Dia do Trabalhador
Por: Borges Nhamirre
Maputo (Canalmoz) – Com o Presidente da República estrategicamente em “presidência aberta” fora da capital do País, a ministra do Trabalho e os demais ministros optaram pelo aconchego das suas mansões ou terão mesmo ido dar uma voltinha a Nelspruit ou à Praia do Bilene! Na Praça dos Trabalhadores não se viu nenhum governante. Apenas a Polícia, com tanques de guerra, que para ali foi despachada para vigiar os trabalhadores! Estranho? Não?
É que os governantes moçambicanos não são trabalhadores, dirão as vozes do alto império, ainda que o mais provável foi estarem com medo de viverem no fausto que as altas regalias do Estado lhes confere e estarem conscientes de que quem realmente trabalha alimenta hoje contra eles um quase ódio. Em suma, o que isto indica é que andam com MEDO. Medo dos trabalhadores, medo dos desempregados.
Os membros do actual Governo são conhecidos por gostar de aparecer, mas ontem esconderam-se. As chamadas “presidências abertas” ou “governação aberta” são marcas deste Governo, desde o chefe de Estado Armando Guebuza aos governadores provinciais e por aí abaixo. Só que estes governantes não devem ser ingénuos pelo que sabem seleccionar o público, sabem bem quando o vento lhes é favorável ou quando o Povo está cansado deles e deste regime.
Ir ao interior do distrito de Chiúre, Nipepe ou Jangamo, num lugar recôndito de uma das províncias do País, mobilizar jovens e senhoras sem acesso à informação, sem formação escolar relevante, mal-empregados, desempregados e “famintos”, de helicóptero e rodeado de um batalhão de policias armados até aos dentes, deve ser abundantemente agradável.
Mas já ir à Praça dos Trabalhadores em Maputo para discursar diante de jovens, homens e mulheres esclarecidos, que todos os dias leem notícias do País e do mundo; com nível de escolaridade elevado, que trabalham todos os dias para no fim do mês verem seus salários se esgotarem em IPA, IVA, IRPS, taxa de limpeza, taxa de rádio, é um desafio.
Quem governa, quando os cidadãos da capital eram também meios ceguinhos e dóceis, até dançava ao lado dos trabalhadores nestas paradas. Mas agora, talvez porque lhes pesa a consciência, por tanto que exibem com dinheiro de impostos cobrados a quem não consegue com os seus salários fazer refeições normais todos os dias do mês, acham melhor esconderem-se e rodearem-se de agentes da Policia (Força de Intervenção Rápida) – estes ainda não conscientes de que eles são vítimas do mesmo regime que estão a defender!
É por isso e muito mais que a ausência dos governantes, ontem, nas celebrações centrais do Dia Internacional do Trabalhador em Maputo, não deve constituir novidade para um cidadão que acompanha a realidade político-social e económica de Moçambique.
Estes governantes estão cientes de que não são bem-vindos à gente esclarecida.
O membros do governo podem alegar que não aparecem nas celebrações dos trabalhadores porque eles não são trabalhadores. Terão eles consciência de que são consumidores do suor dos trabalhadores?
Não apareceram nas celebrações dos trabalhadores porque estão cientes de que são os principais responsáveis pela desgraça actual da massa laboral pois são eles que aprovam salários mínimos ridículos, de 3 mil meticais para a função pública, de 2 mil meticais para o sector agrário e outras coisas do género.
São eles que ao invés de criarem um sistema de transporte digno para os trabalhadores, optam por usar o dinheiro dos impostos dos trabalhadores para importar para o Estado centenas de Mercedes, Land Cruises, Navaras, para comprar consciências dos (i)responsáveis do Estado e para os seus entes (esposas e filhos). Com estas e outras benesses gastam o dinheiro todo dos impostos a ofender quem trabalha com o seu exibicionismo.
Os governantes sabiam que ontem não iriam encontrar, na Praça dos Trabalhadores, os camponeses de Mabalane ou Cheringoma, que deixam de ir às machambas para ouvirem alguém que aterrou de helicóptero a falar de melhoria das vias de acesso…
As pessoas que estiveram ontem na Praça dos Trabalhadores em Maputo são cidadãos que conhecem seus direitos, sabem o que querem e não vão a um comício para ver o meio de transporte (helicóptero ou four by four) no qual chegou o governante. Estes não são como os camponeses que enchem os comícios de Guebuza e servem para se produzir imagens para tentar convencer o Mundo de que este Governo é muito querido; servem para esconder o ódio latente e crescente à actual elite governamental que temos, de autênticos insensíveis!
Os trabalhadores das cidades são cidadãos que esperam ouvir dos governantes ideias realizáveis. São também pessoas que têm ideias, têm opiniões e sabem o que devem esperar do governo do país como reembolso dos seus impostos, mas apenas acabam por ver os abusos e extravagâncias deste poder com os fundos públicos.
Quem está esclarecido está farto de ideias ocas.
Muitos moçambicanos, tal como eu, desde a adolescência vêm ouvindo promessas de “futuro melhor”, “força da mudança” sem que nada mude para melhor.
Portanto, não é para admirar a ausência do Governo das celebrações do Dia dos Trabalhadores.
É por medo. Não é mais nada. Não têm mais nada que dizer. (Borges Nhamirre)
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