por Ivone Soares (*)
Enquanto a Frelimo detiver uma falsa maioria parlamentar Moçambique estará a saque.
Moçambique
precisa de uma justiça com autonomia e organização. Precisa de uma
polícia séria, comprometida com a Constituição, uma polícia ao serviço
da Justiça. Nós não temos nada disso!
Ao
se abster, na aprovação da Lei 1/79 – Lei de Desvio de Fundos do
Estado, a Frelimo revelou seu desinteresse total pela luta contra a
corrupção.
Há
que ser contundente no combate a corrupção e para tal a Assembleia da
República deve assumir as suas responsabilidades e tomar a peito a
pressão de todos os segmentos para a aprovação urgente do pacote
Anti-corrupção.
Maputo
(Canalmoz) – A minha Bancada, a Bancada Parlamentar da RENAMO, não
solicitou que o Procurador Geral da República viesse tecer comentários
sobre a situação da Justiça em Moçambique, mas, sim, que tomasse medidas
necessárias e enérgicas uma vez que os pronunciamentos do Comandante
Geral da República significam um atentado ao Estado de Direito, pois
atentam contra a Constituição.
Com
muita atenção desfolhei o Informe apresentado a esta Casa Legislativa
pelo digníssimo Procurador Geral da República, Dr. Augusto Paulino sobre
a situação da Justiça em Moçambique.
Nós consideramos o informe pouco interessante se comparado com o apresentado no ano 2011.
Reparamos
que o senhor Procurador trouxe-nos um informe que se confunde com a
colectânea de relatórios das muitas esquadras existentes no país. Por
isso, lembramos que nós não somos o Instituto Nacional de Estatística,
mas, sim, um organismo legislativo.
Ao se agendar a sua vinda a Casa do Povo fizemo-lo com o intuito de obter um juízo sobre o estágio da justiça em Moçambique.
Para nosso pesar, temos em mãos um elenco de casos que em nada se aproximam de toda a realidade do terreno.
Sendo os seus créditos conhecidos, acreditamos que até a si este informe decepciona.
Como referi, diariamente o quarto Poder brinda-nos com notícias sobre o país real.
Não
se vergue no exercício das suas funções, sob risco de ser mais um
servidor público incapaz de colocar os interesses do Estado acima dos
interesses grupais.
O
seu informe/síntese dos relatórios das várias esquadras do país não
espelha a situação geral da justiça no país. Os moçambicanos esperavam
que, por exemplo, após 12 meses de Comemoração do Ano Samora Machel,
finalmente nos dissesse hoje, vinte e seis anos depois: Quem matou
Samora?
Os
Moçambicanos têm sede de justiça. O elenco de casos quentes aguardando
desfecho é longo. O senhor Procurador Geral da República certamente não
se distraiu ao omitir esses casos quentes e mal parados que aguardam por
justiça. Contudo, havendo pessoas a pressioná-lo para apenas falar dos
pilha-galinhas, da pequena corrupção, falar superficialmente do
narcotráfico, de acidentes de viação, ignorando os mentores dos
sequestros, os mega corruptos, os cabecilhas do crime organizado,
havendo essas pressões socorra-se da lei que esta Casa aprovou que
protege vítimas, denunciantes e outros sujeitos processuais. Não aceite
pressões de nenhuma ordem que atentem contra o Estado em benefício de
grupos com interesses obscuros.
Se
um moçambicano lê o seu informe fica com a sensação de que a grande
corrupção já não existe e que todos os relatórios que colocam Moçambique
no quadro dos países mais corruptos do mundo foram forjados.
Há
que ser contundente no combate a corrupção e para tal a Assembleia da
República deve assumir as suas responsabilidades e tomar a peito a
pressão de todos os segmentos para a aprovação urgente do pacote
Anti-corrupção.
Execuções
extrajudiciais continuam a ser protagonizadas pela polícia como
denunciou a Amnistia Internacional. Sequestros, detenções arbitrárias e
violações dos Direitos Humanos ocorrem sob olhar impávido e sereno dos
órgãos de administração da justiça, não obstante serem reportados pelos
meios de comunicação social. Tamanho é o descrédito que os moçambicanos
têm que acabar fazendo justiça pelas próprias mãos.
Senhor Procurador!
Porquê trata as questões que reporta no seu informe de forma superficial? Há que ser contundente no combate a corrupção.
No
seu informe realçou que foram feitas palestras, sensibilizados os
produtores de soruma, formados activistas e abertos núcleos anti-droga.
Se por um lado é necessário proteger a identidade dos indivíduos
acusados de narcotráfico até prova em contrário, não é menos relevante
proteger a sociedade desses indivíduos muitas vezes apanhados em
flagrante delito.
A
identidade do pilha-galinhas não é salvaguardada, este não tem direito
ao bom nome. Há proteccionismo quando o assunto envolve criminosos de
série A. Tamanho é o cuidado que se tem para proteger criminosos de
série A que vezes sem conta vêmo-los a passearem a sua classe pelos
restaurantes da capital.
Falar
de melhorias quanto a situação da Justiça em Moçambique é uma
injustiça. Os ilícitos eleitorais continuam sem sentenças. Fica-se pelo
“desencorajamento de práticas de uso de bens do Estado – caso flagrado
em Cuamba nas últimas eleições intercalares”.
A justiça não desencoraja os crimes. Deve puni-los.
A Renamo está pronta para aprovar o Pacote Anti-corrupção.
Moçambique
precisa de uma justiça com autonomia e organização. Precisa de uma
polícia séria, comprometida com a Constituição, uma polícia ao serviço
da Justiça. Nós não temos nada disso!
Ao
se abster, na aprovação da Lei 1/79 – Lei de Desvio de Fundos do
Estado, a Frelimo revelou seu desinteresse total pela luta contra a
corrupção. Deste episódio, depreende-se que enquanto a Frelimo detiver
uma falsa maioria parlamentar Moçambique estará a saque.
(*) deputada da RENAMO Assembleia da República
(Ivone Soares, intervenção por ocasião da ida anual do PGR ao Parlamento – editada)
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