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VOA News: África

terça-feira, 11 de junho de 2013

A verdade como sempre veio ao de cima

 “Barragens de artilharia pesada” já não poupam camaradas  

Maputo (Canalmoz) – As assinaturas por figuras proeminentes duma carta ao PR sobre a presente greve dos médicos dão uma dimensão e importância diferente a um acto que alguns queriam confinar a uma suposta ambição e desrespeito do Juramento dos Médicos. Uma greve com motivação salarial e outros aspectos materiais está ganhando fortes contornos políticos sem que as partes consigam encontrar o caminho da convergência.
Muita troca de palavras não impede os moçambicanos de concluir que afinal os jovens médicos que estão na trincheira, batendo-se pelo que julgam seus direitos têm apoios fora do comum.
Aqueles que logo a partir do primeiro dia de greve avançaram com comentários críticos pouco prestigiantes, agora têm de incluir entre os seus alvos, gente fora do comum e com provas dadas de contribuição para a luta pela independência. Não se trata de saudosistas ou de moçambicanos ignorantes e deslocados no tempo e no espaço. Não só unicamente os denominados apóstolos da desgraça que se encontram entre os que apoiam as reivindicações dos médicos grevistas.
É como que dizer que uma simples greve recolhe amplos apoios sociais e se torna paulatinamente numa batalha política que a disciplina partidária não consegue parar.
Jamais será como antes e nem haverá possibilidade de vingarem teses desajustadas com a realidade como a da tristemente famosa “Mão Externa”.

A correlação de forças no domínio político está conhecendo questionamentos incessantes. Serão simplesmente prolongamentos de alinhamentos e de batalha política entre alas de um mesmo partido? Ou é todo um mar de insatisfeitos que oportunamente se unem e juntam forças contra um governo insensível, arrogante e prepotente?
Camaradas raramente demonstram em público desavenças sobretudo deste tipo e nível. Se Domingo a Domingo existe um articulista no Domingo estatal avançando teses que ensombram a acção governativa isso já deveria ser facto sujeito a uma análise pelos detentores do poder. SV, não é um qualquer sem história quando reclama sobre a existência de espoliados em Cateme. Podem querer oportunistamente empurrar assuntos sérios para considerações que roçam racismo primário em defesa do status mas verdade é que são já muitos intelectuais e académicos moçambicanos que se manifestam e se expressam contra uma situação que piora de dia para dia.    
 A tese da falta de recursos financeiros para pagar os médicos não colhe sobretudo porque é evidente a falta de austeridade por parte do governo do dia. Quem se diz pobre e sem recursos não esbanja em festas quase que permanentes aquilo que não tem.
Face aos escândalos financeiros que chegam a conhecimento público, a sucessiva evidência de existência de canais de drenagem de fundos estatais nos diversos segmentos governamentais desde empresas públicas até aos próprios ministérios e direcções provinciais, mostra que existe dinheiro.
Gente que grita sobre auto-estima e demais termos do mesmo pacote demagógico já não consegue captar simpatias.
Tem sido uma permanente batalha política assumida por moçambicanos de todos os quadrantes e mesmo da diáspora que desmonta peça a peça teses anti-patriotas eleitas formas de estar na política e na governação. 
Quem não promove transparência nos actos governamental escudando-se em supostos ou alegados segredos do negócio já não tem êxito na manipulação da opinião pública.
Os moçambicanos têm o direito de saber o que acontece com as contas públicas.
Só se assusta quem tem medo fundamentado de que a transparência traria o fim de impérios fundados no nepotismo.
Os recursos que faltam para pagar os médicos grevistas existem nas contas que não querem mostrar aos cidadãos.
Julgamos que os patamares e a faísca foram colocados a outro nível não só ao nível dos médicos grevistas mas em todo o panorama político moçambicano.
De um lado temos a crise no STAE relacionada com o recenseamento eleitoral em que existe uma forte contestação do seu director geral. Por outro lado temos as negociações entre o governo da Frelimo e a Renamo sobre um pacote de pontos apresentados pela Renamo.
A somar a isto temos que reconhecer que uma vez provada a existência e condições para um reatar das confrontações militares com alguns focos como Muxúnguè e Gorongosa, em que ex-beligerantes voltaram efectivamente a díspar armas de fogo, pode-se concluir que Moçambique caminha perigosamente para uma situação de instabilidade séria. Mesmo os esforços demagógicos e a competência discursiva se mostram esgotados na medida em que não aquele acolhimento esperado pelos porta-vozes de causas muito questionáveis.
Alguém ainda tem dúvidas de que o país se encontra abraços com uma crise séria de dimensão profunda e transversal?
O interessante da evolução do processo político moçambicano é que alguns dos denominados libertadores se voltam contra seus camaradas numa demonstração inequívoca de que consideram estar em perigo real toda uma herança antes tida como segura.
Cabe aos políticos interpretarem correctamente os sinais dos tempos e lideram o processo para se saia da crise e se avance para o cenário de estabilidade, inclusão e democracia sem tabus, jogos debaixo da mesa e vantagens garantidas unicamente para uns e não para a maioria.
Alguma coisa tem de mudar no tratamento dos dossiers nacionais. Moçambique antes de tudo e acima de tudo é dos moçambicanos independentemente da sua cor, filiação partidária, orientação religiosa ou qualquer outro critério. Não continuem enganando os moçambicanos estabelecendo critérios falsos e como o dos antigos combatentes ou combatentes pela democracia. Respeitamos a participação de todos eles no processo político moçambicano antes e depois da independência mas isso não confere direitos especiais. Isso deve ser definitivamente entendido e assumido em prol do entendimento nacional e combate real pela inclusão e contra as assimetrias regionais.
Que fique claro de uma vez para todas que os recursos naturais nomeadamente a terra e os minerais, o mar e as florestas não pertencem a um grupinho de camaradas e seus familiares.
A mentira oficial sobre a inexistência de recursos não colhe nem tem cabimento.
Não queremos o país mergulhado em greves mas também não queremos que a mentira e o jogo sujo continuem prevalecendo.
Os políticos querendo, vão descobrir onde estão os recursos, para pagar melhor a todos os funcionários públicos e demais moçambicanos trabalhando na esfera privada. O inadmissível é que enquanto uns poucos engordam a maioria emagreça e definhe… (Noé Nhantumbo)

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