Editorial
Maputo
(Canalmoz) – 2012 foi declarado pelo partido que tem estado no poder, o
“Ano do Jubileu”, justificando-se que este ano o partido Frelimo
completa 50 anos da sua criação. Estamos, no entanto, perante uma
descarada mentira como provam os factos.
A
FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique e Partido Frelimo são duas
entidades diferentes e em rigor é mentira que a organização que está
presentemente no poder seja a mesma que proclamou a autodeterminação e
independência de Moçambique. É verdade que usurpou o acrónimo FRELIMO da
Frente de Libertação de Moçambique, mas Partido Frelimo não é a mesma
coisa que Frente de Libertação de Moçambique.
É
preciso que os moçambicanos saibam que estão a querer enganar-nos quando
pretendem fazer crer que o Partido Frelimo faz 50 anos.
É
preciso que os moçambicanos se recordem ou fiquem a saber que a 03 de
Fevereiro de 1997 foi extinta a Frente de Libertação de Moçambique
(FRELIMO) e no mesmo 3.0 Congresso, que decorreu em Maputo até 07 de
Fevereiro, foi criado o Partido Frelimo. Seguiu-se até, como o comprovam
os jornais da época, a campanha de “Estruturação do Partido”, um
processo que levou à exclusão de milhares de antigos combatentes pela
Independência Nacional que se recusaram a subscrever o
marxismo-leninismo que passou a ser a ideologia do Partido Frelimo.
Muitos antigos combatentes da libertação nacional foram até espancados e
assassinados por discordarem quando se deu a ruptura entre os que
subscreveram o “socialismo científico” ou marxismo-leninismo e os
outros.
Os
próprios Estatutos do Partido Frelimo, aprovados no 7.0 Congresso na
Matola, que decorreu de 19 a 24 de Maio de 1997, e revistos a 17 de
Junho de 2002 no 8.º Congresso, este também na Matola, fez domingo
último 10 anos, no seu preâmbulo refere e citamos: “nós, militantes do
Partido, herdeiros da Frente de Libertação de Moçambique…”. Quem herda
não é. “Pela boca morre o peixe”…
Nos
mesmos estatutos refere-se no ARTIGO 1.2 que o Partido Frelimo foi
fundado em Dar-es-Salaam, na Tanzania, a 25 de Junho de 1962. Também
isso é uma redonda mentira porque o que foi realmente fundado na capital
tanzaniana nessa data foi a Frente de Libertação de Moçambique
(FRELIMO). O Partido Frelimo foi fundado a 03 de Fevereiro de 1977, em
Maputo, capital de Moçambique já independente, na altura há cerca de
dois anos.
No
Artigo 2 dos Estatutos em vigor o próprio Partido Frelimo admite que “o
Partido continua a acção e tradições gloriosas da FRENTE DE LIBERTAÇÃO
DE MOÇAMBIQUE…”, mas admite isso só em 1997, já depois do Acordo Geral
de Paz quando começa a querer limpar as nódoas do passado.
Em
1977 os que criaram o Partido Frelimo romperam com a Frente de
Libertação de Moçambique (FRELIMO), extinguindo-a. A parte de militantes
que não subscreviam o marxismo-leninismo não deixaram de ser antigos
combatentes pela Independência Nacional, não deixaram de ter sido da
Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), mas deixaram de ser do
“Partido Frelimo – Partido de Vanguarda Marxista-Leninista”.
Uria
Simango e muitos outros foram fundadores e membros da Frente de
Libertação de Moçambique (FRELIMO), foram mortos pelo regime em
processos extra-judiciais e até hoje se desconhece onde estão os seus
restos mortais. Nunca foram do Partido Frelimo.
A
morte de Eduardo Chivambo Mondlane que também ainda hoje se ensina nas
escolas que foi na sede da Frente de Libertação de Moçambique, em Dar es
Salaam, é mentira que tenha sido aí. Foi, de facto, a mais de quinze
quilómetros da sede da FRELIMO na baixa da capital tanzaniana. Foi em
Oyester Bay, na residencial de uma americana, Betty King, que era na
altura secretária da esposa de Mondlane, Janet Mondlane, também ela de
origem americana. Porque esconderam a verdade que até veio expressa no
Boletim da FRELIMO editado em Dar es Salaam pelo falecido jornalista Ian
Christie?
Por que razão mentem estes senhores do Partido Frelimo?
Usam
os bens do Estado Moçambicano para seu próprio benefício. Usurpam os
meios do Estado e servem-se de datas nacionais que a todos cobrem e não
dizem respeito apenas ao partido Frelimo e ignoram as valias dos outros
tão moçambicanos como eles, porquê?
Falam de paz mas usam sistematicamente armas para atingir os seus fins, porquê?
Os
moçambicanos terão todos muito orgulho na Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO) mas não têm todos orgulho do Partido Frelimo.
Os
moçambicanos terão todos orgulho de serem hoje cidadãos de um País
soberano, mas nem todos se revêem ou se identificam com o Partido
Frelimo.
Moçambique
tem hoje mais de 20 milhões de habitantes e o Partido Frelimo
reivindica como seus membros cerca de 2 milhões. Admitindo essa
probabilidade os membros do Partido Frelimo não chegam a 10% dos
cidadãos moçambicanos.
Como
já foi anunciado, as comemorações deste partido que merece tanto
respeito como todos os outros, mas a que não assiste o direito de se
julgar dono do País e dos seus cidadãos, vão continuar, e tudo leva a
crer que a partidarização das datas nacionais vai também continuar a
servir para confundir todo um Povo a quem se insiste em enganar fazendo
crer que quem libertou Moçambique foi apenas quem está no Partido
Frelimo.
Na
próxima segunda-feira é dia 25 de Junho, Dia da Independência Nacional
que se proclamou em 1975. Para ela contribuíram milhões de compatriotas
que não se revêem no partido Frelimo, mas este partido porque se tem
mantido no poder, irá certamente mais uma vez usar esta data nacional
para enganar os moçambicanos no geral fazendo crer que foram apenas os
que criaram o Partido Frelimo que criaram a Frente de Libertação de
Moçambique. Até omitem a memória do III Congresso que criou o partido
marxista-leninista a 3 de Fevereiro de 1977.
A
Frente de Libertação de Moçambique foi criada a 25 de Junho de 1962 e
foi extinta a 03 de Fevereiro de 1977. Não chegou a fazer 15 anos. Já o
Partido Frelimo, criado a 03 de Fevereiro de 1977, a 25 de Junho, na
próxima segunda-feira não faz anos. Já fez 35 em Fevereiro. Isto são
factos.
Durante
esta fase preparatória do dito “jubileu”, muitas coisas foram
acontecendo, perante as quais só se pode manter calado, quem beneficia
do caos instalado no País pelo regime que vigora eliminando opositores,
aldrabando eleições, prendendo quem discorda, roubando bens do Estado,
viciando a Justiça, fechando os olhos às práticas dos que violam as leis
só porque pertencem ao mesmo “clube”.
Para
além da usurpação dos meios e datas do Estado, os discursos que têm
estado a ser propalados pelos dirigentes do Partido Frelimo e seus
acólitos, são um verdadeiro insulto à memória de muitos moçambicanos
desaparecidos, mortos e espoliados, e de suas famílias e herdeiros.
Nesta
edição voltamos a falar de uma das vítimas do célebre processo de
Nachingweia em que uma parte dos membros da Frente de Libertação de
Moçambique que viria a criar o Partido Frelimo eliminou fisicamente a
outra alegando apenas que eram reaccionários.
No
recente “simpósio”, que foi realizado na Matola a semana passada
perfilaram antigos membros do “Bureau Político do Partido Frelimo” entre
os quais uns membros fundadores outros não da Frente de Libertação de
Moçambique – o Movimento de Libertação que congregava diferentes
sensibilidades de moçambicanos. Os que foram afastados do Partido
Frelimo quando foi extinta a Frente de Libertação de Moçambique, os que
foram forçados a sair do País e muitos combatentes anónimos pela
Independência Nacional, como sempre foram marginalizados e estão a ser
marginalizados, precisamente porque este “jubileu” ainda é o do luto e
da mentira.
Foram
marginalizados os que não concordavam com as ideias
marxistas-leninistas adoptadas pelo grupo do Partido Frelimo. Foram
presos e mortos porque defendiam para Moçambique uma sociedade
diferente, com direitos, liberdades e garantias que só uma guerra civil
tremenda e devastadora acabou por forçar a que fossem admitidos e
institucionalizados constitucionalmente.
No
“simpósio” da semana passada na Matola, mais uma vez, a história voltou
a ser escamoteada. Os moçambicanos voltaram a ser presenteados com
meias verdades e mentiras. A verdade continua a ser escamoteada
incompreensivelmente.
De
todos os oradores do dito simpósio, desde Joaquim Chissano, Marcelino
dos Santos, a Feliciano Gundana, e tantos outros, ninguém ousou tocar no
outro lado da história. Todos falaram do que convém. Ocultaram factos
relevantes.
Ninguém
falou dos assassinatos dos chamados reaccionários; ninguém falou das
aldeias comunais e do desastre sócio económico e cultural que foi essa
experiência. Ninguém falou da operação produção em que milhares de
inocentes foram levados de Maputo para serem deixados à mercê de leões
em Niassa. Ninguém falou dos campos de reeducação de onde milhares de
moçambicanos não voltaram mais, nem ninguém os voltou a ver. Ninguém
falou das torturas e fuzilamentos públicos dos chamados “inimigos da
revolução ou inimigos do povo”.
É importante que se diga a verdade para não se continuar a alienar as mentes dos moçambicanos.
Se
os autores desses crimes hediondos os escondem porque têm vergonha dos
seus actos, então estão a tomar a decisão errada. O que devem fazer é
retratarem-se e redimirem-se publicamente, confessando os seus crimes,
pedindo perdão às vítimas e devolvendo os restos mortais das vítimas aos
seus entes queridos. Acreditamos que se o fizessem estariam a promover a
unidade nacional. Com a mentira não!! (Canal de Moçambique)
Best wishes from Germany and have a nice day
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