Tal como Dhlakama, Daviz Simango recusou a visibilidade que todos os políticos visionários procuram no parlamento para ficar no seu cantinho, na Beira, a construir o seu castelo de intrigas. Por isso, hoje, o MDM perdeu a visão nacional e virou um partido de base regional, clientelista, paternalista.
O Conselho Nacional do Movimento Democrático de Moçambique, MDM, reunido esta semana, em Cabo Delgado, Pemba, resolveu da pior maneira a sua crise interna: ratificou a demissão do seu ex-secretário-geral, Ismael Mussa, e para o penalizar ainda mais, pela sua ousadia de pensar diferente da liderança do partido, convidou-o a abandonar o cargo de vice-chefe da bancada parlamentar daquele partido na Assembleia da República. Para compor integralmente a peça, só faltava mesmo o mandarem embora. O que só não sucedeu porque o partido não teve como o fazer.
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É, sem dúvidas, uma forma de estranha de praticar democracia. Se os partidos políticos não são suficientemente democráticos, não têm como, em definitivo, praticar qualquer democracia na gestão do país.
Curiosamente, o MDM adoptou como slogan, desde a sua criação, “Moçambique para Todos”. Ou seja, os seus dirigentes disseram-nos que estavam a criar um partido para lutar por um país em que todos tivéssemos lugar por igual, independentemente das nossas opiniões. Mas não é esta a realidade que os seus dirigentes cultivam, dentro do seu partido. Como, então, acreditar que a praticarão uma vez no poder?
O próprio pai de Daviz Simango, Uria Simango, figura de proa da Frente de Libertação de Moçambique, foi vítima disto que, hoje, o seu filho pratica. Morreu porque tinha uma visão diferente da dos seus pares de direcção da Frelimo. A sua família, até hoje, tem um ódio de estimação pela Frelimo, por esta ter calado a boca ao seu progenitor de forma tão brutal, só porque pensava diferente.
Nas várias entrevistas que deu, quando se anunciou à política nacional, e até nos seus primeiros passos como presidente do município da Beira, nomeadamente quando rompeu com a Renamo e Afonso Dhlakama, Daviz Simango disse que lutava pela democracia e que queria ser uma alternativa credível à Frelimo para a governação deste país. Mas Daviz está a sair-se uma fotocópia perfeita de Afonso Dhlakama e a frustar, a cada dia, as enormes expectativas que os moçambicanos que, não se identificando com a Frelimo e não sentindo credibilidade na Renamo, viam no MDM e nele um oásis no deserto.
O MDM, para a infelicidade da nossa democracia, herdou as guerras intestinais que se travavam na Renamo e vai deixando cair, um a um, todos os seus membros que se sentem com o direito de discordar das opiniões correntes e prevalecentes. À volta do líder, só ficarão os que souberem fazer as vénias. Algures, em Nampula, foi assim como ruiu outro promissor projecto político. A história repete-se, infelizmente.
Tal como Dhlakama, Daviz Simango recusou a visibilidade que todos os políticos visionários procuram no parlamento para ficar no seu cantinho, na Beira, a construir o seu castelo de intrigas. Por isso, hoje, o MDM perdeu a visão nacional e virou um partido de base regional, clientelista, paternalista.
Luís Boavida, o novo secretário-geral, homem com carreira política feita na Renamo, onde foi parlamentar nas primeiras três legislaturas multipartidárias, é apenas a próxima vítima que se segue.
Num partido cujas fundações se constroem à volta da figura do líder, a questão central é saber até onde irá a margem de manobra do novo secretário-geral, vivendo ele na capital e centrando-se a base do partido no cantinho do presidente, na Beira.
PS:
O seleccionador nacional, Mart Nooij, disse esta semana que não tinha o compromisso de qualificar os Mambas para o CAN 2012. Perante as visíveis dificuldades de fazer frente à Zâmbia e à Líbia, mas sobretudo de colocar os Mambas a jogar futebol de verdade, depois de inúmeras promessas frustradas, o holandês refugia-se em justificações sem sentido. Com os dirigentes da FMF unicamente preocupados em fazer campanha para se (re)elegerem para os cargos – e está visto que só os cargos contam para aquela gente da FMF - teve que ser o ministro da Juventude e Desportos, Pedrito caetano, a vir tentar colocar o holandês na linha, lembrando-lhe que o primeiro compromisso assumido por Mart é o CAN 2012. Então, que sentido faria pagar 15 mil dólares a um técnico e sei lá quanto aos seus adjuntos, unicamente, para se passear numa fase de qualificação, como esta.
Mas este episódio serviu para nos dar conta do que, realmente, sucede à volta desta fase de qualificação dos Mambas. A direcção da FMF está-se nas tintas, qualifique-se ou não a selecção nacional. Afinal, este é o projecto do ministro Pedrito, que negociou e contratou o seleccionador. É ele que tem que lidar com Mart Nooij. Há um ano, aqui neste mesmo espaço, escrevi que era de ganhos duvidosos a intromissão do ministério da Juventude e Desportos na esfera técnica da FMF. Hoje, infelizmente, o tempo está a dar-me razão.
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