Ao impor descontos aos funcionários públicos para o seu X Congresso
Maputo
(Canalmoz) – O caso das “doações” compulsivas, ou descontos coercivos a
que estão a ser forçados os funcionários públicos para contribuírem
para as despesas do X Congresso do Partido Frelimo, marcado para Outubro
do corrente ano em Pemba, definitivamente veio, mais uma vez, destapar o
véu e mostrar que o partido Frelimo tornou-se uma associação para
delinquir e de gente abusadora que se mantém impune apesar de termos um
Estado estruturado e com instituições para impedirem a canibalização do
País e a extorsão dos cidadãos.
O que o Partido Frelimo está a impor através do Estado, é crime. É roubo. Chamemos os bois pelos seus nomes.
Sendo
uma entidade de direito privado registada como qualquer outra
associação, ao usar e abusar do Estado, confundindo os seus programas
privados com o próprio Estado, sem que a Procuradoria da República tome
as convenientes e pertinentes medidas para pôr termo ao abuso em curso,
mostra-se bem que aos cidadãos não resta Estado para recorrerem pois as
acções dos delinquentes partem, comprovadamente, de dentro do próprio
Estado.
Um
diário da nossa praça, veio esta semana a público com provas
inequívocas de que a Educação está a obrigar os funcionários públicos a
contribuírem para o X Congresso do Partido Frelimo. E não tardou que
todos perdessem o medo e começassem a ligar para nós também aqui no
Canalmoz e Canal de Moçambique a denunciarem casos idênticos que estão
em curso em variadíssimas repartições do Estado, em diversos
ministérios, em diversos sectores da administração pública.
Gente
que é suposto ter carácter e respeito pelo que deveria estar a fazer na
Procuradoria Geral da República aparece-nos, entretanto, silenciosa e
em atitude passiva dando sinais evidentes da cumplicidade com o partido
Frelimo cujos abusos em tempos não muito remotos já levaram os cidadãos a
recorrerem à violência para fazerem valer os seus pontos de vista na
falta de instituições capazes de impedir abusos da mais variada ordem.
Os
abusos, seja quem for que os pratique, devem merecer pronta resposta da
Procuradoria Geral da República, mas tudo indica que o “cartão
vermelho” do partido Frelimo pesará mais do que a lei e as consciências
dos magistrados, dando eles sinais de que estamos entregues a cúmplices
dos assaltos a que funcionários públicos estão a ser sujeitos se nada
fizerem que faça jus à suas atribuições como magistrados do Ministério
Público no âmbito do mesmo Estado.
Cidadãos
que não têm instituições a quem recorrer perante a comprovada burla e
extorsão a que o Partido Frelimo está a sujeitar os funcionários
públicos ao obrigá-los a descontarem dois por cento dos seus salários,
todos os meses e durante seis meses até ao seu X Congresso, o que
poderão fazer?
Em
qualquer parte do mundo já alguém estaria na cadeia por estar a usar o
Estado para efectuar cobranças coercivas para uma instituição de direito
privado, estando simultaneamente a roubar os já de si magros salários
dos funcionários.
O
que irá fazer a Procuradoria Geral da República perante a prova evidente
já publicada por um órgão de imprensa nacional, mais concretamente O
País? Vai fingir que não é nada? Vai calar-se porque às tantas também
ela própria está a permitir descontos nos vencimentos dos seus
funcionários e magistrados?
Usar
o Estado para efectuar cobranças para o X Congresso do Partido Frelimo,
embora se trate do partido que está incumbido da governação do País, é
normal?
O
episódio que nos foi dado a ver sobre as cobranças coercivas aos
professores do distrito de Murrupula alegadamente para suporte das
despesas do X Congresso do partido Frelimo vem mostrar que a Frelimo
continua a fazer e desfazer do Estado para o qual todos contribuem,
independentemente da sua filiação partidária. Até aqueles que não são
membros de qualquer partido estão sujeitos aos abusos.
Estar no poder não significa que esse partido possa fazer uso do Estado a seu bel-prazer.
Estar no Poder não permite que quem está no poder faça uso do Estado para fins particulares.
O
erário público não pode ser assaltado desta maneira, com os custos
administrativos do processo de cobrança a correrem por conta do Estado
mesmo se de donativos voluntários se tratasse – o que nem sequer é o
caso.
O
partido Frelimo, objectivamente, não pode continuar a extorquir a
pessoas. Não pode continuar a assaltar os magros bolsos dos funcionários
públicos. E não pode usar o Estado e colocá-lo ao seu serviço.
Em
Murrupula, foi a Direcção Distrital da Educação Juventude e Tecnologia
que se encarregou de obrigar os professores a pagarem as despesas do
Partido Frelimo e a deixar cair as evidências.
A
ilegalidade está patente no gesto. O Estado a recolher contribuições
para suportar um partido é crime, só por si. Alguém deve responder por
isso, ou então o Senhor Procurador Geral da República que se demita por
ser um fracote sem carácter.
A
PGR não pode continuar a fingir que faz. A PGR obedece a uma hierarquia
vertical. O que não faz é da responsabilidade exclusiva do Procurador
Geral da República. Este princípio tem de ficar claro. Se nada se fizer é
só por culpa de Augusto Paulino. O vendido é ele se a PGR não agir. A
ele cabe por ordem na administração pública e não só valendo-se apenas
da Lei. Que não nos venha dizer que não há lei que permite punir quem
usa o Estado para extorquir dinheiro aos cidadãos para uma entidade
privada.
A
Constituição, inclusivamente, está a ser violada pelo Partido Frelimo. O
direito à liberdade política dos cidadãos foi, está a ser violado, não
só no caso dos professores, como de todos os funcionários públicos.
Alguém
tem de por termo, urgentemente, ao comportamento vergonhoso do Partido
Frelimo sob pena de se legitimar a desobediência civil.
A
Avaliação do Mecanismo Africano de Revisão de Pares o MARP, já havia
chamado à atenção para o facto de nos últimos anos os dirigentes do
partido Frelimo terem voltado a não saberem separar o Estado do Partido
Frelimo. Pensam que ainda estamos nos tempos do partido único em que à
força de armas de guerra se subjugou todo um povo até se chegar ao ponto
de nos vermos envolvidos numa tremenda guerra civil.
Custa-nos
crer que a decisão de obrigar os professores a contribuírem com 600
meticais cada um para pagar o Congresso ao Partido Frelimo, tenha sido
concebida pelos próprios professores. Só por si, os professores ganham
tão mal e vivem em condições tão degradantes, muito por culpa desse
mesmo partido que teima em estar no poder há mais de 37 anos sem trazer
mudanças, que é de todo impossível acreditar-se que haja também nas
cobranças algum voluntarismo.
Custa-nos
sinceramente a acreditar que a decisão não tenha vindo do próprio
partido Frelimo de que é presidente o também presidente da República e
de que faz parte o primeiro-ministro e os ministros.
É absolutamente ingénuo alguém procurar explicar o sucedido em Morrupula como algo localizado.
Dezenas
de telefonemas que recebemos na terça-feira, dia 21 de Fevereiro, dia
em que a prova documental de Morrupula foi denunciada pelo O País –
permitiram-nos concluir que o Partido Frelimo, em todos os ministérios
está a fazer o mesmo. Até em Maputo. Não é só em Morrupula. Em todas as
repartições públicas os funcionários estão a ser obrigados a pagar o
“dízimo” ao Partido Frelimo. O assalto está a acontecer por todo o lado,
tal como se usa o Estado para fazer cobranças de quotas para o Partido
Frelimo.
Um
Estado obrigado a ajoelhar-se perante o partido no poder; um Estado
manipulado por quem está no Poder, merece continuar a ser obedecido?
Quem usa as suas instituições do Estado para delinquir pode exigir que
continuem a ter-lhe respeito?
O
presidente do partido Frelimo que no governo não paga a um professor e a
tantos outros funcionários o suficiente para lhes dar dignidade, alguma
vez poderá continuar a falar de auto-estima depois de se conhecer a
extorsão em curso contra os servidores públicos?
Obrigar
o professor e os demais funcionários públicos a não comprarem pão para
os seus filhos porque tem de pagar a água mineral que o presidente e os
delegados ao congresso da Frelimo vão beber, é acto que possa alguma vez
passar impune?
Quem põe termo aos abusos que a autêntica associação de malfeitores está a praticar quando faz do Estado a sua machamba? (Canalmoz / Canal de Moçambique)
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