A China está a afirmar-se rapidamente como principal potência estrangeira em Moçambique, suplantando outros parceiros políticos e económicos tradicionais graças ao crescente comércio externo, investimento e cooperação, afirma o investigador Loro Horta.
“Numa altura em que o Ocidente enfrenta uma séria crise económica, a China e outras potências emergentes estão a tornar-se cruciais para o bem-estar de várias nações africanas.
As relações sino-moçambicanas deverão continuar a crescer com Pequim a emergir como principal actor económico e estratégico em Moçambique e na África Oriental”, afirma Horta num estudo publicado em Maio.
Em “O Dragão e a Mamba: ACrescente Presença da China em Moçambique”, Horta analisa os principais desenvolvimentos no envolvimento chinês naquele país africano de língua portuguesa, que, considera, nos últimos três anos atingiu um nível “impressionante”.
A China concedeu isenções a 420 a produtos agrícolas moçambicanos e o comércio externo mais do que triplicou entre 2007 (208 milhões de dólares) e 2010 (690 milhões de dólares), enquanto grandes investimentos são canalizados para as infra-estruturas, mineração e agricultura.
O Banco de Exportações e Importações da China concedeu ao governo de Maputo um financiamento de 2,3 mil milhões de dólares para construção de uma grande barragem no país, Mpanda Nkua, e empresas chinesas têm vindo a construir estradas, pontes, instalações militares e hospitais, além do principal aeroporto do país, em Maputo, e vários edifícios públicos.
“A China está a emergir rapidamente como o mais importante actor económico e diplomático em Moçambique, trazendo milhares de milhões de dólares em investimentos sem fazer perguntas”, afirma o investigador.
Apesar de alguns pontos de tensão entre os dois países a nível laboral e ambiental, as relações bilaterais “são entendidas como largamente benéficas” para ambas as partes.
O principal investimento chinês no país é até agora de mil milhões de dólares, um projecto da Wuhan Iron and Steel na produção de carvão, mas foi noticiado um projecto da congénere Kingho para o mesmo sector, no valor de cinco mil milhões de dólares.
Um seminário empresarial organizado pelo governo moçambicano em Xangai em Junho de 2010 terminou com compromissos de investimento de 13 mil milhões de dólares, para produção de cimento, algodão e bens agrícolas.
O aguardado início do primeiro voo directo entre Maputo e Pequim deverá traduzir-se num impulso do turismo chinês no país africano que, de acordo com a comunicação social moçambicana, pode chegar a um milhão de turistas na próxima década.
Outro ponto de interesse é a modernização e expansão do porto da Beira, que pode ser usado para escoar a produção de empreendimentos chineses em países vizinhos como a Zâmbia ou o Zimbabué.
George Wang, porta-voz de um consórcio interessado no investimento afirmou que a sua produção de diamantes está actualmente a ser escoada por terra até ao mais distante porto Durban, na África do Sul, e que a Beira seria a preferência para os países da região, se as infra-estruturas fossem modernizadas, cita Loro Horta.
Uma expansão ainda mais rápida da influência chinesa em Moçambique é travada pela situação de segurança, criminalidade e má qualidade das infra- estruturas no país africano, adianta o investigador.
Até agora as autoridades moçambicanas têm conseguido manter uma postura de equilíbrio entre as diversas potências em jogo, mas esta será testada à medida que crescer o interesse da Índia, China ou Brasil pelos seus recursos energéticos e matérias-primas.
“A China está agora rapidamente a substituir as antigas potências coloniais tradicionais do continente como principal actor”, afirma.
De origem timorense e formado pela Universidade de Defesa Nacional do Exército de Libertação do Povo (China), Loro Horta viveu largos anos em Moçambique, colaborando actualmente com diversos centros de investigação em todo o mundo.
Macauhub - 28.06.2011
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