Lichinga
(Canalmoz) – A província de Niassa a norte do País tem falta de quase
tudo, com maior destaque para as infra-estruturas. É uma espécie de
deserto infra-estrutural. Aqui a pobreza é mesmo absoluta.
Aqui
o discurso de que se está a combater a pobreza é pura ficção, embora
seja a província de que é originário o actual primeiro-ministro Aires
Ali, e tantos outros que são ou foram ministros. É também a província
de…
Niassa
é a província mais extensa do País, com 122 827 quilómetros quadrados. A
extensão da província é quase proporcional às privações pelas quais as
populações passam. O dia-a-dia dos habitantes desta província desmente
qualquer tipo de discurso de fragilização da pobreza. Aqui a pobreza é
mesmo absoluta, apesar do discurso político local e o forjado a partir
dos gabinetes de Maputo usarem como chavão o facto de haver comida para a
população.
A
produção de bens alimentares não pode ser escoada porque não há
estradas. Aliás, até na capital Lichinga, o asfalto é uma raridade.
Contam-se com os dedos de uma única mão as estradas asfaltadas e em bom
estado. O resto é só poeira que, na verdade, concorre para cartão de
visita da província. As poucas infra-estruturas existentes são obra do
período colonial.
O
que foi feito depois de independência é tão insignificante que o que foi
feito no período colonial ganha de longe às realizações dos sucessivos
governos do partido Frelimo que está no poder há 37 anos.
No
Niassa um dos pouquíssimos troços que está asfaltado é de 75
quilómetros. Vai de Lichinga a Maniamba. Esta estrada foi feita no
período colonial e continua intacta. Paradoxalmente há uma outra estrada
que parte de Maniamba e vai até ao distrito de Metangula, foi
construída no Governo de Guebuza, não tem mais de seis anos e já clama
por reabilitação.
Há
dezenas de anos a população clama pela reabilitação da estrada
Cuamba-Lichinga para o escoamento de produtos, mas até aqui nem água vai
nem água vem. Por vezes passa uma niveladora quando o Presidente da
República vai a ou passa por Cuamba. De resto é tudo um festival de
poeira. Como não há um sistema de transporte digno desse nome as pessoas
e cargas são transportadas por camiões de caixa aberta, e a poeira faz o
resto. Sem exageros os passageiros chegam a se equiparar a
guerrilheiros dos Grandes Lagos. Regra geral, todos os passageiros ficam
cheios de poeira. Só não lhes entra poeira nos olhos e nos dentes. A
viagem é um verdadeiro calvário.
O
comboio que faz ligação Cuamba-Lichinga, faz a viagem uma vez por mês.
Algumas vezes há dois comboios por mês. Todas as potencialidades da
província estão dependentes das vias de comunicação, e o lago Niassa é
uma dessas potencialidades.
Governador reconhece que não é boa
Depois
de tudo que observamos e das conversas que tivemos em vários distritos,
fomos ouvir o Governador da província de Niassa, David Malizane sobre o
esquecimento da província. Malizane minimizou todo o drama e disse que
Niassa de hoje não é o de há uns anos atrás. Sobre as vias de
comunicação o dirigente reconhece que a situação é nada boa. Mas há
planos (sem prazos) para reverter o actual quadro, diz. Refere que está
na mesa o chamado projecto “triangulo”. O mesmo visa a asfaltagem das
ligações Lichinga-Cuamba e Marrupa. O Governo Japonês já assegurou
financiamento para a asfaltagem do troço de 300 quilómetros que liga
Cuamba a Lichinga. Estranhamente não foram revelados os valores nem a
data do início das obras. Neste momento segundo David Malizane, já foi
lançada a primeira pedra para a asfaltagem do troço Nampula Cuamba, que
ligará Niassa à província de Nampula. Também não foram revelados
montantes nem prazos.
O
governador da província partilha da opinião de que sem estradas Niassa
continuará no anonimato, mas diz que se está a trabalhar para inverter o
cenário, tendo em vista os novos investimentos, principalmente no
sector mineiro e florestal. NA.: Mais desenvolvimentos sobre a visita do
Canal de Moçambique a Niassa na edição da próxima semana. (Matias Guente, em Niassa)
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