
que a sua ida ao Sudão foi sem conhecimento das autoridades
governamentais moçambicanas, os jovens lamentam a atitude do Governo.
Alegam que o Governo se recusou a prestar auxílio para o seu
repatriamento que só foi possível graças à solidariedade de singulares
que pagaram as passagens de regresso.
Abandonados no Sudão e humilhados em Moçambique
Uma
vez chegados a Maputo, os estudantes deveriam partir para as
respectivas zonas de origem, que são as províncias de Nampula, no norte
do País, e Zambézia no Centro. O Governo não esteve lá para ajudá-los.
Permaneceram no aeroporto até às 21 horas. Chegaram às 13 horas.
Valeu-lhes a solidariedade do Parlamento Juvenil, que na pessoa do seu
presidente, Salomão Muchanga, e de outros quadros daquela agremiação foi
buscá-los ao aeroporto de Maputo, solidarizou-se com eles, deu-lhes
alimentação e alojamento até o dia seguinte e conseguiu resolver o
problema do regresso dos estudantes às suas províncias.
Governo distraído e mesquinho
Salomão
Muchanga disse ao Canalmoz ontem que depois de acolher os estudantes,
solicitou encontro com o Governo que se fez presente através do Director
do Instituto Nacional de Bolsas e quadros do Ministério dos Negócios
Estrangeiros e Cooperação. Os representantes do Governo reuniram-se com o
Parlamento Juvenil e os estudantes. Estes reafirmaram na presença de
uma das pessoas que os recrutou para o Sudão, que estavam naquele país
como traficados e não como estudantes.
Muchanga
disse que esse responsável pela ida dos estudantes ao Sudão que estava
presente no encontro se encarregou de pagar a passagem dos jovens para
as suas províncias de origem.
Quando
questionado pelo envio de uma equipa do Governo para Cartum, este
domingo, Muchanga disse que “vale mais tarde do que nunca”, mas não
poupou críticas ao Governo.
“Estes
dois ministérios, dos Negócios Estrangeiros e da Educação, são
distraídos e esquisitos”, concluiu Muchanga usando as palavras que o
presidente da Republica, Armando Guebuza, usara no dia das celebrações
do aniversário da independência nacional para descrever os críticos do
seu Governo.
Muchanga
diz que “um Estado que se preze deve proteger seus cidadãos, mas neste
caso dos estudantes moçambicanos no Sudão, o Governo nunca se aproximou
destes jovens”. (Redacção)
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