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VOA News: África

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A luta pelo poder no partido Frelimo está difícil…

Editorial
A luta interna no Partido Frelimo está difícil de gerir para quem insiste em querer manter-se no poder na instituição – exposto ou na sombra. A pretensão de se manter no poder em Moçambique, nem que isso passe por uma violação flagrante da Constituição, uso de prorrogativas conseguidas de forma inquinada, ou outros expedientes, está mais do que claro para quem está no topo da hierarquia como para todo o grupo que dele emana e viu quais poderão ser as consequências de sair do centro de decisão, tal o exemplo do que sucedeu ao “grupo” de Chissano, embora para já, obviamente, se esteja só a falar de poder ao nível do partido.
Dos mais diversos quadrantes continuam a chegar-nos informações que confirmam que o ambiente interno na Frelimo atingiu um nível de crispação tal, entre as mais variadas correntes, que qualquer veleidade de se pretender fazer crer que este partido político pode continuar a arvorar-se o garante da estabilidade no País, não passa já de retórica barata e inconsistente.
As mais recentes abstracções, asseguram-nos várias fontes, apontam para que no congresso do Partido Frelimo, agendado para Pemba este ano, o mais provável é vir a decidir-se que caberá ao novo Comité Central que nele se formará, designar o candidato às presidenciais das Eleições Gerais de 2014, bem como quem deverá dirigir a organização partidária até ao congresso seguinte da organização que sucedeu, a 03 de Fevereiro de 1977, à extinta Frente de Libertação de Moçambique quando nessa data pôs termo ao amplo movimento nacionalista que foi criado por moçambicanos de várias origens, etnias, credos e ideologias, a 25 de Junho de 1962, em Dar es Salaam, para combater o colonialismo e permitir a proclamação da República em Moçambique.
Estava-se na altura no tempo de Samora, o senhor “todo-poderoso” que ninguém ousava desafiar.
A vir a confirmar-se a mais recente artimanha engendrada para se impedir desta vez que o “Pacto de Nanchigwea” seja cumprido no espírito e na letra, de forma a, sobretudo, afastar a possibilidade de Alberto Chipande vir a ser o próximo presidente do Partido Frelimo na linha de precedência convencionada nos anos sessenta para se pôr termo aos graves problemas que ocorreram no seio do movimento quando a corrente militarista se começou a impor e a expurgar os outros grupos que se perfilavam contrários a um alinhamento com Moscovo e Pequim, quando ainda decorria a luta de libertação pela auto-determinação e independência, as consequências disso poderão vir a ser desastrosas.
Impedir-se que Chipande chegue ao topo da hierarquia do partido e impedir sobretudo que essa decisão seja tomada no seio da sua comunidade étnica, em pleno X Congresso em Pemba, num momento em que Cabo Delgado começa a assumir importância sem precedentes no contexto dos recursos e oportunidades económicas do País, parece ser antes de mais a principal preocupação de quem via antes nesse influente militar na reserva a solução para grandes problemas como sucedeu aquando da sucessão de Samora.
Hoje, Chipande poderia significar o retorno ao centro das grandes decisões do grupo mais tendencialmente favorável a Joaquim Chissano, o “cunhado” adequado para se perspectivar o retorno ao projecto liquidado na Matola aquando da ascensão de Armando Guebuza ao cargo de Secretário-Geral do partido e convertido em candidato à Presidência da República num duríssimo golpe ainda hoje mal digerido pelos seguidores do ainda presidente honorário do partido Frelimo.
E na perspectiva de Chipande, vir a tornar-se o presidente do Partido Frelimo não só se quebraria o “enguiço” segundo o qual esta organização política só pode ser dirigida por originários de Gaza ou Maputo – facto que só a história pode confirmar – como ainda se abriria espaço para o zambeziano Hélder Muteia regressar ao contexto que Chissano se preparava para criar quando foi empurrado pelos seus camaradas adversos – pelo menos teoricamente – ao “deixa andar”.
Fica assim aberto mais um cenário com fortes possibilidades de estar a alimentar jogadas altamente sofisticadas que, sem dúvida, ajudam a que o Partido Frelimo se apresente cada vez mais retalhado e fragilizado, para uns, e pujante para outros frustrados com a concentração de oportunidades numa única pessoa e seus mais directos acólitos.
Estas hipóteses são para já meras equações a não deixar de parte quando este ano promete vir a ser muito animado pelo que o Partido Frelimo ainda nos possa vir a permitir ver… Certo é que “nem tudo o que luz é ouro”…
Canal de Moçambique – 15.02.2012

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