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VOA News: África

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

“A Tragédia dos Comuns”

EDITORIAL
“Num regime político tão centralizado, centralizador e dirigista; este presidencialismo absolutista, a longo prazo convida a golpes ou mudanças radicais, como foi a independência.
Para se evitar tais mudanças precisamos de mudar o sistema político, principalmente o sistema de Governo, sistema eleitoral, criar um regime de efectiva independência de poderes”, é a opinião do nosso entrevistado desta semana, Professor Doutor António Francisco que obriga a reflectir e nos remete a considerar o que foi a trajectória de países onde figuras egocêntricas acabaram autoritárias, cegas pelo poder e incapazes de ver o mal que deixariam como herança quando a lei da vida se impusesse.
O director de investigação do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) também acaba por reconhecer que “Nós hoje só fazemos eleições para garantir a ajuda dos doadores e para reconhecimento de Moçambique como uma caricatura de democracia representativa”.

Adverte que a democracia funciona de forma inversamente proporcional à evolução do preço internacional do petróleo e diz que quanto mais cresce o preço do petróleo, mais reduz a democracia. Leva-nos também a reconhecer a necessidade urgente de não nos deixarmos iludir com o boom de dinheiro da exploração do gás na bacia do Rovuma e com um eventual anúncio de existência de petróleo em Moçambique.
“Se aqui o partido Frelimo conseguir dispensar os doadores, não só do Orçamento de Estado mas do financiamento aos principais sectores sociais, mais arrogante ficará. Por enquanto ainda têm que agir com calma, mas também não precisam de muita, pois os doadores ajudam no fingimento da alegada democratização e descentralização. Acaba-se por ficar na intolerância, e na subjugação da cidadania a um partido”, avisa o académico como que a desafiar-nos a todos para que não nos deixemos levar pela crença de que quem nos governa presentemente o faz pensando exclusivamente no bem de todos nós.
“Num ambiente em que apenas uma elite com poder político pode aspirar a participar no banquete do ambiente de negócios, eventualmente surgirão processos de descontentamento e insubordinação”, admite ainda o professor, desafiando-nos a tomarmos consciência do barril de pólvora em que entraremos se nos perdermos nos afazeres e nas dificuldades do dia-a-dia sem pararmos para pensar o que poderá ser o nosso futuro se nos deixarmos distrair com discursos triunfalistas dos mesmos senhores que hoje tentam ludibriar todo um povo como tentaram com a mesma desfaçatez convencer o País de que a guerra civil estava ganha quando todos viam que o exército estava já tão vencido quanto estão hoje indignados os cidadãos que não sabem de novo como alimentar as suas famílias diante de quem passeia a sua arrogância construída à custa de “um estado falido mas ainda não falhado” em que “a tragédia dos comuns” se abeira de todos a uma velocidade estonteante se não abrirmos os olhos rapidamente.
O Parlamento Juvenil fala-nos nesta edição de “elite predadora”, comentando o autêntico assalto que mais uma vez os insaciáveis do regime fizeram, desta vez à Vila Olímpica, um tema que o Canal de Moçambique trouxe a público na edição da semana passada.
Os raptos também continuam, como o demonstra o caso de Bilal Wassim, apesar dos sucessos que a PRM tem tentado ultimamente apresentar ao público.
Apesar da Policia ter ultimamente estado a tentar convencer a sociedade de que pôs o guizo aos raptores, estamos de novo perante uma história com contornos muito complicados, a revelar que apesar de termos a maior concentração de agentes da Policia na capital do país é precisamente na capital e na sua cidade satélite, Matola, que têm estado a suceder-se os crimes mais estranhos com contornos que a sociedade comenta em contra-mão ao discurso da PRM, com uma lucidez que parece não andar longe da verdade…
Sem tempo para governar parece andar um governo repleto de servidores servis a quem os nomeia, ao mesmo tempo que se revelam incapazes de fazerem jus a capacidades que em outras actividades menos “apetitosas” revelaram, a ponto de merecerem de nós os mais rasgados aplausos.
Quanto à terra, as notícias também são preocupantes. Os negócios e abusos das autoridades indignaram já de tal forma os utentes rurais que num país com tanto espaço já se agride e se mata por causa da terra. Damos conta disso nas nossas páginas centrais.
Por fim a arrogância de quem faz leis para os outros como se o Estado fosse seu – caso das bandeiras e outros símbolos partidários em Chimoio, à semelhança do que se está a passar em todo o país. No dia em que a paciência dos outros se voltar a esgotar, como em dias que precederam a guerra civil a que a ideia de democracia e eleições ainda serviu para por termo, o que será de nós? Quando não se puder continuar a acreditar na democracia como ambiente em que pluralidade e as minorias são respeitadas, que solução haverá?
Canal de Moçambique – 01.08.2012

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