A culpa é da FIR ou estes agem em nome de alguém?
Por: Noé Nhantumbo
Beira
(Canalmoz) - Repetem em escala cada vez maior os ataques protagonizados
por agentes da PRM e da FIR contra manifestantes pacíficos em vários
cantos de Moçambique.
Esta
situação tem alguma origem e obedece a algum comando. Quem age contra
manifestantes pacíficos em ano eleitoral só pode ter em vista amedrontar
os potenciais eleitores.
Quem
orienta e emana instruções de ataque puro e simples contra a oposição
política em Moçambique só pode estar a agir em cumprimento de uma
estratégia que vise a manutenção do poder, subjugando a vontade popular.
A
intolerância policial face às actividades políticas de partidos da
oposição precisa ser entendida na sua verdadeira dimensão sob o risco de
avaliar-se incorrectamente a situação nacional.
Submeter-se ao veredicto popular está fora das contas de alguns políticos neste país.
Tendo
em conta pesquisas de opinião, é possível concluir que um conjunto de
factores desfavoráveis dá razão ao que os políticos da oposição vêm
advogando como seus trunfos para baterem-se nos próximos pleitos
eleitorais.
As
assimetrias no desenvolvimento entre as diferentes regiões do país, a
partidarização da função pública e da PRM, o açambarcamento da
iniciativa na esfera económica e financeira, o distanciamento
progressivo entre governantes e governados, a asfixia da maioria dos
moçambicanos, condenados a viverem com salários ou rendas baixíssimas, o
desemprego galopante, a batota político-eleitoral, a inconsequência e o
descrédito em que caíram instituições como a Procuradoria-Geral da
República constituem pontos fracos da governação da Frelimo e pontos de
pressão que a oposição reconhece e se mostra disposta a explorar.
O
grau de insatisfação é generalizado que nem as ofensivas mediáticas não
conseguem esconder. A repetição de discursos triunfalistas, defensores
do status quo, o controle cerrado dos órgãos de comunicação social
públicos, limitam a informação que chega aos cidadãos. Mas brechas que
surgem são avidamente aproveitadas para dar a conhecer aos moçambicanos
um outro lado da moeda.
Afinal
se está a tornar cada vez mais claro que os negociadores dos dossiers
de recursos naturais de Moçambique pouco ou nenhum interesse tem exibido
no processo. Ao cabo de décadas de emissão de licenças para a captura
de camarão, agora vem os chefes do pelouro reconhecer que se vive uma
crise sem precedentes. Os níveis de captura diminuíram drasticamente, as
empresas nacionais que se dedicavam àquela actividade faliram e mudaram
de ramo, doenças e restrições nas exportações devido à falta de
cumprimentos de procedimentos básicos estão a matar a galinha dos ovos
de ouro. Se o japonês que se dedicava à captura de camarão em Moçambique
parece ter levantado âncora para outras latitudes, não tarda que sejam
os espanhóis a seguir igual caminho. Um sector com potencial mas que foi
votado a um assalto pela nomenclatura ligada ao partido governamental
tem visto sua valorização a tardar e a alimentar esquemas obscuros de
contrapartidas que a maioria dos moçambicanos jamais viu. Quais são os
benefícios que a Pescamar deixa em Moçambique?
Numa
fase de expansão de pesquisas e início de exploração de algumas
reservas minerais agitam-se os bastidores e verifica-se uma denotada
tendência de excluir os outros e manter o negócio nas mãos de uns poucos
moçambicanos bafejados com a sorte de terem ligações íntimas e
estreitas com os círculos do poder político-governamental.
Em
Manica e em Cabo Delgado já se viu a PRM a descobrir efectivos para
guarnecer minas de pedras preciosas pertencentes a altos escalões da
nomenclatura. Esta mesma PRM que quando o cidadão se queixa de um
assalto afirma não possuir efectivo para assistir o cidadão.
Pretender
e afirmar que se está a favor da Paz e estabilidade mas ao mesmo tempo
fomentar a exclusão feroz só podem concorrer para a radicalização de
partes crescentes de moçambicanos.
Uma sociedade que não encontra exemplos de suas lideranças políticas e governamentais tende a encaminhar-se para a violência.
Um
suposto desenvolvimento económico que não ultrapassa expressões
numéricas ou estatísticas, que tarda em traduzir-se em emprego pleno
para milhões de jovens tem o potencial de fazer descarrilar tudo o que
foi conseguido nos últimos anos.
Outro
aspecto que ensombra o espectro político relaciona-se com a
inflexibilidade governamental em não aceitar negociar. Uns falam de
diálogo e outros exigem negociações mas transparece que não há uma firme
vontade de negociar. Anunciam encontros entre as partes desavindas mas
não se cultiva aquela confiança básica para tornar tais encontros em
oportunidade de construção de consensos essenciais.
Há
como que uma estratégia de “arrastamento” dos processos e diagnósticos
conhecidos, de tal modo se esgotem as possibilidades existentes de
diálogo e negociações e se entre num confronto violento aberto em que
uns se julgam os futuros vencedores.
Verdades
conhecidas são descartadas porque significariam a partilha do potencial
económico e financeiro do país. Todos querem partir de uma posição de
força num esquema de encontros que a priori poucos acreditam que trarão
resultados ou aquele tipo de resultados que a maioria anseia.
Onde
existe vontade de ver a democracia florir não se atiram polícias para
as ruas a caça de opositores. O tipo de considerações estratégicas em
execução ao nível do governo mostra algum esgotamento concepcional.
Parece que se terão embrulhado num número elevado de assuntos sem a
preparação prévia, dependendo de uma máquina que funciona em sistema
centralizadíssimo. Mesmo que existam cabeças pensantes no governo, estas
coíbem-se de manifestar-se porque tem exemplos de sobra sobre o tipo de
consequências que poderiam advir para si próprias.
Colocar
na reforma efectiva toda a massa crítica de tecnocratas que se formaram
e evoluíram nas diferentes frentes, durante a administração de Joaquim
Chissano terá sido um primeiro passo para montar a actual máquina
subserviente e obediente. Agora que se mostra necessário incluir
interlocutores de peso e com credibilidade, num sistema de negociações
ou diálogos entre Renamo e governo da Frelimo, choca-se com a
inexistência de tais quadros no activo. Todos recolheram-se para
actividades marginais ou poço relacionadas com os assuntos de governação
do país. Arrancados brutalmente que nem cancros de um aparelho que
ajudaram a formar, não parece possível mobilizar estas pessoas úteis
para o país. Irredutíveis ou gente com fama de irredutível dificilmente
trarão o tipo de resultados que os moçambicanos precisam no presente
momento.
Sem
afastar a PRM/FIR das ruas, na sua caca aos que não aceitam a imposição
e a repressão de sua vontade, não existem condições para a construção
de consensos que façam a democracia afirmar-se no país.
Afinal
quem afirma que a FIR é um braço do partido Frelimo não deixa de ter
razão, analisando-se o que esta faz cada vez que manifestantes pacíficos
saem à rua apresentando suas reivindicações.
Engana-se quem supõe que o fortalecimento da FIR ou das FADM irá criar uma atmosfera de segurança no país.
Uma
radicalização na arena política pode precipitar acções de natureza
irreversível que só colocarão o país novamente na guerra.
Já
esperamos viver num estado policiado e com grupos dinamizadores, grupos
de vigilância, SNASP e toda a gama de informadores a trabalhar para
anular a vontade popular, a vontade dos cidadãos em pensarem diferente.
Não queremos voltar ao tempo das balalaicas e das guias de marcha.
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