O politólogo, Dr. João Pereira, do MASC, alerta que se trata apenas de uma percepção, não se podendo tomar os resultados como uma sondagem propriamente dita.
Beira (Canal de Moçambique) – Um estudo de percepção de tendência de voto efectuado pelo Canal de Moçambique / Semanário ZAMBEZE na Beira mostra que se as eleições para a Assembleia Municipal e para Presidente deste município se tivessem realizado no dia 19 de Outubro, isto é, no último domingo, o Partido Renamo teria entre 81,29% e 85,7% e o actual Edil, engenheiro Daviz Mbepo Simango, sucederia a ele próprio com uma percentagem de votos entre 73,19% e 77,57%.
Para a assembleia municipal o Partido Frelimo ficaria em segundo lugar com uma percentagem entre 13,8% e 18,18% e o PDD de que é presidente Raul Domingos teria menos de 3%.
Já para a presidência do município o grande derrotado seria Manuel Pereira (com 6,77% a 11,11%). Em segundo lugar teria ficado o candidato do Partido Frelimo Lourenço Ferreira Bulha a somar uma percentagem entre 13,5% e 17,88%.
Há, no entanto, a considerar que uma leitura atenta aos dados brutos desta “sondagem” mostra que 21,1% dos inquiridos ainda não têm definidas as suas intenções de voto, preferindo refugiarem-se em respostas como “não sabem” e “não respondem”.
Dados brutos
A pergunta colocada foi: Se as eleições fossem hoje (19 de Out. 2008) em que partido ou coligação de partidos o sr/sra. Votaria?
Nesta questão para a Assembleia Municipal da Beira os dados brutos foram os seguintes: de um total de 2.000 inquiridos (100%), 1.279 preferiram RENAMO (63,95%), 245 FRELIMO (12,25%), 8 PDD (0,4%), 127 votariam em branco (6,35%) e 341 não sabe/não responde.
Assembleia / Dados corrigidos
Tomando apenas como base aqueles que expressaram o seu sentido de voto, incluindo os que afirmaram votar em branco (total: 1.659), a Renamo teria 77,09% (1.279), a Frelimo 14,76% (245), o PDD 0,48% (8) e votariam em branco 7,65% (127 inquiridos) – Percentagens verticais.
Corrigidos os dados, mas não incluindo os que votariam em branco, a Renamo (1.279) venceria com 83,48%, a Frelimo ficaria em segundo com 15,99% (245) e o PDD com 0,52% (8) – percentagens verticais.
Eleição para Presidente do Município
Já para a eleição do edil, entre Daviz Simango, Louenço Ferreira Bulha e Manuel Pereira, sem incluir António Romão, do PDD, e sem incluir o quinto candidato que é totalmente desconhecido e ninguém foi capaz de nos dizer quem é, os dados brutos (2.000) do inquérito foram: Daviz Simango (1.090 ou seja 54,5%); Lourenço Ferreira Bulha (227 i.e. 11,35%); Manuel Pereira (129 i.e. 6,45%); teriam votado em branco 132 i.e 6,6% e não responderam ou disseram não saber em quem votar 422 inquiridos (21,1%).
Tirando estes últimos e mantendo apenas os votos em branco (132 / 8,36%) o total de inquéritos considerado seria 1.578 e Daviz Simango venceria com 69,07% (1.090), em 2.º teria ficado Lourenço Bulha (227 / 14,38%), em 3.º Manuel Pereira (129 / 8,17%).
Já sem os votos brancos o total de inquéritos validados seria (1.446) e Simango (1.090) ganhava com 75,38%; Bulha (227) ficava em 2.º com 15,69% e Manuel Pereira (129) com 8,92%.
Ficha Técnica e Universo
A ficha técnica da sondagem diz que o “universo” deste estudo foi constituído por indivíduos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 18 anos, residentes na cidade da Beira e recenseados para o exercício do voto.
Amostra
A amostra foi constituída por duas mil (2.000) unidades estatísticas distribuídas por novecentos (900) de pessoas do sexo masculino e mil e cem (1.100) do sexo feminino. Mil e duzentos (1.200) do espectro de 2.000 inquéritos tinham idades compreendidas entre 18 e 34 anos e os restantes oitocentos (800) de 35 anos para cima.
A selecção das unidades estatísticas inseridas na amostra foi feita aleatoriamente inquirindo apenas os eleitores (potenciais) cujo critério foi ter cartão de eleitor. A selecção dos entrevistados foi feita através do método de quotas tendo em consideração as seguintes variáveis: sexo e idade do(a) entrevistado(a).
Recolha de informação
A recolha de informação foi efectuada através do método da entrevista directa (face a face) e foi utilizado um questionário estruturado contendo perguntas semi-abertas.
A recolha de informação decorreu no dia 19 de Outubro, domingo último, e foi realizada por vinte (20) inquiridores (entrevistadores), formados para a condução deste tipo de inquéritos.
Para além dos entrevistadores, participaram na condução deste tipo de estudo cinco (5) supervisores com larga experiência.
Zonas de concentração de potenciais eleitores como principais paragens de machimbombos (autocarros) e de transportes semi-colectivos vulgarmente conhecidos por Chapas-100, e ainda mercados e outros estabelecimentos constituíram os pontos de entrevistas.
Tratamento e Resultados
Após a recolha de informação todos os questionários foram analisados, validados e introduzidos no sistema informático SPSS (Social Package for Social Science – Program Estatístico para Estudos Sociais) após a sua codificação. Uma equipa técnica foi formada e treinada para o efeito.
Erro de amostragem
Com um intervalo de confiança de noventa e cinco por cento (95%) (Probabilidade = 50%), o erro de amostragem é de mais ou menos 2,19%. Dois vírgula dezanove porcento é a percentagem das 2.000 pessoas inquiridas que se fossem de novo auscultadas dariam na segunda vez respostas diferentes da primeira vez que foram ouvidas.
Percepção e voto
João Pereira, politólogo de reconhecida idoneidade disse ao Canal de Moçambique / Semanário Zambeze que esta sondagem merece crédito mas alertou para que se tenha em consideração que “uma coisa é percepção, outra é voto”.
Aquele especialista tomou conhecimento dos métodos e principais resultados da “sondagem” eleitoral sobre partidos políticos e candidatos às eleições autárquicas para a Assembleia da Beira e edil da mesma cidade, respectivamente. Recomendou que se tenha o estudo como uma “percepção” e não propriamente uma “sondagem”. Comentou ainda que é conveniente ter-se em conta que pode-se dar o caso das pessoas inquiridas no dia das eleições não irem votar; pode ser que elas pensem entretanto que já não vale a pena irem votar porque o que desejavam já está conseguido; pode ser que desistam de votar no dia das eleições por se cansarem de esperar e desesperarem com os contratempos e a lentidão dos procedimentos eleitorais que eventualmente venham a ser provocados ou apenas a acontecer, etc…
João Pereira encontrava-se na Beira quando foi abordado pela nossa reportagem. Apreciou o material e insistiu que se deve apenas considerar o trabalho como um estudo de percepção e não de uma sondagem propriamente dita. Opinou que o estudo carece de referências mais pormenorizadas sobre os postos administrativos em que residem os inquiridos. Mas concordou que de uma forma geral o estudo é válido.
(Fernando Veloso)
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