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terça-feira, 10 de abril de 2012

O QUE DIZER SOBRE “O CASO FELISMINO TOCOLI”?

CRÓNICA Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas

(gentoroquechaleca@gmail.com )

 “Lá na terra onde nasci, em Chivule, na diminuta povoação de Benga (actualmente sob o olhar atento dos garimpeiros de todo o mundo em busca de raras preciosidades), os anciões costumavam dizer para os mais novos a seguinte filosofia: Quando a cabeça de baixo levanta a de cima perde o juízo. E eu questiono, na minha caturrice, o seguinte: Quantas vezes os apetites sexuais, descomunais entre os Homens, não os levam a cometer erros do tamanho de Monte Binga? Eis aqui uma questão para a vossa reflexão”. Trecho extraído a conversa com os meus sobrinhos.

Quando me chegou às mãos a notícia que é divulgada pelo Expresso- Moz (edição n° 30 de 4 de Abril de 2012) dando conta de uma provável fornicação envolvendo a figura de S. Excia o governador da província de Nampula, Prof. Felismino Ernesto Tocoli, com uma senhora, ao que tudo indica, casada oficialmente com o Secretário Permanente (SP) do distrito de Nacala-a- Velha, fiquei incrédulo e não quis acreditar patavina. O físico, acusado de engravidar esposa do seu colega de trabalho? Não, não pode ser. Peguei na gazeta, palavra por palavra, soletrei o título com a mesma precisão que os alfaiates têm em colocar a linha no acanhado buraco da agulha:

“Governador engravida esposa de colega”.

Como estávamos na “ressaca” do “dia das mentiras”, assinalada no passado dia 1 de Abril corrente, pensei que se tratasse de uma brincadeira cruel dos “funcionários queixosos” e até certo ponto do Expresso-Moz para “assassinarem” politicamente o dirigente máximo do governo provincial de Nampula. Pensar é gratuito e não paga imposto, ora acusar é outra “manta”.

Sabido que a Lei de Imprensa em vigor no país dá ao ofendido o direito a defender-se e repor à verdade dos factos e o bom nome, o Prof. Felismino Tocoli, porém, remete-se ao silêncio do mundo dos mortos, preferindo, talvez lhe convenha, entregar outra face aos “funcionários denunciantes ou queixosos”, e, em última análise, ao Exepresso-Moz por publicar a notícia.

Diria o povo na sua incomensurável sabedoria: “quem cala, consente!”. Quem também preferiu o silêncio sepulcral é o SP de Nacala-a-Velha, cuja vida íntima anda no “tabuleiro da comunicação social”, inclusive nas páginas da Internet onde o debate sobre o assunto é mais aceso. Será esta uma estratégia do SP?

Mas para um leitor atento, um eleitor exigente, enfim, um cidadão que desconta do seu mísero salário para confortar às nádegas dos seus representantes em poltronas do poder, esta notícia não deve passar despercebida, pelo contrário, deve merecer interrogações e profunda reflexão. A vergonha pode ser pouca para o acusado (tudo depende da autoestima do acusado), mas pode ser de tamanha grandeza para o país.

De resto, a ser verdade a notícia de fornicação, o Prof. Felismino Tocoli não é o único que viola as regras deontológicas vigentes no Aparelho de Estado. O único azar de Tocoli, no caso de ser verdadeiras as acusações que pesam sobre ele, é de praticar o coito com a esposa do seu colega (SP) de serviço e usar de forma abusiva a veste de governador para consumar o acto.

Outrossim, fazendo jus à fonte, trata-se de um ritual sexual que o governador pratica com as secretárias particulares do seu gabinete.

Se o cidadão Tocoli é infiel à sua esposa, não cabe a estranhos arbitrar a vida alheia, mas se o infiel é o governador Tocoli, o assunto deixa automaticamente de ser privado e passa a ser de interesse público. São assim as regras da democracia que dispensa catálogos. Além das molduras penais que aos magistrados ou entendidos de Direito dizem respeito, Tocoli não escaparia de duas piores sentenças que um Homem pode sofrer na vida: a excomunhão religiosa e o descrédito da população. A maior parte da população de Nampula pode até ter o estômago de pobre, mas não tem e jamais terá a consciência atrofiada e quando quer não perdoa. Não vamos mexer no vespeiro...

Samora Machel, que hoje dorme na eterna estufa do silêncio, chamou atenção para o facto de existir, mormente no seio do seu partido, dirigentes que usam as patentes ou cargos políticos para cometerem desmandos. Apesar de ele próprio ter um “telhado de vidro” e “quatro dedos virados contra si”, o saudoso presidente sabia perfeitamente (e tinha consciência disso) que o viveiro do mal iria propagar-se até à medula.

Aqui está mais uma razão da frase “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Havia sinais de militares e militantes do partido Frelimo que teimavam em exumar práticas incorrectas da guerra, com enfoque para os favores sexuais. Machel sabia que com a sua morte nenhum extintor seria capaz de apagar a “floresta” em chama no Aparelho de Estado e é por isso que denunciava energicamente os prevaricadores. Também aqui, em relação a este assunto, convém não mexer no vespeiro....

Numa das passagens do Empresso-Moz lê-se “o assunto [Tocoli] é do conhecimento do Presidente da República Armando Guebuza e do Comité provincial do partido Frelimo em Nampula”. Mas não diz, estranhamente, como eu esperava saber, se o caso também é do conhecimento da Justiça? A Justiça moçambicana é sempre a última a saber de ilegalidades e quando sabe de algo diz que o mesmo está em segredo de justiça. Entretanto, temos “segredos de justiça e do Estado” à disposição do público na Internet.

Sem querer levantar paralelismos com casos quaisquer, este assunto antes de parar à imprensa, deveria mexer com a consciência do acusado. Numa situação destas, em que a sua honra está à venda a preço de banana, o único conselho que me atrevo a dar ao acusado é o pedido de demissão do cargo de governador da província de Nampula.

O autor destas linhas não tem a mínima dúvida da honestidade e do profissionalismo do Prof. Felismino Ernesto Tocoli (penso eu que é dos governadores que muito pouco fala e em compensação trabalha aceitavelmente bem), pois com ele trabalhei durante largos meses em Nampula num projecto do Estado moçambicano financiado pelo PNUD e outros organismos internacionais, e sempre mereceu minha admiração e reconhecimento. Mas lá está: “À mulher de César não basta ser honesta, tem também que parecer honesta”. Que o digam os funcionários queixosos. Sabido que recuar não é perder a batalha; desistir não é fugir e demitir-se não é assumir meia culpa, penso que seria justo a um intelectual como o é Prof. Felismino Tocoli o pedido de demissão ao PR.

Quem não tem defeitos, que atire a primeira pedra.

‘Kochikuro’ (Obrigado)

WAMPHULA FAX – 10.04.2012

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