Editorial
Maputo
(Canalmoz) – Imagine-se uma das últimas terças-feiras. Seis horas da
manhã. Três viaturas blindadas atravessam a cidade de Maputo, da zona
alta para a baixa, em direcção ao gabinete de primeiro-ministro, na
Avenida 10 de Novembro. Não é simples missão de patrulha policial. Não
faria sentido viaturas bélicas percorrerem artérias de uma cidade em
período de paz se o Governo que se vai reunir em mais uma sessão do
Conselho de Ministros não estivesse com medo do povo. Só um governo com
medo do Povo mobiliza arsenais de guerra para garantir a sua protecção. E
numa democracia que o seja de facto um governo com medo do povo é um
governo que reconhece a sua ilegitimidade.
A
1200 quilómetros de Maputo, na segunda mais importante cidade do País,
Beira, agentes da Força de Protecção de Altas Individualidades (FPAI)
empunham armas de guerra e granadas às portas de mansões-residências dos
membros do Governo provincial de Sofala, nomeadamente directores
provinciais.
O segurança reforçada por todos os lados mostra que o Governo está realmente apavorado com o que o Povo possa fazer.
É assim um pouco por todo o país. Armas de guerra garantem neste momento a “estabilidade” e “segurança” dos governantes.
Quando
um grupo de cidadãos se junta em qualquer esquina para no exercício do
seu direito constitucional se reunir, nem que sejam inofensivos
estudantes universitários, fortes batelões da sarcástica Força de
Intervenção Rápida (FIR) são enviados para o local para reprimir o Povo.
São
armas e polícia que neste momento governam. E se ninguém acalmar os
ânimos um dia destes poderemos acordar com o País a arder.
É preciso semear Paz para colher Paz.
Com
este comportamento do Governo da dupla Guebuza-Vaquina ninguém mais
respeita este Governo que de mentira em mentira está perdendo a
legitimidade aos olhos do Povo e agora para se poder fazer ouvir só com
armas.
Quando
a voz dos governantes já não convence ao povo querem fazer as armas
falar. Esquecem-se de que quem está a empunhar essas armas também é do
Povo e um dia destes também se pode revoltar.
De
discurso em discurso o chefe do Estado e do Governo perde tempo a
mandar recados para os “marginais, tagarelas, apóstolos de desgraça,
distraídos”. Pensará que assim distrai o povo. Engana-se!!!!
Os moçambicanos estão atentos e conseguem perceber que deste dirigente nada mais se espera senão o fim do seu mandato.
Fazia um grande favor à nação se abandonasse já o poder para que possamos viver em Paz, mas insiste.
Das
promessas de “combater a pobreza”, acabar com a burocracia e “espírito
de deixa-andar”, “combater a criminalidade e a corrupção”, hoje se vê
pelas estatísticas internas e externas o país nas mais humilhantes
posições no concerto das nações.
O
ambiente de negócios avaliado internamente pela KPMG revela-se mau,
apontando-se a corrupção na função pública como a causa principal.
O
Inquérito aos Agregados Familiares (IOF) conduzido internamente pelo
Instituto Nacional de Estatísticas (INE) revela que há cada vez mais
pobres no País.
O
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) avaliado pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) deixa Moçambique na terceira pior
posição do mundo.
Os
moçambicanos, aqueles não comprometidos com o regime, sabem e sentem na
pele o quão desastrosa está a ser e tem sido a governação de Armando
Guebuza e do seu elenco.
Os
trabalhadores todos dias são transportados em carrinhas de carga de
casa para o serviço e vice-versa. Sentem que esta governação os
prejudicou.
Milhares
de funcionários públicos que nunca progrediram na carreira e nunca
viram seus salários a aumentar com alguma significância sentem que esta
governação não tem soluções para as suas vidas.
Os
jovens que concluem o ensino secundário e não têm universidade pública
para estudar e os que concluem a universidade e não têm onde trabalhar
porque as politicas públicas não permitem a geração de empregojá
perceberam que com este governo não terão futuro.
Os postos de trabalho na função pública são para sobrinhos e cunhados de quem governa.
Quem
não consegue cumprir com o programa que se propôs a implementar para
ajudar os moçambicanos a resolver seus problemas; quem prometeu
revolução verde e hoje se vê que população continua a viver em bolsas de
fome; quem prometeu acabar com a pobreza e hoje vê que há mais
moçambicanos pobres do que antes da tal promessa, só pode sentir que não
tem legitimidade para governar.
Sente
que perdeu a confiança dos moçambicanos, só pode estar a não querer
largar o poder porque pretende continuar a administrar negócios pessoais
sentado no trono do Estado.
Como
o povo não se distrai com as tácticas que vê Guebuza a usar, só pode
sair à rua para exigir seus direitos. E quem já não quer ouvir o Povo só
pode estar a manda seus os seus “capangas” morder o Povo.
Um
Governo que passa a usar o dinheiro do povo (impostos) para comprar
armas para violentar o próprio povo deve demitir-se antes que o País se
incendeie.
É
assim quando não se tem legitimidade, governa-se com as armas. E quem
manda a Policia e o Exército para a rua só pode esperar o pior.
A
única esperança que resta agora aos moçambicanos é que o chefe Estado
faça o grande favor de abandonar o poder sem deixar o País a arder.
O
desespero é de tal ordem que até já se começou a prender jornalistas
como aconteceu ontem num ensaio em que os comandantes de bom senso
acabaram por libertar o nosso colega Matias Guente, depois de cerca de
quatro horas de cácere forçado.
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