“Presidência Aberta” na cidade de Maputo
População diz que não tem transporte e paga impostos para dirigentes andarem em viaturas de luxo
Maputo
(Canalmoz) – O presidente da República cumpriu ontem, quarta-feira, o
terceiro dia de “Presidência Aberta” na cidade capital do país. Numa
cidade onde o fosso entre os ricos e pobres é cada vez mais acentuado,
existindo até famílias com sérias dificuldades de obter refeições
diárias, Armando Guebuza foi confrontado com os velhos problemas e os
actuais: falta de habitação, crescente desemprego e partidarização das
poucas oportunidades que existem. Os moradores da cidade de Maputo
disseram a Guebuza que em Maputo não há sistema de transporte digno do
nome pelo que as pessoas são transportadas como se de animais se tratem,
enquanto pagam impostos para dirigentes desfilarem em viaturas de luxo.
Guebuza
foi confrontado com problemas de criminalidade; crianças que estudam à
noite por falta de vagas no curso diurno; nepotismo nas admissões aos
empregos na função pública; morosidade na tramitação de documentos de
pensão de sobrevivência a viúvas; vias de acesso debilitadas ou
inexistentes, entre muitos outros.
Contudo,
por entre a insatisfação crescente e manifestada sem receios por muitos
citadinos, também não faltaram “elogios” e “agradecimentos” pela
“maneira sábia” que Guebuza tem vindo a conduzir os destinos do país.
O
pedido de aumento e continuidade do fundo destinado ao Programa
Estratégico para a Redução da Pobreza Urbana, PERPU, marcou uma parte
das intervenções. O PERPU é um fundo que à semelhança dos “sete milhões ”
que o Governo dá aos distritos, também aloca a alguns municípios,
designadamente ao de Maputo.
Depois
de uma breve introdução, onde voltou a destacar a questão de combate à
pobreza, a paz, a unidade nacional e a apresentação dos membros do
Governo e do partido que o acompanham, Guebuza chamou dez cidadãos para
publicamente o “ aconselharem”.
O
primeiro “conselheiro” a subir à tribuna foi Júlio Nhalungo, que disse
que Moçambique é um país abençoado. É atravessado por muitos rios e tem
muita riqueza ainda por explorar. “Nós podemos produzir muita cebola,
batata, milho, tomate e outros produtos agrícolas que compramos na
vizinha África do Sul. Nós agora o que queremos é que o Governo apoie a
agricultura. Queremos que os agricultores sul-africanos arranjem outros
mercados para vender os seus produtos ao nível da região austral”,
disse.
Por
seu turno, Lote Mondlane aproveitou-se da presença do ministro dos
Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Baloi, para queixar-se da
entrada massiva de estrangeiros no país que “nada vêm fazer”. Disse que
os moçambicanos não estão contra estes, mas, sim, contra os “maus
hábitos”.
“Alguns
estrangeiros têm maus hábitos de trazer drogas. Não sabemos onde vivem,
com quem e o que fazem. Que no Aeroporto haja uma revista minuciosa”,
propôs.
Francisco
Noa queixou-se do jogo de “gato e rato” que existe entre os ministérios
do Interior e da Justiça. Disse que “a Polícia prende ladrões em
flagrante delito, mas o tribunal meses depois absorve o ladrão por falta
de provas”.
Por
exemplo, contou que na célula “B”, no bairro de Mafalala, a Polícia já
prendeu três vezes um malfeitor por diversas práticas incorrectas, mas o
tribunal sempre o absolveu.
“Não
estou a incitar aos actos de linchamentos como acontece na Beira, mas
sinto que os munícipes já estão cansados. O tribunal absolveu Benvido
por três vezes”, disse.
Celeste
Cossa lamentou o nepotismo e o espírito de “deixa andar” que “ainda”
pairam em algumas instituições públicas. Disse que é viúva há 10 anos,
mas até hoje ainda não está a beneficiar-se da pensão de sobrevivência.
“Senhor
presidente, quero saber se no ano que a minha pensão de sobrevivência
for a sair, virá com retroactivos ou alguém terá se beneficiado do meu
dinheiro?”, questionou.
Respostas de Guebuza
Guebuza
disse que as preocupações levantadas pelos cidadãos mostram que “estão
ansiosos em ver os seus problemas resolvidos, quer individual ou
colectivamente”.
“Foi
dito que Moçambique tem potencialidades para produzir e passar a não
ser dependente da África do Sul, mas para tal precisamos ter políticas
agrárias para que isto aconteça”.
Concordou
que existem pessoas que “trazem suruma para dentro do país”, soltam-se
supostos malfeitores por falta de provas, há problemas de transporte, de
desemprego, etc. “Estes e outros são problemas do desenvolvimento e
mostra que as pessoas querem combater a pobreza”, concluiu.
Diferenças não são problema
O
presidente da República e do partido Frelimo, clarificou que as
diferenças ideológicas que existem no país não podem ser vistas como
problemas, mas, sim, capacidades de os moçambicanos realizarem suas
obras.
Guebuza,
que falava ontem num comício popular realizado no Bairro da Mafalala,
não disse concretamente a quem se dirigia, mas deixou claro que “não
podemos ficar indiferentes quando alguém ameaça a unidade nacional”.
Acrescentou
que “a unidade nacional mostrou-nos que as pessoas são iguais na
dignidade. Todas as pessoas merecem igual tratamento, respeito e devemos
respeitar a sua liberdade, abrindo espaço para o desenvolvimento”,
“A
unidade nacional abriu espaço para a diferença de opiniões, mas isto
não deve significar que uns lutem contra a pobreza e outros fiquem a
assistir e à espera de erros para criticarem”.
Disse
que existem pessoas que acham terem descoberto a pobreza e pensam que
ela apareceu hoje. “Pensam que em 1950 tinham tudo, se comparado com
hoje, e esquecem que nessa altura 90 porcento dos moçambicanos eram
analfabetos”.
“Esta é a maneira de pesar pequeno”, disse em tom irónico.
“Enquanto
uns puxam a corda para frente, eles arrastam para trás. Nós estamos em
2012, eles ainda estão em 1950”, disse vincando que o povo quer
desenvolvimento.
Recado aos críticos do ensino
Guebuza
mandou também recadinhos aos críticos da qualidade de ensino no país.
“Todos nós estamos preocupados com a qualidade de ensino, mas existem
pessoas que agridem o nosso ensino”. “Porque agredir se a qualidade não é
melhor?, questionou.
“Há forças que querem viver às custas do nosso futuro, que querem que marchemos de regresso ao passado”, acusou. (Cláudio Saúte)
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