Maputo
 (Canalmoz) – As assinaturas por figuras proeminentes duma carta ao PR 
sobre a presente greve dos médicos dão uma dimensão e importância 
diferente a um acto que alguns queriam confinar a uma suposta ambição e 
desrespeito do Juramento dos Médicos. Uma greve com motivação salarial e
 outros aspectos materiais está ganhando fortes contornos políticos sem 
que as partes consigam encontrar o caminho da convergência.
Muita
 troca de palavras não impede os moçambicanos de concluir que afinal os 
jovens médicos que estão na trincheira, batendo-se pelo que julgam seus 
direitos têm apoios fora do comum.
Aqueles
 que logo a partir do primeiro dia de greve avançaram com comentários 
críticos pouco prestigiantes, agora têm de incluir entre os seus alvos, 
gente fora do comum e com provas dadas de contribuição para a luta pela 
independência. Não se trata de saudosistas ou de moçambicanos ignorantes
 e deslocados no tempo e no espaço. Não só unicamente os denominados 
apóstolos da desgraça que se encontram entre os que apoiam as 
reivindicações dos médicos grevistas.
É 
como que dizer que uma simples greve recolhe amplos apoios sociais e se 
torna paulatinamente numa batalha política que a disciplina partidária 
não consegue parar.
Jamais
 será como antes e nem haverá possibilidade de vingarem teses 
desajustadas com a realidade como a da tristemente famosa “Mão Externa”.
A 
correlação de forças no domínio político está conhecendo questionamentos
 incessantes. Serão simplesmente prolongamentos de alinhamentos e de 
batalha política entre alas de um mesmo partido? Ou é todo um mar de 
insatisfeitos que oportunamente se unem e juntam forças contra um 
governo insensível, arrogante e prepotente?
Camaradas
 raramente demonstram em público desavenças sobretudo deste tipo e 
nível. Se Domingo a Domingo existe um articulista no Domingo estatal 
avançando teses que ensombram a acção governativa isso já deveria ser 
facto sujeito a uma análise pelos detentores do poder. SV, não é um 
qualquer sem história quando reclama sobre a existência de espoliados em
 Cateme. Podem querer oportunistamente empurrar assuntos sérios para 
considerações que roçam racismo primário em defesa do status mas verdade
 é que são já muitos intelectuais e académicos moçambicanos que se 
manifestam e se expressam contra uma situação que piora de dia para dia.
    
 A
 tese da falta de recursos financeiros para pagar os médicos não colhe 
sobretudo porque é evidente a falta de austeridade por parte do governo 
do dia. Quem se diz pobre e sem recursos não esbanja em festas quase que
 permanentes aquilo que não tem.
Face
 aos escândalos financeiros que chegam a conhecimento público, a 
sucessiva evidência de existência de canais de drenagem de fundos 
estatais nos diversos segmentos governamentais desde empresas públicas 
até aos próprios ministérios e direcções provinciais, mostra que existe 
dinheiro.
Gente que grita sobre auto-estima e demais termos do mesmo pacote demagógico já não consegue captar simpatias.
Tem
 sido uma permanente batalha política assumida por moçambicanos de todos
 os quadrantes e mesmo da diáspora que desmonta peça a peça teses 
anti-patriotas eleitas formas de estar na política e na governação. 
Quem
 não promove transparência nos actos governamental escudando-se em 
supostos ou alegados segredos do negócio já não tem êxito na manipulação
 da opinião pública.
Os moçambicanos têm o direito de saber o que acontece com as contas públicas.
Só se assusta quem tem medo fundamentado de que a transparência traria o fim de impérios fundados no nepotismo.
Os recursos que faltam para pagar os médicos grevistas existem nas contas que não querem mostrar aos cidadãos.
Julgamos
 que os patamares e a faísca foram colocados a outro nível não só ao 
nível dos médicos grevistas mas em todo o panorama político moçambicano.
De
 um lado temos a crise no STAE relacionada com o recenseamento eleitoral
 em que existe uma forte contestação do seu director geral. Por outro 
lado temos as negociações entre o governo da Frelimo e a Renamo sobre um
 pacote de pontos apresentados pela Renamo.
A 
somar a isto temos que reconhecer que uma vez provada a existência e 
condições para um reatar das confrontações militares com alguns focos 
como Muxúnguè e Gorongosa, em que ex-beligerantes voltaram efectivamente
 a díspar armas de fogo, pode-se concluir que Moçambique caminha 
perigosamente para uma situação de instabilidade séria. Mesmo os 
esforços demagógicos e a competência discursiva se mostram esgotados na 
medida em que não aquele acolhimento esperado pelos porta-vozes de 
causas muito questionáveis.
Alguém ainda tem dúvidas de que o país se encontra abraços com uma crise séria de dimensão profunda e transversal?
O 
interessante da evolução do processo político moçambicano é que alguns 
dos denominados libertadores se voltam contra seus camaradas numa 
demonstração inequívoca de que consideram estar em perigo real toda uma 
herança antes tida como segura.
Cabe
 aos políticos interpretarem correctamente os sinais dos tempos e 
lideram o processo para se saia da crise e se avance para o cenário de 
estabilidade, inclusão e democracia sem tabus, jogos debaixo da mesa e 
vantagens garantidas unicamente para uns e não para a maioria.
Alguma
 coisa tem de mudar no tratamento dos dossiers nacionais. Moçambique 
antes de tudo e acima de tudo é dos moçambicanos independentemente da 
sua cor, filiação partidária, orientação religiosa ou qualquer outro 
critério. Não continuem enganando os moçambicanos estabelecendo 
critérios falsos e como o dos antigos combatentes ou combatentes pela 
democracia. Respeitamos a participação de todos eles no processo 
político moçambicano antes e depois da independência mas isso não 
confere direitos especiais. Isso deve ser definitivamente entendido e 
assumido em prol do entendimento nacional e combate real pela inclusão e
 contra as assimetrias regionais.
Que
 fique claro de uma vez para todas que os recursos naturais nomeadamente
 a terra e os minerais, o mar e as florestas não pertencem a um grupinho
 de camaradas e seus familiares.
A mentira oficial sobre a inexistência de recursos não colhe nem tem cabimento.
Não queremos o país mergulhado em greves mas também não queremos que a mentira e o jogo sujo continuem prevalecendo.
 
 

 
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