Maputo (Canalmoz) – Depois de na quarta-feira o Chefe do Estado ter vindo a público condenar a revolta popular e apenas pedir calma, sem ter dado resposta às inquietações generalizadas do povo, todas as expectativas ficaram concentradas no Conselho de Ministros e na resposta que este poderia vir a dar aos apelos dos manifestantes que paralisam por completo a vida económica e social do chamado Grande Maputo, que engloba a capital do país e Cidade da Matola, desde quarta-feira. Convocado de emergência para tratar o estado de ebulição que se vive nestas duas cidade, por causa da subida do custo de vida, longe de responder ao desespero do povo, o Conselho de Ministros apenas fez o balanço dos danos causados pelas escaramuças. Praticamente, as expectativas de solução do problema que coloca agora em posição radicalmente antagónica a já chamada "maioria desqualificada", que é o Povo revoltado, e o governo do Partido Frelimo no poder, caíram frustradas. O Governo não sabe o que fazer perante a subida do custo de vida. Apenas repete o discurso dos programas e políticas do Plano Quinquenal do Governo, e reitera que os preços não vão baixar, aconteça o que acontecer. A reunião do Conselho de Ministros dirigida por Armando Guebuza e que não contou com a presença do primeiro-ministro Aires Ali, durou mais de três horas. A conferência de imprensa estava marcada para as 12:30 horas, mas só veio a acontecer pouco depois das 14:00 horas. E nada de novo foi dito. Apenas foi uma espécie de repetição do discurso do Presidente da República Armando Guebuza, que constitucional é o chefe do Governo. Alberto Nkutumula, porta-voz do Governo, veio simplesmente ler um papel de uma página que tinha o balanço que o Governo faz dos estragos causados. Aliás, até o próprio balanço traz dados que contradizem os que circulam na comunicação social. É exemplo disso, o número de mortos. Para o governo morreram apenas 6 pessoas. Mas fala-se de mais de 16 pessoas que perderam a vida, vítimas de baleamentos protagonizados pela Polícia da República de Moçambique (PRM) que se está revelar incapaz de lidar de forma preventiva com a revolta popular. A polícia não está a prevenir, mas sim a matar os populares. E inclusive a matar inocentes, principalmente crianças. E enquanto o comportamento da polícia se mantiver, o número de mortes pode subir. Segundo o Governo, da revolta popular, resultaram para além dos mortos, 288 feridos, 23 estabelecimentos danificados e saqueados, 12 autocarros vandalizados, dois vagões contendo milho e cimento saqueados, cinco viaturas e duas motorizadas queimadas, quatro postes de transformação de energia queimados e duas bombas de combustível vandalizadas. Em termos globais, segundo o porta-voz do Governo, estes prejuízos estimam-se 122 milhões de meticais. Isso segundo o Governo, corresponde a uma perda de 3910 postos de trabalho. A retórica continua Alguns populares ouvidos pela nossa reportagem na manhã de quarta-feira, disseram-nos que esperavam do Governo respostas ou acções que pudessem aliviar o elevado custo de vida. O Canalmoz questionou o porta-voz do Governo sobre as acções concretas que Governo deverá levar a cabo para responder às exigências do povo. Respondeu nos seguintes termos "o Governo reitera o seu compromisso de continuar a trabalhar lado a lado com o povo, e reitera igualmente a sua determinação de prosseguir com a implementação do Programa Quinquenal do Governo, instrumento fundamental de luta contra pobreza". Insistimos e pedimos ao porta-voz do Governo para falar de acções concretas. Trouxe o seguinte discurso: "O Governo está a trabalhar arduamente de modo a melhorar a vida dos moçambicanos". Voltámos a pedir a Alberto Nkutumula que nos explicasse o significa "trabalho árduo do Governo". Disse que o trabalho é a "criação de mecanismos para cumprimento do plano do Governo que tem em vista a erradicação da pobreza". Resta agora saber se o povo se identifica e aprova o "trabalho árduo" de que fala o Governo ao analisar o seu próprio desempenho que na óptica popular é tão negativo que suscitou o caos que se vive nos últimos dias na capital do país, Maputo, e todos os arredores, incluindo a cidade da Matola. Pelo que ontem se via nas ruas não há solução à vista. As forças policiais estavam a ser completamente desautorizadas em vários pontos da cidade, a ponto de terem sido chamadas a intervir unidades das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) o que poderá colocar o País à Beira de uma nova guerra civil se o bom senso não prevalecer. Ontem, as televisões privadas mostraram em várias artérias o povo a derrubar painéis metálicos de propaganda eleitoral que a Frelimo insiste em manter espalhados pela Cidade depois de passado quase um ano após o último acto eleitoral. A população revoltada derrubava esses cartazes com a foto de Guebuza, em acções sem precedentes. Depois de derrubados os manifestantes pisavam ostensivamente a cara do presidente do Partido Frelimo. Noutros casos sem derrubarem os cartazes apedrejavam-no. Vários cidadãos ouvidos por uma das estações televisivas privadas, na Zona do Xiquilene, chegaram mesmo a dizer que se Guebuza não tem soluções é melhor ir embora. (Matias Guente) |
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