O elevado índice de criminalidade que nos últimos tempos vem assolando o bairro Ndlavela, no município da Matola, está a transformar as noites em momentos de tensão e incerteza entre os moradores, que preferem o termo “terror” para classificar o ambiente vivido na zona.
Maputo, Segunda-Feira, 8 de Agosto de 2011:: Notícias
Entretanto, a secretária do bairro, Felismina Chaúque, faz uma leitura menos catastrófica da situação, afirmando que, apesar das queixas populares, a onda de criminalidade baixou consideravelmente nos últimos tempos, feito que, segundo ela, fica a dever-se a uma pretensa eficácia policial nas suas operações de patrulha.
A nossa Reportagem escalou recentemente aquele bairro residencial, onde ouviu de vários moradores relatos sobre casos de violações sexuais, assassinatos, entre outros crimes cometidos na via pública, sobretudo na calada da noite.
Segundo apurou o “Notícias”, trata-se de crimes protagonizados por indivíduos desconhecidos que aparentemente escalam aquela zona idos de outras paragens, com o objectivo de criar distúrbios.
Os assaltos a residências, assassinatos e violações sexuais têm ocorrido sobretudo no período nocturno, porque grande parte das ruas não dispõe de iluminação pública, o que facilita a movimentação criminosa dos malfeitores.
Alguns dos cidadãos que falaram à nossa reportagem reportaram casos de roubo nas suas próprias casas, em plena luz do dia, fenómeno que lhes leva a concluir que os autores dos crimes podem ser moradores do bairro.
A zona, atravessada por linhas de transporte de energia eléctrica em alta tensão, já foi baptizada como “palco da morte”, uma vez que, segundo relatos populares, é onde os assaltantes concentram grande parte do seu poderio de acção sobre cidadãos incautos e indefesos.
Segundo soubemos, os malfeitores escondem-se nas sombras das torres que suportam a linha de transporte, de onde partem assanhados ao ataque sempre que algum cidadão incauto transite por aquele lugar.
Por baixo daquelas linhas de transporte de energia eléctrica o ambiente tem sido mesmo de “alta tensão”, pois as vítimas são agredidas e violadas sem que ninguém lhe possa acudir, tal é a perigosidade do ambiente.
Tal como disseram os moradores, nas poucas vezes que os agentes da Polícia escalam aquela zona é para extorquir cidadãos que por lá passam sem Bilhetes de Identidade ou com alguma mercadoria.
Inácio Ernesto, morador do quarteirão quatro, do bairro Ndlavela, disse ao “Notícias” que a partir das 19 horas algumas ruas tornam-se intransitáveis porque os larápios bloqueiam-nas por completo, usando os mais variados recursos, tudo para facilitar a sua acção sobre os cidadãos.
A fonte contou que foi vítima de um assalto na sua residência, semana passada, acrescentando que para lograrem os seus intentos os gatunos introduziram-se no interior da sua casa por meio de arrombamento da porta traseira, tendo roubado diversos bens de uso doméstico, incluindo cadeiras e peças de roupa.
“Não estamos em paz aqui no bairro. Sabemos que em todo canto da nossa cidade há criminalidade mas aqui parece que a situação está demais”, disse Inácio Ernesto, para quem está na hora de a Polícia levar o assunto a peito, antes que a situação se transforme numa hecatombe.
Por seu turno, Verónica Augusto, do quarteirão 19, diz que os assaltos estão a tomar proporções alarmantes. Ela conta que há menos de três semanas uma mulher que passava pela zona das torres de transporte de energia, cerca das 21 horas, foi violada sexualmente e depois assassinada.
“Nós temos uma recolha obrigatória devido à onda de criminalidade que se instalou no nosso bairro”, disse, acrescentado que há muita gente a morrer em Ndlavela e ninguém está a fazer nada para colmatar a situação.
Encontrámos Nelí Vasco, outra moradora do bairro, ocupada na sua banca, onde vende produtos diversos. Ela também confirma os maus momentos por que o seu bairro está a passar devido à criminalidade que, na sua opinião, tende a ganhar espaço a cada dia que passa.
“É muita gente a ser violada, assassinada ou agredida, todos os dias, mas a Polícia não está a fazer nada. Nos poucos dias que escalam a nossa zona é só para extorquir os nossos filhos quando voltam das escolas. “Não tenho palavras para expressar o que sinto, mas é muito triste. Triste mesmo.”
Já houve momentos críticos em Ndlavela
Maputo, Segunda-Feira, 8 de Agosto de 2011:: Notícias
A secretária do bairro de Ndlavela, Felismina Chaúque, contou à nossa Reportagem que nos últimos tempos a criminalidade tende a baixar graças ao trabalho de patrulhamento levado a cabo pelos agentes da PRM.
Segundo sua leitura, já houve tempos em que a tranquilidade não existia em Ndlavela, mas ultimamente registam-se sensíveis melhorias, apesar de o bairro estar a crescer em termos de espaço e tamanho da população.
Ainda assim admite a existência de alguns focos de criminalidade, sobre os quais entretanto não se referiu com exactidão.
Segundo a fonte, durante o primeiro semestre deste ano foram registados seis casos de assassinato e igual número de violações sexuais de mulheres, numa altura em que o bairro conta com cerca de 60 mil habitantes.
Para a secretária de Ndlavela, os roubos na via pública, residências e estabelecimentos comerciais é que são muito frequentes.
“Nós registamos esses casos todos os dias mas os assassinatos e violações sexuais não são frequentes”, disse.
Grande parte dos crimes que ocorre naquela zona residencial, segundo Felismina Chaúque, é protagonizada por indivíduos idos dos bairros circunvizinhos, como Zona Verde, Khongolote e 1º de Maio.
Lamentou haver cidadãos que não obedecem às posturas camarárias, mantendo abertas suas barracas até altas horas da noite, o que na sua óptica também facilita a actuação dos bandidos.
Ela disse ainda que presentemente está em curso um trabalho visando a reactivação do Conselho de Policiamento Comunitário que se dissolveu no ano passado devido à falta de remuneração dos seus membros.
Disse igualmente que decorrem acções visando consciencializar os moradores no sentido de compreenderem que a estrutura do bairro não tem dinheiro para remunerar os membros do Conselho de Policiamento Comunitário, e que, sendo importante, a sua existência deve ser suportada também pelos moradores.
Escuridão que favorece
Maputo, Segunda-Feira, 8 de Agosto de 2011:: Notícias
A ausência de iluminação pública em grande parte das ruas do bairro Ndlavela é apontada pela secretária do bairro como sendo a principal causa dos assaltos que ocorrem na via pública, residências e nos estabelecimentos comerciais.
“Não estou a dizer que se as ruas estivessem iluminadas não haveria criminalidade, mas acredito que isso poderia minimizar a situação. Na verdade, a escuridão favorece a actuação dos malfeitores aqui no nosso bairro”, disse.
Afirmou ainda que há um projecto da empresa Electricidade de Moçambique (EDM), desde o ano passado, visando a montagem da iluminação pública, mas o mesmo continua em banho-maria, por razões que a nossa fonte não soube especificar.
“Não sabemos por que a EDM não conclui a montagem da iluminação na via pública, mas acredito que com ruas iluminadas a situação poderia melhorar”, disse.
PRM está a trabalhar
Maputo, Segunda-Feira, 8 de Agosto de 2011:: Notícias
Em contacto com o nosso jornal, o porta-voz da PRM na província do Maputo, João Machava, disse que a corporação está no terreno a trabalhar, mas reconhece que é necessário reforçar a colaboração com a comunidade.
Disse que todos os dias há equipas que são escaladas para patrulhar a zona e, segundo ele, a situação melhorou significativamente nos últimos tempos.
“Nós estamos permanentemente em Ndlavela a trabalhar. O crime acontece porque é social, mas nós estamos a trabalhar”, defende João Machava.
Segundo ele, a corporação tem vindo a apelar à população para cooperar com a PRM denunciando os supostos autores de crimes.
- Alcídio Walter
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