Busílis do problema
Impõe-se-nos traçar aqui dois momentos, em que, nesta marcha de partidos às próximas eleições locais e geral, se enquadram. Primeiro, o adiamento sucessivo pelo presidente da República, AEG, dos pleitos no ano passado e nos meados do início do ano. A justificação dos adiamentos e, por aquela via, a discricionária executiva posição do chefe do estado foi o respeito das festas dos religiosos, neste caso os que professam o islão. Isto por um lado. E, por outro, veio à mente lhe veio a justificação de financiamento e deficit do número de recenseados até então.
Impõe-se-nos, ainda, ter presente que o chefe de estado não se referiu, em momento algum, sobre a necessidade de um lapso de tempo para ‘reorganizar a máquina’ dos partidos para, democraticamente, apurar aqueles que iriam ser os candidatos aos pleitos eleitorais que se avizinham. Para dizer que, a preparação dos partidos, para as eleições ficou implícito naquelas decisões transcorridas. O que quer dizer ainda que, se as eleições tivessem tido lugar nos períodos previstos, nem a Frelimo, nem a Renamo, nem ainda outros partidos estariam preparados para concorrer. Daí a esta parte é que, de facto, começamos a ver um movimento mais acutilante e desusado deste e daquele partido, mas sem que pudéssemos discernir o que os partidos estão tangivelmente a fazer, na direcção de eleições livres e transparentes, quer na selecção dos candidatos, quer nas próprias eleições locais e gerais.
Houve “eleição”, “Selecção” “endossamento” e/ou “indicação” interna de candidato Manuel Pereira (na foto)? – (Etiquetas múltiplas que se auto-excluem para um mesmo problema)
Convinha, à jeito de contextualização, centrarmo-nos naquilo que se passou nos aposentos da Renamo, uma vez já termos tecido referências à Frelimo e seus candidatos algures recentemente. Afigura-se-nos imperativo reiterar, aqui e a bom som, que aquilo se nos deixou testemunhar o resultado das pseudo-eleições das lides e entranhas do “Partidão” perfaz uma quimera, da qual não se pode embandeirar em arco. Falar de democracia, na atinente acepção que encerra o verbo, e fazer democracia sui generis, sem nuance draconianas, não foi palavra de ordem. Operou-se à ilharga do básico que uma democracia deve comportar. Para nós, é repugnante contemplar o espaço que cremos democrático, como uma simples miragem!
Que factores precipitam a aparente crise na Beira?
Desemboquemos então naquilo que é o objecto deste artigo, questionando o seguinte.
· O que se passou nas confluências interiores e baixas do maior partido da Oposição que levou a eleições/indicações internas dos candidatos as eleições municipais?
· Será esta a maneira mais sábia, transparente e democrática de apurar os concorrentes do partido?
· Qual é o papel dos líder do partido neste processo de eleições, de escolher, indicar, ou endossar os candidatos?
· Quem são as “bases do partido Renamo” de que o senhor Manuel Pereira, e que queriam a sua candidatura?
Não vou propositadamente me lançar na procura de respostas das perguntas acima, mas há aspectos que merecem um reparo de modo como os processos de eleições são dinamizados nos partidos. A partir do momento que um partido é registado como devendo operar legalmente neste país, tem obrigações superiores de abrir as portas, ao público membro e não membro, para o que se está a cozinhar nele. Chamo a atenção, para o facto de, não me estar a referir de tácticas e estratégias de ganhar as eleições, que para mim é segredo da vitória. Não obstante a isso, quando se cria uma vitrina opaca entre os eleitores e as direcções do partido, quanto aos processos de eleição e outros, tal não é democrático, pois se configura numa obscenidade sem paralelo, e como tal, indescritível. Por baixo desse processo rocambolesco não há nada! O que existe, se não estou errado, são as chamadas “bases políticas”. As tais “bases políticas” de facto, não existem. O que existe é um ‘exército’ de pessoas que se acha no direito de fazer a vez do eleitor no momento sagrado do depositado do voto. São as tais “bases políticas” da Frelimo e de certo modo da Renamo.
Na ausência de um processo transparente, democrático e credível, o país parou para ouvir que o melhor entre os melhores edis do país, Eng. Davis Simango, fora posto fora da corrida as eleições na última quinta-feira. O que se alega é o facto do jovem engenheiro não ser da Renamo (?) e que as ditas “bases políticas” apostarem na figura do deputado Manuel Pereira. Ao que percebemos, não houve eleição interna nenhuma. Manuel Pereira foi seleccionado em detrimento do Simango. O que custa é, de facto, perceber sobre quem de facto selecciona quem, para um cargo, tão púbico, que é o de edil de uma cidade, como a Beira, onde vivem milhares de cidadãos. É o líder da Renamo? É a comissão política, que há muito não se reúne? É a conferência nacional, que faz tempo que se reuniu? Que selecciona quem na Renamo, para edil?
Confrontemo-nos com a realidade! Davis Simango já não é pela “Perdiz” o candidato par'o bem cobiçado cargo de edil da Beira. Com Simango jaz um rio de amarguras. Com Simango sofrem os eleitores beirenses. Com Simango há também uma experiência e uma esperança. Foi um líder que mostrou suas qualidades, honestidade e humildade. Davis Simango cumpriu com o seu manifesto eleitoral (RM, 30/08/08), ficando assim 'com eira e com Beira', muito acima daquilo que foi antes. Simango declinou, no entanto, confirmar seu afastamento da corrida a edil da Beira, respondendo às perguntas da RM-Jornal. Mostrou-se, contudo, "satisfeito" pelo seu mandato, e que sai “feliz por ter contribuído para a sua Beira e os beirenses”, como o citei ipsis verbis.
O que resta à Davis Simango? (assumpções hipotéticas)
Se querer ser o apóstolo da desgraça, é necessário equacionar o futuro de Davis Simango, pese embora ele próprio não o faça para descartar especulações e exageros. Para mim quatro cenários se desenham no horizonte:
O primeiro pretende-se com um acatamento da dita disciplina partidária e deixar que as coisas rolem à bel prazer de um factor exógeno a influenciar seu silêncio e, espere outras oportunidades que o partido Renamo lhe oferecer;
A acção oposta ao que mencionei acima, pode ser aquela de um Simango inconformado, disposto e espevitado no âmago crise da qual repousam respostas, como uma candidatura independente ao município do Chiveve; já que a lei lhe assiste nesta matéria;
Não parece que Simango, jovem que é, contemple por ora uma reforma da vida política activa. Pode ser que, se a razão imperar no seio da Renamo e pelos créditos de ter sido o melhor edil, o mesmo possa seja chamado a liderança da Renamo, para os desafios eleitorais vindouros que vão, de certeza, requerer pujança e vibração política. Ele pode ser, enfim, a requerida pedra-de-toque incontornável.
Expostos que são estes cenários, subsiste a questão de quanto é avanço democrático no seio da Renamo, para permitir que haja uma saída airosa desta aparente crise. Senão de nada vale todo o esforço de todos quantos sacrificaram suas vidas, para ver “tal democracia que não seja apenas de África, tão-somente da Europa”, vingar e prevaleçer em Moçambique. Ma nada.
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