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VOA News: África

segunda-feira, 1 de abril de 2013

O País não pode deixar-se enganar pela paranoia do senhor Guebuza

O discurso do senhor Armando Guebuza no encerramento da II Sessão do Comité Central (CC) do Partido Frelimo, no poder, veio de forma inequívoca atestar o que sempre fizemos questão de referir em vários editoriais: o País está entregue a um “líder” de visão mesquinha e retrograda, enganador e manipulador de consciências desprevenidas ou pouco avisadas do que este actual presidente é capaz de fazer para iludir todo um Povo.
Para quem ouviu ou depois teve a oportunidade de ler o discurso de Armando Guebuza do último domingo, na Matola, ficou claro por que razão o País está no estado em que está e voltou, de novo, a ser referenciado no último Relatório de Desenvolvimento Humano produzido pelas Nações Unidas (PNUD), como o terceiro pior País do Mundo, pior ainda do que no último relatório e até atrás, agora, da Guiné-Bissau.
O caos em que se encontra o País que Guebuza dirige há cerca de oito anos, traduz de forma fiel o estado paranoico a que chegou ao constatar que todas as suas teses – combate ao “deixa-andar”, ao burocratismo, à corrupção, à pobreza absoluta, etc…– pura e simplesmente faliram e não conduziram Moçambique ao estágio em que ele próprio colocou a fasquia quando se propôs ao Povo moçambicano para um segundo mandato na chefia do Estado e do Governo.

O actual nível de pobreza mais do que absoluta e as convulsões sociais sucessivas a que temos estado a assistir, reforçado pelas conclusões do Relatório do Desenvolvimento Humano, apresentado há dias, derruba, por completo, os argumentos segundo os quais estamos a combater a pobreza. E é neste quadro que Guebuza tem vindo ultimamente a engendrar toda uma série de artimanhas, quase do grau de paranoia, em que acaba por se perder em discursos a roçar a xenofobia a que a sua história de vida nos mostra que recorre sempre que precisa de se projectar politicamente e esconder as suas próprias fragilidades.
Hoje os tempos são outros e a Educação e uma Juventude à Facebook – que ele já reconheceu que detesta – não dá a Armando Guebuza o mesmo espaço de manobra que lhe permite anestesiar as pessoas como facilmente conseguia quando empreendeu a Operação Produção e a Operação 20-24 com que promoveu a expulsão de estrangeiros e fez de moçambicanos estrangeiros na sua própria terra.
Quando o presidente de um partido que está no Governo e é simultaneamente Presidente da República diz ao País que “nós não precisamos de um patrão estrangeiro”, como Armando Guebuza acaba de dizer no encerramento da II Sessão do Comité Central do partido no poder em Moçambique, que mensagem quererá ele transmitir ao País e ao Mundo?
Que o País já não precisa do investimento estrangeiro? Que o País já é auto-suficiente financeiramente e em recursos humanos? Que passaremos a combater os estrangeiros que se disponibilizaram a investir e a serem patrões em Moçambique? Que se oficializou na II Sessão do Comité Central a nova luta de libertação contra os estrangeiros? Que os estrangeiros com investimento em Moçambique devem arrumar as malas e regressar às suas origens porque Guebuza e o seu Governo já não precisam deles?
Enfim… ficamos sem a explicação oficial do alcance do discurso do senhor Guebuza. E no meio de tanta dúvida em relação ao verdadeiro alcance das suas palavras, de uma coisa estamos certos: não acreditamos que este discurso seja forjado no espírito da moçambicanidade e na celebração do orgulho e capacidade moçambicanos.
Dizer que em Moçambique não queremos patrões estrangeiros não justifica nem tão pouco a fórmula que Guebuza usou e usa para, do dia para noite, se transformar no cidadão mais rico de Moçambique, como consta, a crer-se pelo menos no vertiginoso enriquecimento da sua filha prodígia, como referido pela revista Forbes.
Dizer que não precisamos de patrão estrangeiro é insultar os milhões de moçambicanos que por falta de política de emprego do Governo de Guebuza encontram salvação nos tais estrangeiros que connosco querem levar Moçambique a tornar-se um País bem diferente do que o que Guebuza nos proporciona depois de oito anos no Poder e a menos de dois anos do fim do seu segundo e último mandato constitucional.
Nesta edição, provamos com documentos que o Governo do senhor Guebuza não quer ajuda de alguns estrangeiros, mas quer de outros a quem se verga.
Trazemos nesta edição uma notícia que dá conta de dezenas de toneladas de medicamentos rejeitadas e devolvidas ao doador taiwanês e que se destinava a ajuda às vítimas das cheias e a muitos moçambicanos que embora enfermos não conseguem pagar os preços de farmácias privadas. O Governo de Guebuza terá rejeitado esses medicamentos porque provinham de um País também de etnia chinesa mas que não é comunista como os seus patrões.
Quando Guebuza diz que o Povo moçambicano não quer patrões estrangeiros, esquece-se que há quem está atento aos patrões que para ele servem e aos patrões que para ele não servem porque não andam a cantar a sua música.
O Povo moçambicano quer emprego. O senhor Guebuza não foi até agora capaz de criar e desenvolver emprego. As taxas de desemprego não são conhecidas porque as próprias instituições sob sua direcção escondem a verdade que se pode encontrar no terreno.
Se não soubéssemos que o senhor Guebuza é sócio de centenas de patrões estrangeiros em Moçambique, não nos indignaríamos tanto com o seu discurso. Mas esse discurso xenófobo tem claramente o sentido e o propósito de enganar os Antigos Combatentes e os membros do Comité Central da Frelimo, para que vejam nele um nacionalista que não pode ser desperdiçado só porque a actual Constituição impõe que não possa ser candidato a um terceiro mandato.
Portanto, este discurso visa exactamente preparar as condições psicológicas e objectivas para que do pseudo-debate de revisão constitucional que está a ser conduzido pelo Dr. Mulémbwè, resulte o que Guebuza quer: a alteração da constituição para lhe permitir candidatar-se a um terceiro mandato ou conformar a extensão do período do actual mandato com a aprovação de uma norma constitucional que alargue os mandatos dos actuais cinco para sete anos, com efeitos imediatos, e consequente adiamento das próximas eleições gerais.
No fundo o “patrão Guebuza” não quer largar o Poder Político e refugia-se na mais aberrante hipocrisia e no discurso xenófobo, anti-estrangeiro, para ver se consegue tirar dividendos de mais esta operação de ilusionismo para fazer crer aos moçambicanos que a culpa da pobreza absoluta é dos estrangeiros e não da sua incompetência para a debelar.
Há dias o senhor Guebuza esteve na Austrália a tratar de convencer os “patrões” da Rio Tinto a não desanimarem e não desistirem da exploração de carvão em Tete. Os donos da Rio Tinto são moçambicanos?
O senhor Guebuza também esteve nos Emiratos Árabes Unidos à procura de parcerias para os hidrocarbonetos. Os árabes dos Emiratos são moçambicanos?
O senhor Guebuza tem permitido que se sacrifique a população de Cateme, às ordens da Vale. Até ofereceu a exploração da via-férrea à brasileira. Muito provavelmente são seus “patrões”… Basta ver-se como a população está a ser tratada sem que ele se esforce por convencer os investidores brasileiros a tudo fazerem para normalizar as relações com os deslocados de Cateme…
Quando vemos esta contradição entre o discurso xenófobo e a prática do senhor Guebuza, não temos dúvidas de que este jornal não pode deixar de alertar os moçambicanos para factos que comprovam que o senhor Guebuza está a querer confundir-nos e iludir-nos.
Se o senhor Guebuza conhece a nossa língua constitucional e oficial, no mínimo terá de nos explicar o que significa o termo “estrangeiro”.
Como é que alguém que se diz líder, e tratado pelos seus acólitos como “clarividente”, se presta a um discurso de tamanha decadência moral?
É evidente que o seu discurso vem também provar a mentalidade de rebanho que pontifica entre alguns membros do Comité Central. Só um partido mesquinho é que aplaude tamanha mesquinhez.
O discurso do senhor Guebuza tem o título: “Partido do diálogo e promotor do diálogo em Moçambique”, mas nenhum diálogo pode prevalecer perante tamanha arrogância.
O diálogo não se compadece com tanto cinismo, nem com a arruaça e muito menos com frases feitas por assessores de sanidade intelectual e mental duvidosa.
A condição sine qua non para efectivação do diálogo é o respeito pelos outros. E no caso vertente: é preciso respeitar Moçambique, os moçambicanos, e também aqueles que convidámos a estar connosco a desenvolver o País.
Um presidente que se dedica à arruaça, à mesquinhez, aos recados indirectos, à fofoca, não tem tempo para governar. E um País com um presidente deste jaez, só pode ser o terceiro pior para se viver no mundo, como se conclui no Relatório do Desenvolvimento Humano.
É muito penalizador para um povo honesto e dedicado ao trabalho como o moçambicano, o que este actual Presidente da República está a fazer ao País. Por isso, sem qualquer dúvida e fazendo uso dos nossos direitos constitucionais, apelamos para que todos se unam e não permitam qualquer manobra para subverter a Constituição da República – a Bíblia do Estado como nesta edição o ex-primeiro-ministro, Dr. Pascoal Mocumbi, a classifica na Grande Entrevista que nos concedeu.
Canal de Moçambique – 27.03.2013

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