Na Universidade Pedagógica (UP) “Houve uma falha na planificação. Não se teve em conta os espaços físicos para acolher os estudantes, por isso é que hoje temos estudantes a estudar em escolas, escolinhas e outras instituições de ensino superior”- Reitor Rógerio Utui UP tem 39.646 estudantes contra 16.000 da Universidade Eduardo Mondlane, sendo assim, presentemente, a maior instituição de ensino superior de Moçambique Maputo (Canal de Moçambique) – O «Canal de Moçambique» foi ouvir Rogério Utui, o novo Reitor Universidade Pedagógica.
Está no cargo há cerca de seis meses e reconhece que é preciso resgatar uma nova imagem para aquela instituição pública, presentemente com a sua reputação de tal forma “suja” que há quem esteja arrependido de ter seguido os ramos de ensino superior nela ministrados. Tida como a segunda maior universidade do país a seguir à Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a Universidade Pedagógica (UP), de há dois anos a esta parte viu a sua imagem bastante corroída como resultado de “falta de planificação das actividades” nos tempos do Reitor Carlos Machili (agora afecto ao Ministério da Justiça) em que a meta era tão simples quanto isto: angariar o maior número possível de estudantes como se de uma competição se tratasse. Nesta entrevista o físico nuclear e antigo director cientifico da UEM, recentemente nomeado pelo presidente da República para o cargo de Reitor da Universidade Pedagógica (UP), reconhece que há necessidade de resgatar a boa imagem da UP dado que neste momento está claro que se encontra de certa forma com a sua reputação suja. Há estudantes a mais, espalhados por imensas instalações, e reina a insatisfação total.
O ambiente académico leva a que haja hoje estudantes arrependidos de pertencerem àquela instituição. “Quem me dera se estivesse na UEM”, é uma frase que se houve presentemente de estudantes da UP. E foi com estas lamentações que fomos ao encontro do novo Reitor da UP.
Instalações arrendadas
Questionado sobre o que esteve na génese dos problemas que levam os estudantes da UP a lamentarem a sua sorte, Utui não teve dificuldades de afirmar, sem «papas na língua», que “houve uma falha na planificação”. “Não se teve em conta os espaços físicos para acolher os estudantes. Por isso é que hoje temos estudantes a estudar em escolas, escolinhas e outras instituições de ensino superior”. Em tempos não muito distantes, ingressar num dos cursos ministrados pela UP, diz-se agora, “era um prazer”. Hoje o cenário é diametralmente oposto.
A UP é para quem quer. Não é para quem está munido de conhecimentos suficientes para lá entrar. Basta auferir alguns “bons” meticais “acima do salário mínimo” para o pagamento das propinas. Vale o pago, logo estudo. Não há critérios de acessibilidade. Vale apenas o dinheiro. Quem não tem dinheiro fica de fora. Logo bastando o dinheiro aquela instituição está feita uma espécie de merceeiria. A avalanche é tal que não há espaços para se estudar num ambiente adequado. Esta situação deixou, principalmente desde o início deste ano, alguns estudantes dos cursos de extensão, com os nervos a flor da pele.
“Fomos convidados a voltar às escolas primárias e sentar nas carteiras que de dia são usados pelos nossos filhos ou sobrinhos”, diz-nos um dos estudantes de uma das escolinhas usadas pela UP como alternativa à falta de instalações próprias e adequadas a uma instituição de ensino superior que se preze. Questionado sobre quando é que estes estudantes terão a oportunidade de se sentarem numa cadeira numa universidade com a devida dignidade, Rogério Utui garantiu que a instituição está “a desenvolver grandes esforços para nos meados do próximo ano termos cinquenta porcento dos nossos estudantes dentro do Campus universitário”.
O Reitor da UP crescenta que para algumas direcções poderão ser transferidas para outros espaços a serem identificados de modo a permitir que o grosso dos estudantes possa frequentar um espaço com a dignidade que se espera de uma universidade. Estar na universidade significa ser amigo dos livros, fazer da biblioteca sua própria almofada. Neste momento, pela mesma razão de falta de planificação a UP não consegue disponibilizar material bibliográfico aos seus próprios estudantes. Este imbróglio segundo Utui “será difícil” resolver. “Será difícil termos uma biblioteca para todos, mas vamos investir bastante nas novas Tecnologias de Informação e Comunicação”. “Assim, através da Internet, os nossos estudantes terão acesso a bibliotecas electrónicas”.
O interlocutor do «Canal de Moçambique» não disse quando estarão disponíveis essas novas condições. Mas Utui pisca o olho à Biblioteca Central que se localiza no Campus da UEM e que se estima que esteja definitivamente concluída no próximo ano. “Esta será usada também pelos nossos estudantes” frisa o Reitor da UP.Certificados falsos circulam na UPA informação circula nos corredores da UP. Há abundância de certificados falsos. É o que se ouve. E de certificados falsos em punho, apenas com dinheiro no bolso para pagar as propinas, assim se explica também a avalanche de alunos que depois se apresentam nas empresas a causarem expectativas erradas, como hoje sucede deixando os gestores à beira também de ataques de nervos.
O novo Reitor da UP, confrontado com esta realidade, reconheceu a existência de certificados falsos e revela que qualquer coisa como 30 certificados falsos, só nos cursos normais, já foram detectados e encaminhados à Procuradoria-Geral da República para a devida responsabilização e criminalizarão dos estudantes aventureiros. “Neste momento já começámos a investigar alguns casos nos cursos de extensão”, afirma Rogério Utui sem, no entanto, avançar algum dado quanto às expectativas dessa incursão em busca da legalidade. De qualquer forma é fácil perceber que se apenas nos cursos normais foram identificados 30 e tal certificados falsos, nos cursos de extensão, tidos como os mais desorganizados, quando se passar o “pente fino” uma outra leva de falsificações de certificados que habilitam a aceder à Universidade venha a ser detectada.39.646 estudantes contra 16.000 da UEMOs números não enganam. De acordo com o Reitor da UP, aquela universidade pública conta com um número de estudantes que mostra bem que afinal ela não é a segunda mas, sim, a maior universidade do País.
A Universidade Eduardo Mondlane, tida como a maior tem apenas metade dos estudantes da UP. Esta conta com um total de 39.646 estudantes contra os cerca de 16.000 estudantes da UEM. Do Orçamento Geral do Estado a UP, segundo Utui, recebe apenas um quinto da verba atribuída à UEM. Assim fica claro que esta universidade esteja incapacitada para dar grandes saltos. “Desde sempre tivemos a grande responsabilidade de formar docentes idóneos”, salienta Utui mas dando a entender que assim não se vai longe.Docentes «Turbos»O fenómeno dos docentes «turbo» e com pouca qualidade, melhor, com conhecimentos insuficientes para leccionarem, também foi apontado pelos estudantes da UP ao «Canal».
Dizem os alunos que disso se queixam que o fraco rendimento nas academias da UP se deve ao facto de os docentes movimentarem-se de uma universidade para outra, a facturar e sem grande preocupação de ensinar de facto porque também eles pouco sabem. Esse ritmo dos professores faz com que, e isto ainda de acordo com os estudantes com quem falámos, em período de exames cada docente afixe a pauta dos resultados das provas a seu cargo quando muito bem entendam. “Temos professores que até duvidamos das suas qualificações”, dizia um dos estudantes há dias, com o pedido de anonimato severo com receio de represálias Instado a se pronunciar sobre este fenómeno o Reitor Rogério Utui pronunciou-se nos seguintes termos: “Podemos ter docentes sem qualidade. Isso, tenho de admitir. Mas no final deste ano vamos introduzir a avaliação dos docentes e um dos elementos a ser solicitado nessa avaliação ao docente será o próprio estudante”.
Quanto à movimentação dos docentes da UP de uma universidade para outra – os tais docentes “turbo”, Utui diz que “esse fenómeno não nos afecta bastante”. Mas foi dizendo que em 2008 a UP vai contratar docentes com muita experiência. Fica a promessa!Alguns cursos vão encerrarPara descongestionar a universidade Pedagógica, Rogerio Utui refere que no próximo ano nada será como dantes, ou seja, alguns cursos não serão abertos para novas admissões. Não disse quais serão os cursos que deixarão de ser leccionados na UP. Ficou subentendido no entanto que irão encerrar progressivamente.
Convidado a se pronunciar sobre “rumores” que dão conta que a UP estaria a sofrer fortes pressões por parte de algumas universidades privadas para encerrar os cursos de extensão, com o argumento de que estes constituem uma concorrência desleal, o Reitor disse: “Não estamos perante nenhuma pressão”. “Nenhuma universidade tem o direito de determinar os cursos que outra deve dar”, acrescenta Utui. E refere ainda que “cada universidade tem o seu espaço”. “As universidades privadas têm seu espaço e a UP também”, sublinha.
O Departamento de Ciências Pedagógicas, com um total de sete cursos, de acordo com Utui, é o mais solicitado e para no presente ano lectivo é detentor da metade dos estudantes da universidade. Relativamente ao imbróglio que dominou os exames de admissão dos estudantes, principalmente nos cursos pós-laborais, Rogério Utui volta a «dar a mão à palmatória»: “houve vários erros cometidos para admissão aos cursos pós laborais”. “Por exemplo, não se procurou uniformizar o processo de admissão”. “O erro já está consumado, mas neste momento estamos a tentar sanar esta situação”, justifica entretanto o Reitor.
Para terminar a longa entrevista convidámos Rogério Utui a dizer qual o seu sentimento face esta enorme lista de problemas que encontrou e que lhe cabe agora resolver. “O que sinto é que no passado algumas decisões não foram tomadas num fórum próprio, mas estamos a trabalhar para inverter o cenário”. Quanto à questão dos estudantes arrependidos pelo facto de pertencerem a UP o Reitor garante: “estamos a trabalhar para que não estejam arrependidos”. A Universidade Pedagógica primeiramente foi Instituto Superior Pedagógico. Este tinha a exclusiva vocação de formar docentes.
Fonte: CANAL DE MOÇAMBIQUE
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