Provado em discurso
“Em
poucos anos temos assistido a formação de partidos políticos tanto no
exterior como no interior de Moçambique, há apenas três meses que esses
partidos se fundiram num só movimento, o único até à data, a FRENTE DE
LIBERTAÇÃO DE MOÇAMBIQUE.” – Eduardo Mondlane
Maputo
(Canalmoz) –Eduardo Mondlane proferiu um discurso antes do inicio do I
Congresso da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), que pode
levar a concluir que ele não foi fundador do movimento nem este foi
fundado a 25 de Junhode1962.
O portal de Fernando Gil, Macua Blog, divulgou o tal discurso que com a devida vérnia aqui deixamos aos leitores do Canalmoz:
Discurso proferido pelo Dr. Eduardo Chivambo Mondlane, primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique
“Compatriotas.
Sentimos
um grande prazer por, mais uma vez, vos ver reunidos nesta sala.
Estivestes aqui presentes ontem feriado, e depois de um longo dia
intenso de trabalho, eis que vos vemos novamente.
A
vossa presença constitui em si uma prova indiscutível do interesse que
tendes pela árdua luta contra o colonialismo. Mostra ainda que nenhuma
circunstância, por mais difícil que ela seja, vos impedirá de continuar a
lutar.
O povo da África e particularmente de Moçambique quer seguir para a frente.
Fazemos para que mantenham esse espírito pois terão necessidade dele na luta de libertação de Moçambique.
A
sessão de hoje é de subida importância na história do nosso país.
Segundo o que supomos, é original, na história de Moçambique, o facto de
um grupo de nacionalistas se reunirem para apresentarem os problemas
concernentes ao seu país, e procurarem soluções para eles. Sentimos um
especial prazer por participarmos neste momento histórico. Estamos aqui
para estabelecermos as bases de acção que nos conduzirão à libertação do
nosso país.
Durante
muitos anos o nosso povo não percebia a razão por que os jovens de
Moçambique não tentavam libertar a terra-mãe. No exterior muitos também
não percebiam. Naturalmente nós que participamos na luta tínhamos outra
opinião. Desde que Portugal conquistou a nossa terra há umas centenas de
anos, tem-se verificado levantamentos esporádicos tendentes a libertar o
país do jugo estrangeiro. Muitos dos nossos avós recordam-se ainda das
lutas que travavam na altura em que os portugueses conquistaram a nossa
terra e quando vários países europeus partilharam o nosso continente.
Recentemente
vós fostes testemunhas dos massacres perpetrados pelos bárbaros
portugueses contra o nosso povo, pelo simples facto de desejar a sua
legítima liberdade. Alguns morreram lutando politicamente, e outros em
greves e outras formas de rebelião contra a exploração dos imperialistas
europeus. Mesmo agora temos recebido notícias de Moçambique segundo as
quais milhares de indivíduos se encontram presos pelo facto de
repudiarem o colonialismo português em Moçambique.
Em
poucos anos temos assistido a formação de partidos políticos tanto no
exterior como no interior de Moçambique, há apenas três meses que esses
partidos se fundiram num só movimento, o único até à data, a FRENTE DE
LIBERTAÇÃO DE MOÇAMBIQUE. Alguns de vós estarão ainda em dúvida sobre a
nossa capacidade de UNIÃO. Ora a vossa participação neste momento sob o
jugo do colonialismo português com milhares de indivíduos que se
encontram nas prisões, com os que estão prontos a lutar, com aqueles que
morreram nas minas, com todos aqueles que sofrem.
Nós
estamos ligados aos povos de Angola, Cabo Verde, da Guiné “Portuguesa” e
de São Tomé e Príncipe, que sustentam uma luta sangrenta. Durante o ano
passado foram mortos muitos patriotas angolanos, e hoje continuam a
ser. Nós estamos unidos aos povos da África do Sul e da Rodésia do Sul,
que ainda há poucos dias foram proibidos de exercer acção politica
legalmente. Estamos unidos aos povos de toda a África e a todos aqueles
que estão sob o jugo estrangeiro.
Ora os seus trabalhos não são mais do que uma parte do nosso esforço geral no sentido da libertação da África.
Assim,
pois, a libertação de Moçambique não terá nenhum sentido enquanto
houver povos africanos oprimidos. Por isso é também vosso dever
consagrarem-se totalmente a liquidação da dominação estrangeira do nosso
continente.
Temos
apoio de numerosos povos africanos e não-africanos. Tanganyika, que
está aqui representado, é um deles. Apresentamos os nossos sinceros
agradecimentos pelo auxílio que o Governo de Tanganyika nos tem
prestado.
Estamos
aqui reunidos para prepararmos o caminho que nos conduzirá à liberdade.
Hoje à noite mesmo formaremos as comissões necessárias ao bom andamento
dos trabalhos. Bom sucesso aos trabalhos do nosso I Congresso!
NOTA:
Discurso
retirado do livro “Datas e Documentos da História da Frelimo” de
Armando Muiuane (pág.16 e 17) sem referência de data, mas que se presume
ser a 23 de Junho de 1962, 1º dia do I Congresso.
Neste
discurso afirma Eduardo Mondlane que “Em poucos anos temos assistido a
formação de partidos políticos tanto no exterior como no interior de
Moçambique, há apenas três meses que esses partidos se fundiram num só
movimento, o único até à data, a FRENTE DE LIBERTAÇÃO DE MOÇAMBIQUE.
Pode-se
assim concluir que Eduardo Mondlane não foi fundador da FRELIMO (só na
véspera do Congresso se filiou na UDENAMO) e que a sua fundação não foi a
25 de Junho de 1962 mas “há apenas três meses” antes daquele dia.
Quem o afirma é o próprio Eduardo Mondlane!
Mais, na altura deste discurso Eduardo Mondlane ainda não era Presidente da FRELIMO.
(Fernando Gil, in MACUA DE MOÇAMBIQUE, com a devida vénia do Canalmoz)
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