Cartoonista político faz das suas na África do Sul

(Um "cartoon" do consagrado artista sul-africano Zapiro, no qual o presidente do Congresso Nacional Africano, Jacob Zuma, é retratado a violar o sistema judicial, provocou a fúria entre os sectores políticos e sindicais que apoiam Zuma e agita a cena política sul-africana desde domingo.
Zapiro (cujo verdadeiro nome é Jonathan Shapiro), considerado o melhor cartoonista sul-africano, publicou na última edição do semanário "Sunday Times" um desenho no qual se vê o polémico presidente do ANC a desabotoar as calças, enquanto no chão, à sua frente uma mulher de olhos vendados simbolizando o sistema judicial, é agarrada pelo secretário-geral do ANC, pelo presidente da Liga Jovem do ANC, pelo secretário-geral da federação sindical Cosatu e pelo presidente do Partido Comunista, que são os mais fieis apoiantes de Zuma.
No "cartoon", o secretário-geral do ANC, Gwente Mantashe, incentiva Zuma a "Ir em frente, patrão", enquanto segura as mãos da Justiça.
O "cartoon" de Zapiro retrata também Jacob Zuma com um chuveiro no topo da cabeça, uma característica frequente desde que Zuma foi absolvido num processo em tribunal por violação, no qual testemunhou que tinha mantido relações com a arguida, que é seropositiva, sem protecção porque acredita que se tomar um duche a seguir o risco de infecção pelo HIV não existe.
Desde domingo que as reacções dos retratados no desenho se multiplicam, desde Mantashe a acusar Zapiro de "racismo" até o próprio Zuma a ameaçar o cartoonista com um processo-crime por difamação, passando por ameaças mais graves por parte da Liga da Juventude do ANC, tradicionalmente uma organização que utiliza grande violência verbal no ataque aos que insistem em prosseguir com o processo-crime contra Zuma por corrupção e fraude que terá como palco esta sexta-feira o tribunal de Pietermaritzburg.
O desenho de Zapiro encapsula, segundo vários analistas e políticos, a imagem que ele transmitiu à nação e ao mundo durante o seu julgamento por violação e a onda de manifestações, algumas com palavras de ordem agressivas contra o sistema de justiça, que os seus apoiantes têm organizado no exterior de tribunais um pouco por todo o país, exigindo que as acusações sejam arquivadas.
Jacob Zuma, que terá um encontro com as comunidades portuguesa, italiana e grega na próxima segunda-feira em Joanesburgo, apressou-se a garantir em declarações hoje prestadas, que se vier a ser presidente da República defenderá intransigentemente a independência do sistema judiciário, uma vez que a considera "um pilar de uma sociedade estável".) Fonte JN