Ninguém  tem dúvida sobre o que pode estar por trás da detenção na Suazilândia.  Casos destes, dirão alguns, acontecem em todo o mundo. Porque razão o  moçambicano passou pelo controlo do nosso posto de fronteira? Falhas  policiais no controlo do veículo, onde se transportava esses milhões  podem também ocorrer com a mais das eficientes polícias. Esta podia ser a  resposta. Aceitável num outro momento. Mas não agora. Não neste  momento. Porque o momento que enfrentamos está, no capítulo destas  suspeições, doente de passado e debilitado de futuro. 
Comecemos  pelo passado: Ayoob já tinha sido detido em Portugal pelo crime de  tráfico de drogas. Foi preso em 1987, mas conseguiu fugir e regressar a  Moçambique. O Ministério Público de Portugal acusou Mohamed Khalid Ayoob  por crime de tráfico de droga, com possibilidade de ser condenado com  pena de 8 a 12 anos de prisão. 
As perguntas podem ser muitas. Façamos apenas uma: como demos abrigo a uma pessoa com um cadastro destes? 
O  passado, portanto, não nos apanha de surpresa. Talvez um pacato cidadão  como eu tenha que dar mais explicação na fronteira que alguém com um  passado assim. Quem sabe um pobre turista que vem conhecer Moçambique  seja mais vezes interpelado pelo zelo de autoridades que o próprio Momed  Ayoob. 
Falei  do passado. Será que o futuro trará surpresa? Duvido. Pudesse eu ficar  tranquilo e saber que algo vai certamente acontecer. Pudesse eu estar  certo que as autoridades dariam explicação pública (quando puderem, não  estou apressado) de um facto que se tornou público. E que, para além de  ser público, pode manchar a imagem do país. De um país que não quer  viver na suspeita de ser conivente com o narcotráfico. 
Mas  confesso, algo me diz que o assunto terá um desfecho anunciado. Ou  melhor nunca anunciado. Ficará nesse perpétuo banho-maria que convida ao  esquecimento. E quando se esquece – pesam alguns dos nossos ideólogos –  acaba por se acreditar que nunca aconteceu. 
Tal  como sucedeu antes, Momed Ayoob regressará aos seus negócios. Quem  sabe, me interrogo por amor a todas as hipóteses, ele é inocente e está  sendo injustamente associado a um crime maior que não cometeu? Sim, quem  sabe o nosso comerciante está inocente? Por isso mesmo seria de todo o  interesse para o próprio Ayoob que o assunto caminhasse para um  esclarecimento público e convincente. Ayoob lavaria o rosto, Moçambique  ganharia de tal limpeza. 
Falamos  hoje muito de auto-estima. E com razão. Mas para que essa auto-estima  tenha substância é preciso que o nome da nossa pátria esteja acima  destas suspeições. Entre um passado duvidoso e um futuro de dúvidas,  poderíamos converter o presente num momento de certezas. Só existe um  caminho: o de provar que se toma a peito este assunto. E isso não  depende de jogos de acusação e de azedas trocas de palavras com oposição  e doadores. É o povo que é preciso convencer. Os discursos não bastam,  como não bastam as acusações contra má vontade dos outros. Não estamos  perante arquitectados libelos. Não foi o “inimigo” que inventou a  notícia da prisão de Momed Ayoob. Estamos perante factos. Que exigem  actos. 
Aprendi  como escritor que os nossos maiores inimigos não moram fora de nós.  Estão dentro. Não existem dois caminhos. As autoridades moçambicanas  precisam mostrar que, por mote próprio (e não empurrados por ninguém)  vão esclarecer este assunto e tomar as necessárias medidas. 
Para que a pérola do Índico não se cubra de poeira.
 
 

 
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