Venda de terra em Maputo
Lucília Hama, governadora de Maputo-Cidade, e David Simango, edil de Maputo, acusados de cumplicidade
Maputo
(Canalmoz) – Carduela Nassone Sitoe, residente no bairro 3 de
Fevereiro, no distrito municipal KaMavota, arredores de Maputo,
denunciou ontem ao presidente da República, no comício de encerramento
da chamada “Presidência Aberta” à Cidade de Maputo, que a vereadora
Esterlinda Ndove – em conluio com o secretário do bairro, Paulo Muzima –
vendeu o seu terreno e a casa por 220 mil meticais e o presidente do
Município, David Simango, tem estado a ignorar as suas reclamações e a
proteger a prevaricadora.
Carduela Sitoe disse a Armando Guebuza que está a ser vigarizada pela vereadora e pelo secretário do bairro 3 de Fevereiro.
A
referida cidadã contou na ocasião que quando descobriu que o seu
terreno, incluindo a casa, estavam a ser vendidos, alegadamente por ser
uma “Reserva”, aproximou-se da administração do distrito municipal para
melhor se inteirar do assunto. “Em 2010, fui ao gabinete da vereadora no
sentido de procurar solução, mas só viria a ser recebida em audiência
em Janeiro do ano passado. Também foram chamados o secretário do bairro,
o chefe do quarteirão 23, o guarda Simão Mondlane e o suposto comprador
do terreno, João Tovela, mas este não esteve presente”, disse. Lembrou
que nesse encontro a vereadora do distrito urbano prometeu enviar o
assunto à Direcção de Construção e Urbanização, mas não deu seguimento
ao assunto.
Vendo
o tempo a passar, a cidadã que se diz enganada refere que voltou à
administração de KaMavota. “Quando entrei no gabinete da vereadora, ela
ralhou comigo e mandou-me embora. Fui empurrada por um senhor chamado
Machava a mando da vereadora. Ela atingiu o extremo de dizer que se eu
não tiver nada a fazer, que não fosse incomodar-lhe no seu gabinete,
porque sou fofoqueira e lâmina cortante”, observa Carduela Nassone
Sitoe.
“Inconformada
com a resposta da vereadora”, a senhora disse que em Outubro de 2010
marcou uma audiência com o presidente do município de Maputo, David
Simango mas essa audiência só viria a acontecer a 11 de Janeiro de 2012.
“Entreguei os meus documentos e ele prometeu a resolução dentro de duas
semanas, mas até hoje continuo sem solução”.
Invasão
A
cidadã conta que no 28 de Abril do ano em curso, recentemente, portanto,
quando ainda aguardava pela resposta do edil de Maputo, e sem nenhuma
notificação do tribunal ou Polícia, o secretário do bairro 3 de
Fevereiro, na companhia da vereadora, dirigiram-se ambos à sua casa em
obras, e retiraram 20 sacos de cimento, 20 tábuas de madeira, 28 varões
de ferro de construção, 300 blocos, duas pás e uma carinha de mão, entre
outros materiais.
“Ameaçaram os pedreiros de prisão. Prometeram deitar o muro abaixo”.
“A
casa tem três quartos, uma casa de banho e duas varandas”. Ela diz que
“a vereadora alegou que o espaço e a minha casa são infra-estruturas do
Estado”.
O espaço está na parcela 660B e a queixosa diz ter comprado em 1992.
Ameaças via OMM
Carduela
Nassone Sitoe, a denunciante diz que nas vésperas da visita
presidencial à cidade de Maputo, a vereadora Esterlinda Ndove mandou uma
senhora da Organização da Mulher Moçambicana, OMM, para a aconselhar a
“não explodir em nenhum comício popular” a ser realizado “sob risco de
deteriorar o relacionamento já azedo”.
“Eu
também sou da OMM. Mas ela mandatou uma nossa colega da organização
para vir dizer-me para não expor a minha situação ao presidente da
República. Não acatei porque se ela soubesse que sou da OMM não teria me
mandado embora do seu gabinete como se fosse uma cadela”, diz. “Ontem
de manhã”, afirma ainda que recebeu uma chamada telefónica em que pedia
para não dizer nada. [Silêncio cúmplice do Município e do Governo da Cidade?]
Silêncio cúmplice
Segundo
Carduela Nassone Sitoe, o seu assunto já tem barbas brancas. No
distrito KaMavota já passaram dois vereadores, nomeadamente João
Matlombe e Cacilda Banze. Hoje é Esterlinda Ndove. A situação acontece
no Conselho Municipal desde que por lá passou o falecido Artur Canana e
Eneias da Conceição Comiche. O David Simango é o terceiro edil com este
dossier.
“Simango
é o terceiro presidente e a Esterlinda é a terceira vereadora a não
conseguir resolver o problema da parcela 660B. O meu expediente já
passou das mãos destes dirigentes”, disse sublinhando que mesmo a
governadora da cidade, Lucília Hama, que é nova, sabe deste assunto.
Comentário
Este
é, ao que parece, apenas mais um caso. São imensas as histórias que se
ouvem nos bairros das negociatas que se passam nos vários distritos
urbanos de Maputo, envolvendo administradores, vereadores, secretários
de bairro, chefes de quarteirão. A coberto do facto da lei proteger a
propriedade do Estado sobre a terra, estas e até figuras do Estado aos
mais diversos níveis, incluindo do mais alto nível da hierarquia – até
magistrados – usam as suas funções para se tornarem donos das terras e
enriquecerem ilicitamente. Apesar de saberem pela imprensa destes
problemas, os agentes do Ministério Público não actuam para repor a
legalidade, alegadamente por também estarem a beneficiar em alguma
circunstância. Uma sindicância poderia ajudar a esclarecer o que se está
a passar, mas o conluio já atingiu tais proporções que ninguém se
atreve a mexer nestes dossiers que transformaram o funcionários e os
mais altos dignitários do Estado autênticos latifundiários. A terra que é
alegadamente do Estado acaba por ser dos agentes do Estado. (Cláudio Saúte)
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