Da Capital Do Império
Por Jota Esse Erre*
Se há alguém que pensa que a crise financeira em Portugal é algo que diz respeito a Portugal está totalmente enganado. Diz respeito ao Euro. E isso traz um aviso para Moçambique e a todos os membros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, SADC, onde se continua a falar de uma moeda única: Cuidado com aquilo que desejam.
Digo isto porque a moeda única é um projecto de que se fala com entusiasmo em muitas capitais e por muitos especialistas dessas bandas. Nada mais atractivo que o sonho de se poder deslocar do Maputo para Joanesburgo, para Lusaka, para Lilongwe, para Gaberone para Dar Es Salam sem ter que estar a trocar Meticais por Rands por Kwachas, Pulas ou Shillings. Além de ser cómodo é para muitos uma visão “sofisticada” de unidade que é na verdade politicamente superficial e economicamente um doce envenenado.
A criação de uma moeda única (com o nome de SADEC?) implica claro está um banco central único e é aí que estão todos os problemas.
Um banco central único significa logo à partida que Moçambique perde totalmente a prerrogativa de controlar as taxas de juro. E essas taxas de juro vão provavelmente reflectir o que se passa na economia mais forte da região, a da África do Sul ( isso se Julius, “ Um Colono Uma Bala”, Malema não tomar conta do poder e zimbabwificar o país). A pergunta a fazer aqui é: E se subitamente os níveis de inflação subirem em Moçambique em grande escala e Moçambique precisar de subir as taxas de juro? Não o pode fazer. Isso é uma das consequências do Euro para Portugal, Irlanda e Espanha.
Mais do que isso a criação de uma moeda única poderá inicialmente criar uma entrada em grande escala de fundos a circular livremente por toda a região e isso poderá claro está criar uma inflação de salários e custos tornando os (poucos) produtos moçambicanos ainda menos competitivos nos mercados internacionais.
Ao princípio, tal como aconteceu em Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha tudo seria uma maravilha. Nível de vida a subir, investimentos também, o crédito também. Mas no caso do Euro esse dinheiro fácil criou desequilíbrios que esses países não podem corrigir de um modo que o poderiam fazer caso tivessem a sua própria moeda. Os deficits das balanças comerciais aumentaram devido a esse dinheiro fácil e “forte”. Mas Portugal ( ou a Espanha, ou a Grécia ou a Irlanda) não podem também por exemplo desvalorizar a moeda.
Por outras palavras: depois da festa vem o babalaz e agora todos pensam que o melhor seria não se ter bebido do Euro. Mas é difícil agora sair do Euro sem correr o risco de uma corrida desenfreada aos bancos locais e aumentam as acusações entre os países que aderiram á moeda conjunta. Os fortes a acusarem os fracos de irresponsabilidade, os fracos a acusarem os fortes de... serem fortes. Por outras palavras o que deveria ter sido mais um laço de unidade é agora um ponto que sublinha as diferenças - A União Europeia (UE) é hoje mais do que nunca uma UEtupia. O desafio europeu já não é só económico. Agora - graças ao Euro - é também social (quem e como vai pagar pelo Euro?) e político (quem vai tomar as decisões difíceis que têm que ser tomadas porque a prisão do Euro não dá margem de manobra em política monetária e financeira?).
Em Portugal a prosperidade temporária vai agora traduzir-se numa crise de longa data sobre a qual Lisboa tem pouco controlo. Na infelicidade dos agora amigos portugueses jaz uma lição para aqueles que governam no Maputo: Mais vale um metical na mão que dois SADECs a voarem num banco em Jo’burg. A moeda única da SADC pode ser um sonho bonito que no entanto esconde um possível pesadelo para países como Moçambique.Cuidado com aquilo que se deseja.
SAVANA – 03.12.2010
"MOCAMBIQUE PARA TODOS,,
VOA News: África
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