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VOA News: África

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Afinal não era mentira

XIPALAPALA

Por: João de Sousa
Paciência é um chapeiro. Anteontem fi cou com medo de circular. Anunciaram o aumento do preço das portagens. Lembrou-se dos tumultos do 5 de Fevereiro e de 1 de Setembro. Duas datas que marcaram a sua história de motorista de “chapa 100”. Em duas ocasiões fi cou bloqueado por causa dos pneus queimados na via pública. Teve de regressar ao seu ponto de origem, não fosse o seu patrão admoestá-lo pelos estragos na viatura.
Passaram-se três anos. Será que o povo da periferia voltaria a manifestar-se? Ficou com receio.
Mesmo assim teve de obedecer às ordens do patrão. Saiu para fazer a rota de todos os dias, entre Malhampsene e a Baixa. Ibraimo, o patrão, disse-lhe que não tivesse receio porque “essa coisa do aumento do preço da portagem émentira do dia1 de Abril”. Vai, não tenhas medo porque nada vai acontecer. Este povo aprendeu a ser pacífico. E ele foi. Foi acelerando porque o tempo urge. Era preciso transportar essa gente que madruga para trazer um pouco de pão para as crianças. Foi driblando os buracos das ruas ao mesmo tempo que rogou algumas pragas a essa gente do Conselho Municipal, que “nem em tempo de eleições autárquicas são capazes de dar um rebuçado aos automobilistas”. Nem a Páscoa nos salvou. Aumentam o valor da portagem em mais 25%. Na mesma proporção os buracos aumentam também.
Afinal não era mentira

No seu trajecto de Malhampsene para Maputo, como se os buracos não bastassem, apareceu-lhe pela frente o Polícia. Não era de trânsito. Era o “cinzentinho” de arma a tiracolo exigindo os documentos da viatura. Ele já tinha ouvido falar que o “cinzentinho” não tem autoridade para fazer isso. Muito menos para mandar parar quem circula numa auto-estrada nas horas de ponta.
Mas, para evitar confusões, lá mostrou a sua carta de condução e o livrete. O polícia, não contente, exigiu o documento que lhe autorizava a fazer o transporte semicolectivo de passageiros. O Paciência, pacientemente, mostrou. Continuou viagem.
Muito perto da portagem começou a verifi car os camiões-cavalo que vêm da zona da MOZAL transportando alumínio, que em desrespeito pelas mais elementares normas de trânsito circulavam na faixa da direita, obstruindo a passagem dele e de outros automobilistas. Foi buzinando, como que a pedir passagem. De nada lhe valeu.
Quando chegou à portagem de Maputo viu que tudo funcionava normalmente. Excepção, claro, para a confusão que se gera no momento em que todos têm pressa. Era o salve-se quem puder, que, aliás, é o pão nosso de cada dia dos que moram na Matola e trabalham em Maputo.
Pelo caminho não viu manifestação nenhuma.
Não viu pneu queimado na estrada. O povo da periferia desistiu de se manifestar, porque afinal, como dizia o seu patrão, “essa coisa do aumento do preço de portagem é barrete do 1 de Abril”. Estendeu a nota de 20. A funcionária do “guichet” de pagamento disselhe: “faltam cinco paus, meu caro”. Meteu a mão ao bolso, sacou a moeda e entregou.
Aí despertou para a realidade. Afinal não era “barrete”. Era verdade. O preço da portagem aumentou. Rumou até Maputo e pelo caminho foi segredando a um passageiro que viajava no banco da frente do “chapa”: “Por este andar já não vamos têr estômago onde colocar o cinto”.
CORREIO DA MANHÃ – 03.04.2013

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