Por Nelson Carvalho, em Nampula
O líder da Renamo, o maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, quebrou um longo silêncio e pronunciou-se à volta da crise instalada entre o Conselho Municipal da Cidade da Beira (CMCB), partido Frelimo e o controverso Tribunal Judicial de Sofala. Dhlakama apelida a atitude da Frelimo e do Tribunal de maquiavélica e imprópria de um Estado de Direito. Entende o líder da oposição que a Frelimo pretende minar o desenvolvimento da Beira, num esforço para penalizar os eleitores por sistematicamente o chumbarem nas urnas.
A crise que paralisou literalmente Beira na última semana girava em torno de 17 edifícios municipais que a Frelimo reivindica serem seus. Porém, tais edifícios foram sempre usados pelo Município da Beira para desenvolver a prestação de serviços municipais nos diferentes bairros da autarquia, mesmo na altura em que a Frelimo estava no poder na sempre conturbada autarquia. A Frelimo "ganhou" Beira nas primeiras eleições autárquicas em 1998, num sufrágio eleitoral em que concorreu sozinha. Nas duas eleições seguintes, 2003 e 2008, saiu derrotada.
A actual situação na cidade da Beira é descrita como calma, depois do Conselho Municipal da Beira, o Tribunal e a Frelimo terem chegado a um entendimento para a constituição de uma equipa de peritagem. Os partidários de Simango e do MDM que se encontravam nas ruas para travar a execução da sentença do Tribunal estão calmos e recolheram às suas casas. Mas não afastam a possibilidade de voltarem aos protestos caso o tribunal volte a carga.
Penalizar a Beira
Falando a partir da sua residência, na cidade de Nampula, Afonso Dhlakama disse ao SAVANA que, ao embarcar nesta empreitada o partido no poder tem único objectivo de desestabilizar o franco desenvolvimento que se verifica na cidade da Beira nos últimos seis anos.
Apesar dos problemas que no passado dividiram Simango e Dhlakama, o líder da oposição teceu rasgados elogios ao desempenho do presidente do MDM na Beira.
Dhlakama lamenta a atitude da Frelimo, que na sua óptica se assemelha a de um ser irracional. Fez notar que a Frelimo está a manchar a imagem do país, além de fazer regredir a vida dos citadinos da capital provincial de Sofala. É que estes edifícios foram sempre usados pelo Município da Beira para desenvolver a prestação de serviços municipais nos diferentes bairros da autarquia. Simango já disse que caso o Município da Beira perca estes edifícios haverá um forte impacto financeiro negativo nas contas da autarquia.
"Para mim a cidade da Beira é a melhor de todas cidades moçambicanas neste momento, quer em termos de desenvolvimento municipal quer em termos de gestão e isso incomoda a Frelimo", disse Dhlakama sistematicamente acusado de gerir a Renamo recorrendo a métodos autocráticos.
O líder da Renamo apela aos munícipes da Beira a arregaçar as mangas e lutar até as últimas consequências com vista a evitar que a Frelimo cometa mais ilegalidade.
A uma pergunta sobre se não estava a contradizer-se ao elogiar Daviz Simango, enquanto foi o principal responsável pela saída do edil da Beira da Renamo, Dhlakama foi cauteloso.
"Não estou a defender Daviz, como tal, mas sim a lei".
O líder do maior partido da oposição entende que as questões internas e do fórum partidário não podem se sobrepor aos assuntos de interesse nacional.
"Daviz Simango provou com todo tipo de documentos que os imóveis são do município e não da Frelimo. Eu como moçambicano tenho que defender o que é do interesse nacional", disse.
Hermenegildo Jone é um lambe-botas e Gilberto Correia manchou a sua carreira
Para o líder da perdiz, o comportamento do juiz Presidente do Tribunal Judicial da Província de Sofala, Hermenegildo Jone, é próprio de um moleque ambicioso.
"Está claro que Hermenegildo Jone quis agradar a Frelimo. Os documentos provam que os edifícios são do município e o tribunal perdeu uma oportunidade de fazer história", comentou Dhlakama no seu Quartel-general em Nampula.
O líder da Renamo lançou também duras críticas a alguns órgãos de Comunicação Social, sobretudo os do sector público. Acusa-os de desinformarem os leitores a cerca do polémico assunto da Beira.
Diz que está frustrado com que ouve, vê e lê nalguns órgãos de comunicação social, que, segundo eles, não reflectem a real situação do problema que está a acontecer na segunda autarquia mais importante de Moçambique.
"A comunicação social é importante na formação e informação da sociedade, já quando aparecem alguns órgãos a ocultar ou viciar informações estão contaminar a sociedade. Isso é muito mau num Estado democrático", lamentou.
SAVANA – 30.07.2010--
(MiradourOnline)
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