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VOA News: África

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os sem vergonha ainda se atrevem a chamar a isto desenvolvimento?

Canal de Opinião: por Noé Nhantumbo


Beira (Canalmoz) - É preciso conseguir olhar para o cenário nacional e determinar o que está sendo feito e como está sendo feito.
Não se pode pretender desenvolver um país quando tudo o que se faz nele resulta da pressão e imposição de agendas que na sua generalidade estão contra genuínos interesses de um país.
O alinhamento total do governo nacional para com as pretensões dos investidores estrangeiros numa perspectiva de obtenção de um desenvolvimento económico rápido e centrado na implementação de mega-projectos tem conseguido apresentar resultados estatísticos impressionantes. Mas nada disso se traduziu numa melhoria da qualidade de vida e do poder aquisitivo da larga maioria dos moçambicanos.
Numa situação em que as considerações estratégicas dos governos poderosos passaram a ser observadas e acomodadas com rapidez servil esvazia-se a soberania e coloca-se todo um povo na condição de sujeito dominado e controlado por interesses externos.
Através de uma política de investimento estrangeiro desprovida de mecanismos de protecção do interesse nacional somas significativas de fundos são continuamente drenadas para as capitais ocidentais em nome da exportação legal dos lucros das operações se suas corporações. O país fica com migalhas e quando as crises arrebentam surgem falsas surpresas.
Onde está a capacidade nacional de pensar e acautelar os interesses nacionais? Onde está o governo e que estratégia possui o governo para abordar e tomar as decisões que fazem parte das suas responsabilidades?
Ser governo plenamente obediente ao que dizem os especialistas das instituições multilaterais financeiras e dançar ao som de uma música que se mostra indigesta para os cidadãos não é certamente a melhor fórmula de governar um país. As dificuldades de financiamento dos orçamentos nacionais para executar actividades com reflexos e impactos necessários não deve constituir a justificação para uma política cega de abertura do país a tudo e todos.
Quem quer governar e ser governo deve possuir capacidade de apresentar soluções que sirvam os governados de seu país.
É visível a fraqueza de muitos argumentos apresentados pelos nossos governantes. A miscelânea de justificações quase sempre baseadas numa alegada escassez de recursos não convence nem pode ser aceite como válida porque volta e meia são os mesmos governantes que não conseguem mostrar a mais básica austeridade na utilização dos recursos disponíveis.
É sobretudo a incapacidade de traçar planos de utilização dos recursos nacionais que coloca o país na rota da pobreza crónica.
Há uma constante recusa de abordar os dossiers nacionais de maneira transparente e abrangente. Elegeu-se a confiança política como critério supremo de escolha e atribuição de cargos sensíveis na governação. Não interessa se os titulares dos cargos públicos tenham domínio tecnológico sobre os seus pelouros e que tenham demonstrado alguma competência técnica. Basta que sejam de confiança política. Isso tem sido afirmado por altos dignitários do regime e por membros de seu partido. E agora que existe crise e problemas graves na condução de assuntos sociais e económicos estes defensores de um sistema que já provocou muitas vítimas não devem "fugir com o rabo a seringa". Quando há problemas há que pelo menos ter a coragem de mostrar a cara e dizer que somos parte do problema na medida em que não conseguimos apresentar as soluções requeridas.
Onde estão todos os nomeados através do critério da confiança política? Que fizeram e o que aconselharam para as coisas não chegassem ao extremo em que chegaram? Onde estão os brilhantes especialistas do Ministério de Finanças, do Banco de Moçambique, do Ministério de Agricultura, do Ministério de Planificação e Desenvolvimento? Onde está liderança e a clarividência?
Estas e outras são perguntas que tem de ser corajosamente respondidas por quem se diz governo.
O exclusivismo com que os detentores do poder tem tratado da coisa e causa nacional mostra claramente sinais de falência. Agora os culpados procuram "sacudir a água de seus capotes" e desaparecer estrategicamente da cena e dos holofotes da comunicação social. Já ninguém, se atreve a aparecer com a capa de guru e das instituições nacionais pertinentes não há sinais de mudança de atitude nem de postura.
Aparentemente o que safou o governo foram mais uma vez mais as forças policiais que travaram manifestações disparando indiscriminadamente para seus concidadãos.
Nota-se mesmo com os "olhos fechados" um vazio de ideias e de liderança no país. Parece que os nossos governantes passaram o tempo todo acautelando seus interesses privados e desenvolvendo suas actividades privadas paralelas. O tempo destinado a pensar quase que não existe e quando existe resume-se a repetição de políticas que se tem provado nefastas e desajustadas para a realidade nacional.
Enquanto houver resistência ao diálogo e política de cegueira e surdez estratégicas não se resolvem os problemas do país.
Enquanto navegavam na crista da onda e colhiam os dividendos de políticas insidiosas de inspiração externa diziam-se e pareciam sábios infalíveis.
Mas os castelos, que haviam construído à custa de incontáveis sacrifícios de milhões, estão ruindo. As teorias que ex-funcionários do banco Mundial estrategicamente instalados no governo durante décadas implementaram não foram mais do que abrir o país ao capital financeiro internacional. Mas sem contrapartidas viáveis. Foi a obediência pura e simples instalada como política oficial. Nada de novo do ponto de vista teórico. Antes e em quase todo o mundo tais políticas eminentemente da Escola de Economia de Chicago já haviam sido postas em prática e com os miseráveis resultados que agora se observam em Moçambique. Os "Chicago Boys & Girls" de Maputo não são nenhuma eminência intelectual ou política como os factos se encarregam de demonstrar. Todo o seu projecto ruiu. Ficaram as mansões e os carros de luxo, uma força de repressão mais bem equipada ainda que continue um 'tigre de papel', um parlamento obediente e cumpridor das instruções recebidas, e uma massa popular descontente, insatisfeita vivendo numa miséria insuportável. E neste quadro, alguns, sem vergonha, atrevem-se de chamar a isto desenvolvimento...

(Noé Nhantumbo)


2010-09-10 06:30:00
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(MiradourOnline)

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