Alocação dos recursos financeiros do Estado
Maputo
(Canalmoz) – Acentua-se a disparidade e discriminação na alocação dos
recursos financeiros do Orçamento do Estado para 2012, destinados a
apoiar os sectores sociais, nomeadamente a educação, saúde, água e
saneamento, e acção social a níveis provinciais. As províncias mais
pobres do País, Zambézia, Niassa, continuam a receber menos recursos do
Orçamento do Estado em detrimento daquelas províncias consideradas
estáveis em termos de recursos, Maputo, Sofala e outras.
O
preocupante é que essa situação deficitária impede a realização de
programas de assistência às necessidades básicas da população, deixando
mais uma vez desse modo a luta contra a pobreza como uma miragem.
Esta
constatação resulta de um estudo feito pela Fundação para o
Desenvolvimento da Comunidade (FDC) e o Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF), com apoio do Fórum da Sociedade Civil para os
Direitos da Criança (ROSC). O estudo, cujos resultados foram anunciados
ontem, em Maputo, visa chamar à atenção para a necessidade de uma
reflexão sobre a alocação dos recursos públicos para o bem-estar dos
grupos vulneráveis, com destaque para a Mulher e Criança, bem como
alcançar uma melhor compreensão do sistema de gestão de finanças
públicas no país, estimulando o debate público acerca do OE e das
decisões sobre as prioridades nas alocações financeiras no âmbito dos
esforços de redução da pobreza.
Consta
do estudo que as províncias com menor poder de compra, maiores índices
de pobreza e maior número de população continuam a receber menos
recursos que outras em situação de menos pobreza e menor população.
Segundo
o estudo, por exemplo, para a saúde a província de Zambézia recebe US$
15 Paridade de Poder de Compra (PPC), que corresponde à metade do que é
alocado à Maputo Cidade (US$ 30 PPC). No entanto, a Zambézia tem a maior
taxa de mortalidade infanto-juvenil no país, na ordem de 206 mortes por
cada 1000 nascidos vivos (MICS 2008), enquanto a Maputo Cidade tem a
menor taxa de mortalidade infanto-juvenil (103 mortes por cada 1000
nascidos vivos, MICS 2008). Sabe-se ainda que a província da Zambézia
(Centr-Norte do país) tem o triplo da população de Maputo-Cidade (sul do
país).
O
estudo monstra também que os custos de funcionamento da saúde têm
crescido significativamente, particularmente ao nível dos distritos,
onde o orçamento das Secretarias Distritais de Saúde, Mulher e Acção
Social aumentou em 66% desde 2011. No entanto, não está claro como estes
fundos serão gastos, ou seja, se cobrirão despesas administrativas
(Salários? Novos funcionários?) ou se são aplicados em actividades mais
específicas, mais concretas e mais práticas.
Educação em alta e acção social baixa
Dos
4 sectores sociais básicos analisados (Sector de Educação, de Saúde, de
Água e Saneamento e Acção Social) o Sector da Educação aparece como o
sector com a maior alocação, estimada em 18% do envelope total de
recursos do OE, ou seja, 6.2% do PIB. Embora em termos relativos, a
Acção Social tenha uma “fatia” que permanece pequena relativamente ao OE
total (1.1%), este sector teve alguns ganhos substanciais em 2012.
Narciso
Matos, director Executivo da Fundação para o Desenvolvimento da
Comunidade (FDC), falando na ocasião da apresentação os resultados do
referido estudo, reconheceu dificuldade para compreensão documento sobre
Orçamento do Estado. No entanto, a fonte defende que o mesmo documento
contém informação importante pelo que deve ser de conhecimento de todo
cidadão, até mesmo pela população menos escolarizada. “Todos nós devemos
saber como os recursos públicos vão ser gastos. Este dinheiro é nosso.
Nós pagamos impostos. Então é de nosso interesse saber para onde estes
recursos vão”, disse Narciso Matos.
Para
este ex-reitor da Universidade Eduardo Mondlane os resultados do
“estudo” ora apresentados visam sobretudo simplificar a informação do
Orçamento e outros instrumentos de planificação para ajudar a melhor
compreensão pública e contribuir para tornar a informação mais acessível
e amigável ao leitor em geral. (António Frades)
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