Saúde gravemente doente
A greve geral dos médicos
desencadeada esta segunda-feira em Moçambique está a registar uma enorme adesão
e as suas repercussões afectam até os mortos, apesar de as autoridades se
desdobrarem em declarações para minimizar o drama e alguns responsáveis do
sector protagonizarem cenas que até roçam o caricato.
Temos um nível de adesão de 99,9 por
cento, apesar da onda de intimidação levada a cabo pelo Governo. No Hospital
Central de Maputo, mandaram a Força de Intervenção Rápida (FIR) obrigar os
médicos do turno da noite a continuarem a trabalhar. Alguns colegas tiveram de
se fazer passar por doentes ou saltar o muro, para fugirem à chantagem – fonte da
Associação Médica de Moçambique, que solicitou anonimato.
EDSON ARANTE
Profissionais da Saúde moçambicanos,
incluindo médicos, iniciaram esta segunda-feira uma greve de cinco dias, em
protesto contra o alegado incumprimento pelo Governo de um memorando assinado
em Janeiro, para a melhoria das suas condições de trabalho.
Em declarações ao Correio da
manhã, fonte da Associação Médica de Moçambique disse que, além da classe
médica, a greve conta com a participação de enfermeiros, técnicos de
laboratório e serventes de todo o país.
“Temos um nível de adesão de
99,9 por cento, apesar da onda de intimidação levada a cabo pelo Governo. No
Hospital Central de Maputo, mandaram a Força de Intervenção Rápida (FIR) obrigar
os médicos do turno da noite a continuarem a trabalhar. Alguns colegas tiveram
de se fazer passar por doentes ou saltar o muro, para fugirem à chantagem”,
disse a fonte, na condição de anonimato, porque “não se sabe o que pode
acontecer”.
Para mitigar o efeito da greve,
o Ministério da Saúde mobilizou médicos militares e estrangeiros em serviço no
país, finalistas e outros discentes do curso de Medicina e pessoal médico com cargos
de chefia.
Sinais ainda mais sombrios
“A greve terá a duração de
cinco dias, mas será logo prorrogada, se o
Governo não satisfizer as
nossas exigências”, assinalou, tornando ainda mais negro o futuro próximo para
os doentes e recém-mortos em Moçambique.
Os profissionais da Saúde
moçambicanos exigem um aumento salarial de 100 por cento, a aprovação do
Estatuto do Médico, atribuição de residência aos profissionais deslocados da sua área de habitação, o incremento
de 35 por cento do subsídio de risco, entre outros direitos.
O Ministério da Saúde de Moçambique
ainda não fez qualquer declaração sobre a greve, mas um dia antes da eclosão da
mesma o Governo emitiu um comunicado rotulando esta forma de luta dos
profissionais da Saúde de “ilegal”.
Drama no terreno
A nossa reportagem
testemunhou, nas primeiras horas da manhã desta segundafeira, elementos da
Força de Intervenção Rápida (FIR) posicionados defronte do Hospital Central de
Maputo (HCM) num penoso esforço para obrigar os médicos do turno da noite
anterior (domingo) a continuarem a trabalhar em substituição dos seus colegas que
aderiram à greve.
Muitas pessoas que tinham funerais
marcados para esta segunda-feira não puderam fazê-los, porque a morgue do HCM
esteve encerrada e de lá nenhum cadáver saiu. O mesmo acontecia com a capela adstrita
àquele sector do principal hospital de Moçambique.
Notícias de Morrumbala, na
província central da Zambézia, por exemplo, indicam que o hospital rural local
simplesmente esteve fechado esta segunda-feira.
No Hospital Central de
Nampula, os finalistas de Medicina da UniLúrio, médicos militares e estrangeiros
é que asseguraram os serviços mínimos.
Em Manica, o director
provincial da Saúde de Manica foi visto a movimentar-se pessoalmente no
Hospital Provincial de Chimoio para controlar as presenças do pessoal médico,
enfermeiros, técnicos e pessoal administrativo.
“Ele marcou pessoalmente as
faltas aos ausentes”, indicaram fontes locais daquela unidade hospital ouvidas sobre
a greve em Chimoio.
Em declarações ao Correio da
manhã, o presidente da AMM, Jorge Arroz, indicou que se o Governo mantiverse
irredutível “amanhã (hoje)será pior, pois iremos marchar por todas as ruas da cidade
de Maputo, exigindo melhorias salariais e condições de trabalho e de habitação”.
CORREIO DA MANHÃ – 21.05.2013
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