CRÓNICA
Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
E m apenas um ano de mandato, este Governo já teve o descaramento de rotular o seu próprio povo com vários nomes, entre eles, o de vândalo e bandoleiro; meses depois das sangrentas manifestações de 1 e 2 de Setembro voltou a chamar o seu povo de lerdo (preguiçoso) ao inventar uma campanha supérflua sobre “Diálogo Social e Cultura de Trabalho” - que é, paradoxalmente, dez vezes mais cara em relação às campanhas contra o HIV/SIDA, malária e outras epidemias mortíferas); e agora fazem-no (ao povo) dançar a marrabenta ao som do nhau (o apregoado futuro melhor, infelizmente, ainda está por vir); e, como se não bastasse o “cancro” da corrupção e o aumento do “caudal” do desemprego, fazem-no passar por drogados e/ou candogueiros da droga. Basta senhores, haja pudor! (Palavras retiradas da palestra com os meus sobrinhos).
Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
E m apenas um ano de mandato, este Governo já teve o descaramento de rotular o seu próprio povo com vários nomes, entre eles, o de vândalo e bandoleiro; meses depois das sangrentas manifestações de 1 e 2 de Setembro voltou a chamar o seu povo de lerdo (preguiçoso) ao inventar uma campanha supérflua sobre “Diálogo Social e Cultura de Trabalho” - que é, paradoxalmente, dez vezes mais cara em relação às campanhas contra o HIV/SIDA, malária e outras epidemias mortíferas); e agora fazem-no (ao povo) dançar a marrabenta ao som do nhau (o apregoado futuro melhor, infelizmente, ainda está por vir); e, como se não bastasse o “cancro” da corrupção e o aumento do “caudal” do desemprego, fazem-no passar por drogados e/ou candogueiros da droga. Basta senhores, haja pudor! (Palavras retiradas da palestra com os meus sobrinhos).
Não tenho por hábito atirar pedras a ninguém, mesmo quando, em situações dessas, como um dentre os 20 milhões de moçambicanos que somos, também me sinto apodado de drogado e, ao contrário de muitos, ofereço a outra face, segundo os ensinamentos de Cristo. Desta vez (seja-me perdoado o pecado), a alegoria de Cristo não será levada à letra, porquanto está em causa a estabilidade social e moral do país, disso (pode crer o leitor) sou um Hércules implacável. Pela pátria, se preciso fosse, daria a minha própria vida. E dou, de facto, sempre! Eis aqui o meu voto de protesto.
Vem este preâmbulo a propósito das recentes notícias divulgadas pela Wikileaks (este ‘tubo escape’ das novas tecnologias de informação e comunicação, que prova, por um lado, que no mundo não há nada, absolutamente nada, inviolável; por outro, ensina-nos também que os governos politicamente inseguros possuem geralmente tripés frágeis) segundo a qual o governo do então Presidente da República, Joaquim Chissano, e o actual executivo liderado pelo poeta e veterano da luta armada, Armando Guebuza estariam envolvidos no tráfico de estupefaciente!
Este tipo de notícias (más) correm o mundo à velocidade de cruzeiro e esta, obviamente, não foge à regra.
Nem as freiras do convento escapam.
Há dias, no distrito de Portalegre, no convento de Elvas, as freiras ali instaladas quiseram saber de mim sobre as recentes acusações de tráfico de drogas que envolvem, directa ou indirectamente, as figuras do antigo e o actual estadista moçambicano, respectivamente, Joaquim Chissano e Armando Guebuza, diga-se de passagem, atípica aos ouvidos das freiras, mas não em relação à nossa política doméstica. Este “assunto” tem barbas brancas. Ao longo deste ano, em Junho, o governo já tinha sido alertado pela Administração Obama de que o senhor Momed Bachir Suleman (patrão do grupo MBS e empresário por mérito do partido Frelimo) seria o grande barão da droga. Esta informação, ao que parece, não mereceu a devida atenção do governo, concretamente das autoridades policiais e judiciais, foi arrefecida tal e qual os ferreiros da sucataria arrefecem os ferros quentes.
O assunto deixou de ser notícia mas não foi esquecido, porque: durante muitos e longos anos da conquista da independência fomos ensinados a não esquecer as cicatrizes do colonialismo, pois “ninguém pode esquecer o tempo que passou”!
Quantas vezes não foi parar às minhas mãos a tábua ou a vara de amora (carambas como doia, mas era necessário) vinda das grossas mãos do professor Nguluve (incansável pedagogo que lutava dia e noite para compor a bainha da compostura e da decência humana aos estudantes, de que eu e a rapaziada de então usufruímos, modéstia à parte, com agrado e louvores) quando, por teimosia ou por rebeldia, esquecia a letra daquelas canções cuja gaveta do meu cônscio guarda com nostalgia “não vamos esquecer o tempo que passou”, tão simples quanto isso, (era a dita letra, maldita). Cantava-se nas trincheiras da luta armada, nos corredores e nos pátios das escolas, etc. Era a catequese do regime.
Agora a peregrinação é outra.
Convertidos em evangelistas, tentam, sem êxito, oferecer ‘chupetas envenenados’ e ‘diazepam’ para o povo dormir, ou melhor, esquecer. Como pode o povo esquecer os factos históricos marcantes da nossa história?
Como pode o povo esquecer quem lhe tira a esperança de vida? Como pode o povo esquecer as cicatrizes das balas que recebe todos os dias por aqueles que, como a polícia, deviam velar pela ordem e tranquilidade públicas? Não, há dores que não se esquecem nunca!
Tarde de mais, porque hoje mais do que nunca, o povo não se engana, não se esquece. Não esquece e nem vai esquecer o caso das 40 toneladas de haxixe cujo processo investigativo, em detrimento do que acontece quando se investiga - para castigar - os detractores do regime, para além de “morto” constitui segredo do Estado. Em sede de julgamento ouvimos recentemente um ex-ministro do Interior invocar segredos do Estado! Na vida de um país nem tudo é segredo do Estado. Sabe-se lá qual é esse segredo de Estado tantas vezes invocado pelo réu! A hemorragia dos casos ligados à droga não pára por aqui, porém, não pretendo de maneira nenhuma extenuar o leitor com tanta ladaínha. Quem quiser saber mais ou contar mais veja o artigo de Paul Fauvet (Drogas: Para refrescar a memória) publicado no semanário Savana de 18 de Junho 2010.
Voltando à meada, questiono: Que implicações terão para o país as revelações da Wikileaks? Qual é a posição concreta do governo perante esta “bomba atómica”? Vai ou não o PR ouvir o Conselho do Estado? Vai ou não a PGR investigar esta denúncia? Vai ou não o Parlamento ouvir os ministros do pelouro da Justiça, Negócios Estrangeiros, Interior, etc? É óbvio que as relações internacionais entre os Estados são exercidas “debaixo da mesa”, os frutos dessas negociações (tal e qual o pêndulo, quantas vezes ignoramos o motor que está por detrás das horas que nos fornece) chegam à mesa despercebidamente, mas neste caso, como podemos ver, convenhamo-nos senhores, o povo sabe que há “gato” e, precisa, urgentemente, de ser informado o que está a acontecer.
Situações dessa natureza criam instabilidades de vária ordem. A antecipação do estado geral da Nação, por essas alturas, seria um óptimo remédio para o governo tranquilizar a onda de especulações que se levantam no mundo inteiro sobre o país.
Esta semana ouvimos o ministro Oldemiro Baloi, dos Negócios Estrangeiros, dizer que as relações entre Moçambique e os EUA são salutares. Pois é, senhor ministro, ninguém disse o contrário, basta ver a plataforma de ajudas filantrópicas que os EUA dão ao país (ainda que isso tenha, no futuro, uma moeda de troca) mostra, porém, que, apesar das constatações do tráfico de drogas, o governo norte-americano não está interessado em tomar ou prejudicar o nosso país.
É apenas uma questão de evitar a multiplicação de Mahmoud Ahmadinejad no mundo. Seria catastrófica para o país e para os EUA se o negócio da droga fosse institucionalizado em Moçambique como é o caso de Afeganistão ou da Guiné-
Bissau. Qualquer território onde o tráfico de drogas é um ‘modus vivendi’, a esperança de vida do seu povo é precária e reduzida. Torna-se num Estado frágil que pode, ao pequeno toque, abrir feridas gigantes. Basta ver a Guiné-Bissau, país que ainda vive o primitivismo humano.
Estamos a navegar constantemente no mesmo erro, erro esse que vem de trás. E, como dizia um escritor francês, ou nos salvamos em caxo (cacho) ou então morremos todos afogados. Como povo que somos, a Wikileaks dá-nos uma boa oportunidade de pensarmos no tipo de futuro que queremos dar ao país e para os nossos filhos, pois, como diz o reitor Víctor Cameirão “ninguém salta um poço com dois passinhos.” A pergunta que não quero calar é esta: E agora “senhores presidentes”, o que se espera de Moçambique nos próximos tempos? Será que alguém entenderá que nem todos os moçambicanos têm a ver com o narcotráfico? Será que o mundo compreenderá que há moçambicanos que trabalham no duro para remediar as hecatombes da vida?
Uma notícia dessas não altera a opinião das pessoas (dificilmente altera) até porque as más notícias figuram como os melhores quadros colocados no melhor canto da casa. Passam de gerações em gerações, estão ali, para alimentar um propósito, uma causa, uma recordação, um facto, um passado, enfim, uma história. Cabe agora a diplomacia moçambicana correr o mundo para apagar o fogo que já se alastrou até nos conventos.
‘Kockikuro’ (obrigado)
gentoroquechaleca@gmail.com
PS: Recuso-me a terminar esta crónica, sem antes enviar o meu protesto de solidariedade a todas as mães que, ao darem à luz os seus rebentos – esta nova vaga de heróis moçambicanos – são enxovalhados nos hospitais. Só quem não sabe como é que uma camaleoa dá à luz o seu rebento pode, efectivamente, enxovalhar uma mãe.
WAMPHULA FAX – 15.12.2010
Vem este preâmbulo a propósito das recentes notícias divulgadas pela Wikileaks (este ‘tubo escape’ das novas tecnologias de informação e comunicação, que prova, por um lado, que no mundo não há nada, absolutamente nada, inviolável; por outro, ensina-nos também que os governos politicamente inseguros possuem geralmente tripés frágeis) segundo a qual o governo do então Presidente da República, Joaquim Chissano, e o actual executivo liderado pelo poeta e veterano da luta armada, Armando Guebuza estariam envolvidos no tráfico de estupefaciente!
Este tipo de notícias (más) correm o mundo à velocidade de cruzeiro e esta, obviamente, não foge à regra.
Nem as freiras do convento escapam.
Há dias, no distrito de Portalegre, no convento de Elvas, as freiras ali instaladas quiseram saber de mim sobre as recentes acusações de tráfico de drogas que envolvem, directa ou indirectamente, as figuras do antigo e o actual estadista moçambicano, respectivamente, Joaquim Chissano e Armando Guebuza, diga-se de passagem, atípica aos ouvidos das freiras, mas não em relação à nossa política doméstica. Este “assunto” tem barbas brancas. Ao longo deste ano, em Junho, o governo já tinha sido alertado pela Administração Obama de que o senhor Momed Bachir Suleman (patrão do grupo MBS e empresário por mérito do partido Frelimo) seria o grande barão da droga. Esta informação, ao que parece, não mereceu a devida atenção do governo, concretamente das autoridades policiais e judiciais, foi arrefecida tal e qual os ferreiros da sucataria arrefecem os ferros quentes.
O assunto deixou de ser notícia mas não foi esquecido, porque: durante muitos e longos anos da conquista da independência fomos ensinados a não esquecer as cicatrizes do colonialismo, pois “ninguém pode esquecer o tempo que passou”!
Quantas vezes não foi parar às minhas mãos a tábua ou a vara de amora (carambas como doia, mas era necessário) vinda das grossas mãos do professor Nguluve (incansável pedagogo que lutava dia e noite para compor a bainha da compostura e da decência humana aos estudantes, de que eu e a rapaziada de então usufruímos, modéstia à parte, com agrado e louvores) quando, por teimosia ou por rebeldia, esquecia a letra daquelas canções cuja gaveta do meu cônscio guarda com nostalgia “não vamos esquecer o tempo que passou”, tão simples quanto isso, (era a dita letra, maldita). Cantava-se nas trincheiras da luta armada, nos corredores e nos pátios das escolas, etc. Era a catequese do regime.
Agora a peregrinação é outra.
Convertidos em evangelistas, tentam, sem êxito, oferecer ‘chupetas envenenados’ e ‘diazepam’ para o povo dormir, ou melhor, esquecer. Como pode o povo esquecer os factos históricos marcantes da nossa história?
Como pode o povo esquecer quem lhe tira a esperança de vida? Como pode o povo esquecer as cicatrizes das balas que recebe todos os dias por aqueles que, como a polícia, deviam velar pela ordem e tranquilidade públicas? Não, há dores que não se esquecem nunca!
Tarde de mais, porque hoje mais do que nunca, o povo não se engana, não se esquece. Não esquece e nem vai esquecer o caso das 40 toneladas de haxixe cujo processo investigativo, em detrimento do que acontece quando se investiga - para castigar - os detractores do regime, para além de “morto” constitui segredo do Estado. Em sede de julgamento ouvimos recentemente um ex-ministro do Interior invocar segredos do Estado! Na vida de um país nem tudo é segredo do Estado. Sabe-se lá qual é esse segredo de Estado tantas vezes invocado pelo réu! A hemorragia dos casos ligados à droga não pára por aqui, porém, não pretendo de maneira nenhuma extenuar o leitor com tanta ladaínha. Quem quiser saber mais ou contar mais veja o artigo de Paul Fauvet (Drogas: Para refrescar a memória) publicado no semanário Savana de 18 de Junho 2010.
Voltando à meada, questiono: Que implicações terão para o país as revelações da Wikileaks? Qual é a posição concreta do governo perante esta “bomba atómica”? Vai ou não o PR ouvir o Conselho do Estado? Vai ou não a PGR investigar esta denúncia? Vai ou não o Parlamento ouvir os ministros do pelouro da Justiça, Negócios Estrangeiros, Interior, etc? É óbvio que as relações internacionais entre os Estados são exercidas “debaixo da mesa”, os frutos dessas negociações (tal e qual o pêndulo, quantas vezes ignoramos o motor que está por detrás das horas que nos fornece) chegam à mesa despercebidamente, mas neste caso, como podemos ver, convenhamo-nos senhores, o povo sabe que há “gato” e, precisa, urgentemente, de ser informado o que está a acontecer.
Situações dessa natureza criam instabilidades de vária ordem. A antecipação do estado geral da Nação, por essas alturas, seria um óptimo remédio para o governo tranquilizar a onda de especulações que se levantam no mundo inteiro sobre o país.
Esta semana ouvimos o ministro Oldemiro Baloi, dos Negócios Estrangeiros, dizer que as relações entre Moçambique e os EUA são salutares. Pois é, senhor ministro, ninguém disse o contrário, basta ver a plataforma de ajudas filantrópicas que os EUA dão ao país (ainda que isso tenha, no futuro, uma moeda de troca) mostra, porém, que, apesar das constatações do tráfico de drogas, o governo norte-americano não está interessado em tomar ou prejudicar o nosso país.
É apenas uma questão de evitar a multiplicação de Mahmoud Ahmadinejad no mundo. Seria catastrófica para o país e para os EUA se o negócio da droga fosse institucionalizado em Moçambique como é o caso de Afeganistão ou da Guiné-
Bissau. Qualquer território onde o tráfico de drogas é um ‘modus vivendi’, a esperança de vida do seu povo é precária e reduzida. Torna-se num Estado frágil que pode, ao pequeno toque, abrir feridas gigantes. Basta ver a Guiné-Bissau, país que ainda vive o primitivismo humano.
Estamos a navegar constantemente no mesmo erro, erro esse que vem de trás. E, como dizia um escritor francês, ou nos salvamos em caxo (cacho) ou então morremos todos afogados. Como povo que somos, a Wikileaks dá-nos uma boa oportunidade de pensarmos no tipo de futuro que queremos dar ao país e para os nossos filhos, pois, como diz o reitor Víctor Cameirão “ninguém salta um poço com dois passinhos.” A pergunta que não quero calar é esta: E agora “senhores presidentes”, o que se espera de Moçambique nos próximos tempos? Será que alguém entenderá que nem todos os moçambicanos têm a ver com o narcotráfico? Será que o mundo compreenderá que há moçambicanos que trabalham no duro para remediar as hecatombes da vida?
Uma notícia dessas não altera a opinião das pessoas (dificilmente altera) até porque as más notícias figuram como os melhores quadros colocados no melhor canto da casa. Passam de gerações em gerações, estão ali, para alimentar um propósito, uma causa, uma recordação, um facto, um passado, enfim, uma história. Cabe agora a diplomacia moçambicana correr o mundo para apagar o fogo que já se alastrou até nos conventos.
‘Kockikuro’ (obrigado)
gentoroquechaleca@gmail.com
PS: Recuso-me a terminar esta crónica, sem antes enviar o meu protesto de solidariedade a todas as mães que, ao darem à luz os seus rebentos – esta nova vaga de heróis moçambicanos – são enxovalhados nos hospitais. Só quem não sabe como é que uma camaleoa dá à luz o seu rebento pode, efectivamente, enxovalhar uma mãe.
WAMPHULA FAX – 15.12.2010
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