Com incidência na cidade de Dresden, Estado de Saxónia
A Embaixada moçambicana na Alemanha apela a todos os moçambicanos que viajam para aquele país a contactá-la para se informarem dos locais onde podem frequentar e os que devem evitar.
Os cerca de 160 moçambicanos que residem no Estado de Saxónia, cidade de Dresden, na Alemanha, dizem ainda sentir na pele actos de racismo e xenofobia perpetrados por cidadãos alemães. Apesar disso, os nossos compatriotas - como é o caso de Emiliano Chaimite, de 49 anos de idade e natural de Quelimane, que reside na Alemanha há 25 anos - garantem que a solução não é virar as costas, mas enfrentar a situação.
Chaimite trabalha num hospital público em Dresden como enfermeiro cirurgião. Exerce igualmente as funções de presidente do Sindicato de Trabalhadores Estrangeiros na Saxónia, e é ainda membro do maior sindicato da Alemanha, a GBD. Conforme contou ao “O País”, o racismo sente-se até dentro dos sindicatos. Numa pesquisa recente, efectuada pela GBD, conclui-se que 13% dos sindicalistas eram racistas e xenófobos. Por isso, Chaimite diz que “a minha missão aqui na Alemanha é combater estes males. Se um dia eu sair daqui, será o dia da grande vitória para eles e eu não quero dar-lhes essa vitória, mas, sim, convencê-los que nós, os negros e estrangeiros, somos iguais a eles”, disse.
Um município com um histórico de racismo
O racismo em Dresden já foi muito crítico, principalmente, nos anos 90 do século passado, logo a seguir à queda do muro de Berlim. Aliás, foi nessa altura que um grupo de jovens da extrema-direita atacou, mortalmente, o cidadão moçambicano Jorge Gomandai, que hoje é símbolo da luta contra o racismo e xenofobia na Alemanha, tanto mais que o Conselho Municipal de Dresden atribuiu seu nome a uma praça no centro da cidade.
A cada 6 de Abril, dia da sua morte, a cidade pára para celebrar a sua morte, reunindo todos os movimentos e partidos da esquerda. Para além de ter sido instituído um torneio de futebol, disputado pelas equipas do Estado de Saxónia, denominado Jorge Gomandai-Cup.
Entretanto, isso não é suficiente para acabar com a aversão aos estrangeiros, muito menos a negros. Em todo o caso, os moçambicanos residentes na Saxónia comprometem-se a continuar a combater a mentalidade dos nativos daquela região.
Se é verdade que a xenofobia, muitas vezes, se relaciona com o desemprego e o custo de vida, então a luta será difícil, porque em toda a Saxónia existem mais de 400 mil desempregados, e a educação não está em condições de responder cabalmente às exigências do mercado de emprego, que é muito exigente, pois é basicamente de alta tecnologia. Os sindicatos estimam que 10% dos alunos que saem do ensino básico não conseguem concluir cursos técnicos-profissionais, ficando, por isso, muita gente sem qualificação para o emprego.
Outra razão que poderá agravar a xenofobia na Saxónia é a abertura, desde o 1 de Maio passado, do mercado de emprego da União Europeia (UE). É que isso significa que qualquer cidadão de um país-membro pode trabalhar em qualquer outro país da UE sem precisar de qualquer tipo de autorização e beneficiar dos mesmos direitos que os trabalhadores locais têm, facto que pode não ser tolerado pelos alemães.
A comunidade moçambicana revelou as suas preocupações a um grupo de 12 jornalistas provenientes de Moçambique, Brasil e Angola, que estão na Alemanha para um seminário que incluiu a visita aos principais jornais, revistas, televisões e rádios e correspondentes de principais media internacionais sediados em Berlim, Dresden e Hamburgo, centros históricos, e o Porto de Hamburgo - o terceiro maior da Europa.
Refira-se que este grupo também foi alvo de alguns pronunciamentos xenófobos por parte de um grupo de jovens, em Dresden. Os tais jovens pronunciaram uma palavra em alemão, que significa “macacos”, em clara alusão aos quatro negros que fazem parte do referido grupo de jornalistas, e por terem, também, percebido que o grupo falava uma língua que não era alemã.
A xenofobia e o racismo preocupam, igualmente, as autoridades municipais de Berlim. Franz Schulz, vice-presidente do Conselho de Kreuzberg, parte de Berlim que acolhe emigrantes, diz que apesar de Alemanha albergar estrangeiros há mais de 30 anos, o seu povo ainda não consegue conviver com culturas diferentes.